Tom Ford de novo no cinema

O rei da moda americana virou cineasta. Depois do surpreendente Um Homem Singular, volta aos ecrãs com o thriller moral Animais Noturnos, nos cinemas portugueses a 24 de novembro (com antestreia no Lisbon and Estoril Film Festival este domingo, 13). Em declarações exclusivas à Notícias Magazine conta que se torna melhor criador de moda quando filma e que o cinema é o seu verdadeiro bálsamo criativo. Talvez nunca largue as coleções, mas veio para ficar como realizador, sobretudo agora, quando já se aposta nele para os Óscares de 2017.

Há quem diga que é o mais ilustre dos cavalheiros americanos. Há quem o considere um dos maiores criadores de cultura pop contemporânea. Quando encontramos Tom Ford numa suite do chique Soho Hotel, em Londres, encontramos a imagem de marca: fato Tom Ford, óculos Tom Ford, perfume Tom Ford (sim, ele cheira muito ao seu próprio perfume) e um sorriso triunfante.

Desta vez não está na capital britânica para falar da sua marca, mas de Animais Noturnos, o seu segundo filme. E está feliz. O sorriso é genuíno. O filme venceu em Veneza o Leão de Prata, foi aclamado nos festivais de Londres e Toronto e está na rota dos Óscares.

Ao vivo, o maior criador de moda americano é um sedutor, de uma afabilidade tremenda, com um dom de comunicação invulgar, fala com um entusiasmo que contagia. Fala com as mãos, muda de expressões e olha-nos nos olhos. Quando lhe perguntamos qual é agora a prioridade, o cinema ou a moda, respira fundo «Sabe, gosto muito, mas mesmo muito de fazer filmes! Levo isto muito a sério… Sou designer de moda há 30 anos e, apesar de não ser fácil, habituei-me. Mas a verdade é que amo desafios, e quando os agarro, tudo na minha vida pessoal muda! Fico até mais criativo. Pode não acreditar, mas quando estou a fazer um filme torno-me melhor criador de moda. Sabe porquê? Porque fico feliz! Montei o filme aqui em Londres e no meu escritório tinha uma sala onde trabalhava na edição umas quatro horas diárias. Mal acabava voltava para a outra parte do escritório e dedicava-me à moda. Estava sempre entre um e outra e nem imagina como estava contente! Honestamente, estava melhor designer de moda naquela altura… Mas fazer um filme demora uns bons três anos, sobretudo se contarmos com o momento a partir do qual escolhemos o projeto. A vantagem da moda é que é mais rápida, e isso resulta para mim. Penso que poderia enlouquecer se não tivesse a moda. É difícil de dizer qual é a prioridade. Talvez, nesta altura, o cinema… não sei. O cinema é eterno. O que podes dizer no cinema não consegues nas roupas. Quando estava a rodar Um Homem Singular tinha medo de morrer antes de o acabar! Era tão importante para mim fazer um filme e aquele projeto era tão autobiográfico. Tinha muito que ver com aquilo que eu era naquela altura da minha vida.»

Em Animais Noturnos, adaptado do romance Tony & Susan, de Austin Wright, Tom Ford leva-nos para uma viagem com duas histórias. Primeiro, para o mundo de Susan, uma galerista abastada, perto dos 40 anos e que vive um casamento de fachada. Depois, para o romance que está a ler, precisamente escrito pelo seu ex-marido, onde somos confrontados por um conto de agressão e violação, um pesadelo texano que mete o imaginário do western e dos serial killers.

Duas intrigas que se cruzam e asfixiam o imaginário de Susan, incrivelmente interpretada por Amy Adams. Ford confessa: «A Susan sou um pouco eu. Ela é uma galerista e eu também. Como designer de moda, contribuo para a manutenção de uma sociedade de consumo. Isso também me causa um grande conflito… Penso muito nisso, penso muito no sentido da vida.» Talvez por tanto pensar nos milhões que dá a ganhar ao mundo da moda, não há muito tempo, terá passado por uma fase meio depressiva, conforme se contava na The Hollywood Reporter. Mas o cinema e o filho, que tem com o marido, o jornalista Richard Buckley, terão mudado tudo. Esta impressionante aclamação em torno de Animais Noturnos fá-lo ainda mais feliz: «claro que fico muito contente com todas essas críticas positivas. Só me faz confusão ler que algumas partes do filme são de uma beleza demasiado perfeita. Não queria que pensassem isso. É apenas o meu estilo.»

Nas muitas entrevistas que tem dado para a promoção de Animais Noturnos, Tom Ford não se esquece de lembrar que tudo mudou em função do filho, agora com 4 anos (nasceu quando tinha 51, tornando-o um dos pais gays mais badalados na América). A paternidade terá sido também o fator que o levou a uma pausa de sete anos no cinema.

À NOTÍCIAS MAGAZINE confessa que está ansioso que o filho cresça para ver Um Homem Singular: «Quando ele quiser saber quem é o pai, tem de ver este filme! Todas as pistas sobre mim estão lá.»