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Para os novos, os velhos são um aviso. No entanto, os novos estão muito ocupados com os seus assuntos e, mesmo que olhem, mesmo que ouçam, só raramente veem e escutam. Os adolescentes experimentam um cigarro pela primeira vez, sabe-lhes mal aquela fuligem e, disfarçando a tosse, convencidos da sua verdade, acreditam que nunca ficarão viciados. É num convencimento semelhante que os novos olham para os velhos, ouvem as sua queixas e acreditam sem motivo que o seu caso nunca será assim.

Um a um, os velhos foram esses novos. Os computadores e o respeitinho eram diferentes, talvez, mas a passagem do tempo tinha mais semelhanças do que a maior parte dos velhos tem vontade de assumir. Faltam cá os velhos desse tempo para falar destes velhos quando eram novos.

Em certos dias, de repente, o espelho causa grandes surpresas: um novo fechado dentro de um velho. Tantas coisas ainda iguais e, no entanto, onde está a elasticidade das pernas e da paciência? Como Cassandra, os velhos tentam alertar para a guerra de Troia, conhecem os detalhes exatos dessa devastação, mas os novos não querem saber.

Os velhos ignoram os novos com o mesmo desdém. No alto de um miradouro, quando os novos apontam para o futuro e o descrevem com tudo o que sabem acerca da esperança, os velhos desfazem essas palavras ainda no ar. Não escutam o que acreditam que já sabem e, de propósito, chamam ingenuidade aos sonhos que não são capazes de ter.

Para os velhos, os novos são uma ameaça. Como ousam fazer planos? Os adolescentes rejeitam tudo o que uma criança lhes possa ensinar, têm medo de ser confundidos com ela, têm medo de que os outros descubram que ainda são crianças. Os velhos ainda são crianças, os novos também ainda são crianças.

Aqui, neste momento, tão compostos, vestidos de acordo com a ocasião, também está quem fomos nas fotografias que escondemos no fundo das gavetas, também está um reflexo do futuro, pouco cabelo e pouca força. Estas mãos concretas, que fizeram carícias delicadas, que mediram o peso exato do toque, são as mesmas que irão tremer sem controlo, entregues a uma vontade alheia e invisível.

Todos somos velhos e todos somos novos, ao mesmo tempo, sempre.

[Publicado originalmente na edição de 14 de fevereiro de 2016]