Somos todos americanos

Notícias Magazine

Em ano de eleições, sabemos todos um pouco mais sobre os Estados Unidos. E discutimos o nosso futuro.

Esta semana começou – a sério – a corrida para a Casa Branca. Sempre que há eleições nos Estados Unidos somos todos um pouco americanos. Também porque sabemos que o que dali sair irá afetar-nos. Como os americanos têm essa – excelente – tradição de transformar umas eleições para presidente num ano de discussão, festa e disputa, seremos um pouco mais americanos desde agora até novembro.

E aí estamos nós, envolvidos em sondagens, demografia, quem votará em quem. Já especialistas. Desta vez, as eleições têm de tudo para todo o tipo de pessoas, naquilo que a sua relação com os Estados Unidos as define. Há Trump para os antiamericanos. Há Ted Cruz para os que não sendo antiamericanos primários lhes odeiam os tiques conservadores, extrarreligiosos, a favor das armas e antiaborto. Hillary Clinton fica para os moderados, as feministas, os que adoram beber um caffe-latte-half-half-soya-milk numa esquina de Nova Iorque. E depois há Bernard Sanders para baralhar todos, com o seu progressismo que por lá se entende como socialismo, que por lá ainda tem o som de comunismo anterior ao fim da cortina de ferro.

Tudo isto com as nuances que ainda tornam a política divertida, e o fim dela longínquo – ao contrário do que nos fazia querer acreditar um tal de Fukuyama, ou, por cá, os arautos da antipolítica que tinham, até agora, em Belém o seu timoneiro. Como se viu agora nestas primeiras primárias. E vai continuar a ver-se.

Porque tudo se pode baralhar bem mais do que esperávamos. Hillary, a esperada Hillary, a preparada Hillary, pode ter dificuldades – como mostrou o Iowa. Tudo depende de quem for votar – é que, apesar de estar a ponto de fazer história, rompendo com esse famoso telhado de vidro de ter uma mulher na Casa Branca, Hillary faz parte da elite washingtoniana que está sob ataque nos novos tempos. E Trump pode, afinal, para espanto dos que o veem de fora, acabar por ganhar as primárias republicanas – dizem as sondagens que mais de 87 por cento dos americanos se identificam com as suas loucuras anti-imigração. E, tendo ultrapassado Cruz pela direita, ganhar com a clareza do seu discurso.

Está portanto tudo em aberto. E ainda bem. Porque é nestas alturas que mais se discutem as coisas, que mais se põem em causa ideias feitas. Preparem-se os que ficaram surpreendidos com as eleições em Portugal – ou, por falar nisso, em Espanha. Ponham as pipocas ao lume e tirem o pó do sofá nas próximas terças-feiras até novembro. O espetáculo está agora a começar.

[Publicado originalmente na edição de 7 de fevereiro de 2016]