Melhor amigo de uma criança? É o animal de estimação, não os irmãos

animais de estimação
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Beatriz Silva, de 5 anos, tem um gato malhado que a deixa tratá-lo como um peluche, cheia de instintos maternais. «Fomos buscar o Kiko quando tinha três meses, a uma ninhada em risco, e foi amor à primeira vista entre os dois», conta Marina Silva, a mãe, fascinada com esta relação sólida. O fenómeno repete-se de tal maneira noutras casas, ligando profundamente os miúdos aos seus animais de estimação, que uma equipa de cientistas da Universidade de Cambridge o analisou para concluir agora que não, não são os irmãos os melhores amigos de uma criança. É com o seu pet que ela mais gosta de estar. O facto de o bicho não falar nem perceber o que lhe é dito só o torna ainda mais apetecível, já que os pequenos donos não se sentem julgados aos seus olhos.

«O Kiko fez há pouco 3 anos e adotou a Beatriz ao ponto de deixá-la fazer dele gato-sapato sem se assanhar.» A menina senta-o na cadeirinha de comer, faz chás de bonecas, dá-lhe banhos na banheira do Nenuco. À noite, espera que se enrosque na cama aos seus pés antes de conseguir adormecer. De dia, o gato segue-a como a própria sombra. «Quando chega do infantário ou de casa dos avós, Kiko é o primeiro nome que a Bia chama, a saber onde está.» Não é o de Gabriel, seis anos mais velho do que a irmã, nem tão-pouco o da prima da sua idade, com quem se dá lindamente. «A insistência dela em tratar o gato como um bebé não o incomoda minimamente. São inseparáveis.»

Teresa Andrade, psicóloga clínica e investigadora em pedagogia, confirma que um animal de estimação pode, de facto, ser o melhor amigo de uma criança, com sentimentos idênticos aos de uma amizade entre humanos, independentemente do que as pessoas queiram chamar a este vínculo. «Pela natureza próxima da relação, são como familiares muito chegados», diz. Os cães, sobretudo, veem-nos como familiares e estabelecem uma relação profundamente afetiva com os seus seres humanos. «Ajudam as crianças a socializar e a ganhar maturidade.» A ultrapassar a solidão, caso exista, proporcionando-lhes um afeto incondicional de que nenhum irmão é capaz.

E os efeitos terapêuticos de um animal de estimação vão mais longe: «Uma criança que aprenda a cuidar de um ser vivo irá facilmente tratar melhor os seus semelhantes. Se tem problemas de aprendizagem ou socialização, ler e falar para um animal ajuda a desenvolver a confiança, por serem atentos e não fazerem juízos de valor», explica Gonçalo da Graça Pereira, veterinário comportamentalista e presidente da PsiAnimal – Associação Portuguesa de Terapia do Comportamento e Bem-Estar Animal.

Um estudo publicado em 2012 pelo Journal of Personality and Social Psychology concluiu que os animais podem compensar a negatividade de experiências de rejeição tão bem quanto um melhor amigo humano. Ajudam ainda a melhorar o sistema imunológico, a autoestima, a capacidade motora, a expressão de sentimentos e o bom humor. Outro estudo da Universidade Carroll, no Wisconsin, EUA, sugere ainda que o animal de estimação preferido tem relação direta com a personalidade do dono: amantes de cães tendem a ser mais sociáveis e enérgicos, a seguir mais regras, ao passo que aqueles que preferem gatos são mais inconformistas, introvertidos e sensíveis.

«Muitos animais demonstram ainda os seus sentimentos aberta e publicamente para todos verem», acrescenta Marc Bekoff, antigo professor de biologia evolutiva da Universidade do Colorado e autor do livro A Vida Emocional dos Animais (ed. Estrela Polar). «Os avanços científicos estão a validar o que já nos dizia a intuição: eles sentem alegria, tristeza, pena e muitas outras emoções, como nós.» A preferência pelos cães deve-se ao facto de serem altamente sociais, com um vínculo incontestável ao dono e capazes de nos interpretarem melhor do que nós a eles. «São amigos de vida incríveis. A alguns só lhes falta falar», garante Teresa Andrade. O que nos leva a pensar que não há como os animais para ensinarem as crianças – para nos ensinarem a todos – a serem melhores pessoas.