Têm filhos pequenos? Então isto vai continuar a acontecer convosco

Notícias Magazine

 

Vão continuar a ser uns chatos monotemáticos. Passaram uma data de tempo sem sair. Ou a sair pouco. Das vezes que conseguiram, bocejaram o tempo todo por causa das noites mal dormidas que os filhos deram. Mas os anos passaram, os filhos cresceram e chega o dia em que vão jantar fora. Não como antigamente, que a alvorada com crianças é às sete da manhã, mas uma coisa suficientemente louca para chegarem a casa às duas. Vão sair com adultos, para um jantar de gente crescida que falará de outros assuntos que não sejam biberões, doenças, fraldas e preço das roupas infantis. Vão finalmente ter uma noite longe dos filhos. E do que é que vão falar o tempo todo? Dos filhos.

Vão continuar a chegar atrasados a jantares. Aconteceu muitas vezes nos últimos anos, vai continuar a acontecer nos próximos. Estão a ver as vossas manhãs, quando se querem despachar para levar os miúdos à escola e seguir para o trabalho e, mesmo antes de saírem de casa, um deles grita «cocó»? Ou faz uma birra porque quer levar a pista de carrinhos? Ou desata num berreiro porque quer um totó assim ou um rabo-de-cavalo assado ou insiste em levar sandálias no inverno? Quando se trata de sair para um jantar, é a mesma coisa. Vocês arranjaram a tia, o avô, a babysitter para ficar com eles, fizeram o jantar preferido, avisaram-nos com antecedência, prepararam tudo. Mas à última hora haverá uma coisa urgente que requer a vossa atenção. E vão chegar atrasados. Virá o dia em que chegarão a horas a jantares de grupo.

Vão continuar a dizer que vão, mas em cima da hora desmarcam. E por vezes até vão ter de pagar o jantar que não vão comer, porque o aniversariante se comprometeu com o dono do restaurante para aquele número de pessoas e, se falta alguém, azar. Porque um dos filhos adoeceu. Ou o outro, que até já estava bom da varicela, agora tem uma farfalheira e está a cuspir os pulmões. Ou aquela dor de ouvidos que anda cá e lá, acalmada a ben-u-ron, vai-se lembrar de evoluir para otite no dia do jantar planeado há um mês. Esqueçam isso do «marcado com antecedência». As doenças dos filhos estão-se nas tintas para a vossa agenda.

Vão continuar a ver os amigos apenas nos aniversários dos filhos. Um pequeno conselho: não se comprometam com os amigos a ver-se com mais frequência, nos intervalos dos aniversários dos filhos uns dos outros, sempre que estão a despedir-se no final de uma festa. Evitem essas garantias de que vão mesmo combinar alguma coisa, nem que a vaca tussa. O mais certo é que a vaca tussa mesmo. A realidade mete-se pelo meio, não vão conseguir marcar nada e depois ficam frustrados. Claro que a esperança é a última a morrer e devem continuar a tentar. Mas mantenham o desejo alto e a expetativa baixa.

Vão continuar a ser convidados pelos amigos. Mesmo que só saibam falar dos filhos e a malta já faça turnos para aturar a memória cheia do vosso telemóvel com fotografias dos petizes, que vocês insistem em mostrar a toda a gente; mesmo que cheguem aos jantares em cima da sobremesa e nunca lá estejam para cantar os parabéns; mesmo que se baldem à última hora, apesar de terem jurado que desta vez não o fariam, mesmo que só se lembrem dos amigos quando os convidam para as festas dos vossos filhos; mesmo que eles pensem em deixar de vos convidar porque nunca se sabe com o que se pode contar da vossa parte… a verdade é que eles vão continuar a ser vossos amigos. Os que têm filhos e os que não têm (uns com mais paciência do que os outros).

Publicado originalmente na edição de 16 de abril de 2017.