1966: os emigrantes chegam à romaria

Texto de Ricardo J. Rodrigues | Fotografia de Arquivo JN

«Milhares de forasteiros na cidade de Lamego por motivo da secular Procissão de Triunfo.» O título da reportagem do Jornal de Notícias de 9 de setembro de 1966 dava conta de uma novidade: muitos emigrantes tinham voltado a Portugal e marcavam presença na romaria. E, se hoje esse é um fenómeno normal no interior do país, na altura era uma surpresa.

«Notou-se uma apreciável e até invulgar percentagem de estrangeiros-portugueses, ou seja, portugueses que trabalham em França, na Alemanha, na Suíça ou noutros países da Europa, mas que preservam o culto a Nossa Senhora.»

Até à década atual, os anos 1960 registaram os maiores números de emigração portuguesa. O recorde de 1966 só foi batido em 2012, quando 121 418 cidadãos abandonaram oficialmente o país.

Durante a década de sessenta, milhares de portugueses tinham saído do país. Segundo a Pordata, o recorde de emigração foi batido precisamente nesse ano. Em 1966, 120.239 cidadãos partiam do país com autorização do Estado e muitos mais faziam-se ao caminho a salto.

Fugiam da fome, da guerra e da ditadura. Mas no verão voltavam, e as aldeias que começavam a esvaziar-se reganhavam cor e ruído, histórias de um outro mundo, uma esperança que morava além dos Pirenéus.

A romaria da Senhora dos Remédios contava já com 400 anos de história – e sempre foi uma das maiores festas do país. Em 1966 juntou mais de cem mil pessoas, segundo o JN, e todos os anos continua a atrair peregrinos, pagadores de promessas, filhos da terra que organizam as férias para esta altura e muita gente das localidades em redor.