Uma surpresa do tempo do Marquês

Duas arquitetas de interiores transformaram um apartamento pombalino na Baixa de Lisboa num espaço confortável e elegante, com respeito pela história.

O ano de 1755 continua a fazer parte da história de muitas casas lisboetas. Depois do grande terramoto que destruiu a capital, a arquitetura pombalina entrou em cena e mudou, para sempre, a imagem da cidade. As ruas de Lisboa transformaram-se e as casas também: «a partir desta data, a reconstrução teve de respeitar determinadas regras, como a estrutura de madeira tipo gaiola, com vigas horizontais e verticais travadas com diagonais» que dava aos edifícios «uma capacidade de absorção de energia sísmica, criando a resistência e flexibilidade necessárias», diz Alexandra Pecegueiro que, juntamente com Maria José Veríssimo, fez a remodelação de uma casa com estas características na Rua da Madalena, na Baixa.

Foi precisamente num edifício pombalino, com a incontornável gaiola, que Alexandra e Maria José descobriram uma verdadeira caixa de surpresas. Convidadas pelo proprietário a remodelar e redecorar todo o espaço, com o objetivo de o converter num apartamento turístico, preservaram e recuperaram o máximo de elementos originais. «O cliente concordou que era extremamente importante manter a traça antiga do imóvel, bem como a correspondência do seu interior», diz Maria José Veríssimo. O que não esperavam era encontrar tanto que valesse a pena preservar. Escondido sob uma camada de betonilha, removida entretanto, estava um soalho em casquinha.

A surpresa foi ainda maior quando, ao iniciarem as obras, descobriram nas paredes frescos e azulejos do século xviii, que os anos tinham coberto por jornais, papel de parede e móveis. «O espaço revelou-se uma autêntica surpresa para nós», diz Alexandra.

Decidiram recuperar os lambris percorrendo feiras e antiquários em busca de azulejos que pudessem ser coordenados com a época dos existentes. Já para os frescos, convidaram uma artista plástica que se encarregou da sua recuperação. Sem nunca esquecer a função pretendida para este apartamento, a dupla reestruturou o antigo open space, que servia de escritório, e converteu-o numa casa com três quartos, área de estar/jantar/cozinha e dois WC. Aos elementos originais aproveitados, somaram «um misto de mobiliário antigo e moderno», completado com peças como tapeçarias orientais, quadros de artistas modernos e outros apontamentos que, «no seu conjunto, embora de épocas diferentes, dão ao espaço uma unidade estética clássica e de grande conforto».