Como detetar um passivo-agressivo?

Texto de Sara Dias Oliveira

Aquela mãe que diz à filha para sair à noite, para se divertir, para aproveitar a juventude, mas não sem fazer notar que não vai dormir enquanto ela não chegar, que se mata a trabalhar e que o dia seguinte vai ser horrível. E insiste que a filha saia.

Aquele colega de trabalho que não confronta ninguém diretamente e que na hora de comunicar uma reunião importante não inclui propositadamente alguns nomes na lista de e-mail. E depois faz cara de inocente quando é confrontado com o “esquecimento”.

Aquele amigo, normalmente pontual, que nunca chega a tempo quando é você a escolher o filme, o restaurante ou o bar para uma noite divertida.

Ser passivo agressivo não é uma patologia, é um traço de caráter, um modo de funcionamento da personalidade.

São os passivo-agressivos. Bonzinhos por fora, não fazem nada por mal, se não corre bem é porque não perceberam. Maldosos por dentro na versão de vítimas.

Não é uma doença, é um traço da personalidade. «Não é uma patologia, é um modo de funcionamento», explica a psiquiatra Ana Matos Pires, diretora do serviço de Psiquiatria da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, em Beja, e professora na Universidade do Algarve. É uma agressividade paradoxal, dissimulada, rasteira.

Os passivo-agressivos não gritam, não batem, não partem coisas para exteriorizar a sua fúria e angústia quando alguma coisa corre bastante mal. «Têm uma postura motora de aparente passividade, mas usam essa passividade de uma forma agressiva. É uma agressividade plástica», refere a psiquiatra.

Há comportamentos que saltam à vista

  • Vitimização
  • Teimosia
  • Ressentimento
  • Azedume
  • Falhas deliberadas e repetidas para atrasar ou impedir pedidos ou tarefas.

Os passivo-agressivos não dizem que não fazem uma determinada tarefa quando estão à mesa das reuniões, só que depois não mandam fazer, não fazem e colocam em causa compromissos assumidos. É também habitual deixarem as coisas pela metade, está quase, quase, só que o trabalho nunca aparece pronto.

Não é fácil detetá-los, mas há formas de lidar com os passivos-agressivos. A psiquiatra Ana Matos Pires aconselha o confronto. Chamar a atenção, falar sobre o assunto, explicar que não é possível sistematicamente dizer uma coisa e fazer outra.

O relógio é um fardo, os atrasos são deliberados e sem explicações compreensíveis, normalmente não elogiam e quando o fazem essa apreciação vem sempre acompanhada por uma frase desagradável que abala qualquer elogio. Alguns usam o insulto disfarçado, até parece que o que dizem é uma coisa boa, mas há sempre um «mas» que estraga a conversa. E o silêncio, por vezes, é uma estratégia, quando essa falta de comunicação pode ser vista como uma provocação.

Eles andam aí, por vezes, não é fácil detetá-los, mas há formas de lidar com eles. Se esse traço de personalidade for uma constante há acompanhamento psicoterapêutico para quem quer tentar melhorar. Ana Matos Pires aconselha o confronto. Chamar a atenção, falar sobre o assunto, explicar que não é possível continuar sistematicamente a dizer uma coisa e a fazer outra. E pode ser que as coisas mudem.