1935: Um elétrico para o proletariado

Texto Ricardo J. Rodrigues

Fotografia Arquivo DN

 

A medida teve honras de primeira página no Diário de Notícias de 2 de agosto de 1935. «Elétricos para os operários: começaram ontem as carreiras a preços reduzidos». Várias fotografias ilustravam a enchente que acorrera aos transportes.

Para muitos trabalhadores lisboetas, era a oportunidade de trocar os passos matinais pela boleia, mesmo que ela acontecesse apertada. «Todos os carros utilizados nas carreiras, que começaram a sair às cinco da manhã em direção à Ajuda, tiveram as lotaçc̃es esgotadas, motivo por que saíram mais 19 carros extraordinários na primeira manhã do novo serviço.»

O acordo entre a Câmara de Lisboa e a Carris – com bilhetes mais baratos, de uma zona, a custar 30 centavos – tivera com mentor Teotónio Pereira, subsecretário de Estado das Corporações e Previdência Social. Era um claro sinal da afirmação do novo regime. Salazar tinha assumido o comando do governo dois anos antes, depois da ditadura militar imposta em 1926 o ter catapultado como figura salvadora do país.

O salário mínimo foi o primeiro sinal de corporativismo do Estado Novo. O regime mediava as negociações entre os operários e os sindicatos, melhorava as condições coletivas ao mesmo tempo que reprimia as liberdades individuais, e assim afirmava-se para as décadas seguintes.

Para os operários lisboetas, o dia em que os elétricos começaram a funcionar a preços reduzidos parecia, apesar de tudo, um enorme alívio.