Astrónomos vs Astrólogos: o que é que cada um vê nas estrelas

Notícias Magazine

Texto Catarina Guerreiro

«A astronomia é uma ciência, a astrologia é uma crendice», começa por dizer André Moitinho de Almeida, presidente da Sociedade Portuguesa de Astronomia, explicando que os astrónomos baseiam a sua atividade em métodos científicos, estando sempre a questionar tudo para validar as descobertas, enquanto os astrólogos acreditam nas teorias de antepassados, sem duvidar.

André Moitinho de Almeida é astrofísico, doutorado pela Universidade de Granada, é professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e investigador do Centro Multidisciplinar de Astrofísica. Entre as suas investigações, destaca-se a descoberta de grandes extensões dos braços espirais da Via Láctea. Tem 50 anos e é presidente da Sociedade Portuguesa de Astronomia. [Fotografia de Orlando Almeida/Global Imagens]

Para a astróloga Isabel Guimarães, que lidera a Associação Portuguesa de Astrologia, o importante não é o rótulo de ciência. «É indiferente se consideram que a astrologia é ou não uma ciência. A astrologia está comprovada, até pela história, e isso é que interessa.»

Para o astrofísico, a ideia de que os planetas interferem no comportamento e caraterísticas das pessoas ou influenciam o seu destino «não faz qualquer sentido», enquanto para a astróloga essa influência é real.

Isabel Guimarães
Isabel Guimarães é astróloga, consultora, formadora e autora de vários livros, entre eles o Guia de Orientação Astrológica para o Desenvolvimento da Compreensão Humana. Tem 44 anos e é presidente da Associação Portuguesa de Astrologia e vice-presidente da Sociedade Internacional para Pesquisa Astrológica. [Fotografia de Leonel de Castro/Global Imagens]
Isabel explica que a astrologia se baseia em cálculos matemáticos que partem da posição dos planetas em relação à Terra e diz que existem vários estudos que o provam, como o de Michel Gauquelin, que analisou 5500 mapas astrais e comprovou a correlação entre as caraterísticas de cada planeta e de cada signo.

«E esse alegado estudo foi feito como?», questiona André Moitinho de Almeida. «Não basta uma pessoa dizer que há certeza para se validar. Tem de ser um estudo rigoroso e seguir os métodos científicos e isso não existe.» Isabel Guimarães tem noção de que os astrónomos não gostam das ideias dela e dos colegas. Umas vezes, diz, é por falta de conhecimento, outras, acredita, tem que ver com a falta de regulamentação no país, que abre campo a aldrabões que se dizem astrólogos e prometem adivinhar o futuro. «Nós não fazemos adivinhação, apenas previsões, como sucede com os meteorologistas ou com as estatísticas económicas».

A verdade é que, em tempos, a astrologia e astronomia eram só uma. Antes olhava-se para o céu e todos tentavam perceber o que se passava.

André Moitinho de Almeida prefere fazer outra comparação e afirma que a astrologia está para a astronomia como a alquimia está para a medicina. A verdade é que, em tempos, as duas eram só uma. Dantes olhava-se para o céu e todos tentavam perceber o que se passava. «As pessoas julgavam que um cometa era mau presságio, por exemplo», recorda. Depois, no século XVI, as duas separaram-se e hoje analisam aspetos totalmente diferentes. «A nossa base foi a astronomia. Eles estudam o que está nos céus. Nós, astrólogos, analisamos a correlação dos planetas com os 12 signos que se encontram numa faixa fixa com trinta graus à volta da Terra e as mudanças que provocam», explica Isabel.

André insiste porém que, para si, a diferença é outra: a astrologia «é uma crendice». E garante que, se houvesse alguma evidência de que os planetas interferem no comportamento e na vida das pessoas, os astrónomos estariam a estudar o fenómeno. Respondendo a este ceticismo, Isabel Guimarães refere que a história mostra que tudo tem influência no ser humano, nomeadamente o clima. «Uma das bases da astrologia são exatamente as estações do ano.»

O astrónomo aceita que «o tempo meteorológico possa ter efeito sobre o humor», mas «daí a dizer que determinam a nossa personalidade, é algo que teria de ser estudado». As únicas interferências dos planetas que chegam à Terra, garante, são a luz, a gravidade, os neutrinos e os raios cósmicos. «E chegam tão fracos que não têm efeito nenhum, a não ser poderem ser apreciados.» Para os astrólogos, os planetas transportam até à Terra muito mais do que isso. «Para nós, trazem mensagens de prevenção, de orientação», defende Isabel Guimarães.

Com tanta diferença, há alguma coisa em comum entre astrónomos e astrólogos? André Moitinho de Almeida pensou e lá descobriu: «Somos ambos fascinados pelo céu.»