Há romance no supermercado de Nuno Markl

Nuno Markl, Sérgio Godinho, Lúcia Moniz e André Nunes
Nuno Markl, Sérgio Godinho, Lúcia Moniz e André Nunes

Tudo começou numa separação e numa ida ao supermercado. Nuno Markl conta como nasceu Refrigerantes e Canções de Amor, comédia por si escrita e realizada por Luís Galvão Teles, em estreia nacional a partir de quinta-feira.

Mal acabou a projeção privada de Refrigerantes e Canções de Amor, na qual NOTÍCIAS MAGAZINE teve direito a infiltrar-se no começo de agosto, Lúcia Moniz, uma das atrizes do filme, esbarra com Nuno Markl e dá-lhe os parabéns. Markl está ainda a digerir o que acabou de ver e que chega às salas de todo o país na próxima quinta-feira.


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O filme, realizado por Luís Galvão Teles, autor de comédias como A Vida É Bela?! (1982) e Dot.com (2007), é o sonho concretizado para todos os que aspiravam a ver uma comédia romântica entre uma dinossaura cor-de-rosa e um compositor de jingles com dor de corno. Por outras palavras, da mente de Nuno Markl sai uma história de amor que começa quando um jovem músico (interpretado por Ivo Canelas), a contas com um desgosto de amor (a namorada, interpretada por Lúcia Moniz, trocou-o pelo seu ex-melhor amigo, interpretado por João Tempera) conhece num supermercado uma rapariga (Victoria Guerra) por quem se apaixona mesmo quando não consegue ver o seu corpo ou o seu rosto – ela está dentro de um fato de dinossauro cor-de-rosa para promover um refrigerante.

Pelo meio, ele vai falando com o seu amigo imaginário Jorge Palma, interpretado por… Jorge Palma, e começa a receber lições de engate em supermercado por um brasileiro mulherengo (Gregório Duvivier, da Porta dos Fundos), especialista em «carrinhologia», a arte de olhar para os carrinhos de supermercado e perceber com as compras que estão lá dentro as caraterísticas de cada um.

O filme tem música de Filipe Raposo, mas todos cantam, de Sérgio Godinho (que é também uma espécie de mau da fita, um Navalhas que é um romântico) a Lúcia Moniz, passando pelos próprios Tempera e Canelas, isto num supermercado onde até existe um DJ, interpretado por André Nunes (papel que chegou a ser pensado para o radialista Fernando Alvim).

Sérgio Godinho, que aceitou de pronto esta proposta de Galvão Teles, diz-nos igualmente no final da sessão que lhe dá sempre muito gozo experiências como ator: «Este papel então foi muito engraçado porque me permitiu mudar de registo. Fiquei todo contente quando o Luís Galvão Teles me pediu para o fazer, além da letra que escrevi para a canção do início do filme.» Markl olha para o ídolo e confessa: «É surreal ter escrito esta história e depois vê-la a ganhar vida com este superelenco. No caso do Jorge Palma, só poderia ser mesmo o Jorge Palma. Estava escrito assim.»

O argumentista também se congratula com o facto de uma das suas personagens ter ganho vida com Lúcia Moniz: «É a forma de eu estar a um grau de distância de Richard Curtis. » Refira-se que Curtis é o argumentista e realizador de O Amor Acontece, a comédia britânica em que Lúcia Moniz contracenava com Colin Firth, Emma Thompson e Hugh Grant. «O que é engraçado, Nuno, é que em ambos filmes falo português… Não é por estares aqui, mas juro-te que quando fiz a primeira leitura certos pormenores lembraram-me o Curtis…»

Galhardetes à parte, Markl e a equipa de atores falam do universo dos marklismos que atravessa esta comédia, ou seja, o humor de referência icónica, capaz de falar de pastilhas elásticas dos anos 1980 e coisas desse género. André Nunes, contudo, diz que depois de ver o filme sentiu algo mais: «Fiquei surpreendido pela componente emocional do filme. Quando li o argumento não tinha captado tão bem todo este lado sensível. É como se o Markl tivesse crescido emocionalmente, para além do imaginário iconográfico que já conhecíamos. Enfim, vais mais longe.»

Porque o herói romântico do filme nunca vê a cara da rapariga por quem está apaixonado, Markl afirma que Refrigerantes e Canções de Amor é o «blind date» definitivo.

Lúcia Moniz reforça ainda mais essa questão: «Devo dizer que senti muito esses momentos românticos. Fiquei a esboçar um sorriso miúdo a ver essas cenas tão românticas entre aquele par, ainda para mais com um cuidado estético tão bonito!»

Pelos vistos, assegura o guionista, o argumento é mesmo muito mais autobiográfico do que possamos pensar: «Quando me separei da minha primeira mulher dei por mim a pensar e a fazer o flashback da nossa relação. Lembrei-me do dia do casamento, das viagens que fizemos e de todos os momentos bons. Pensei: “Bem, isso está resolvido!” O problema deu-se quando fui pela primeira vez sozinho ao supermercado… Rodeado de papel higiénico e de coisas zero românticas, começo a pensar: “Este era o papel higiénico que eu escolhia com ela… e ali era a prateleira das nossas bolachas.” De repente, vi-me num supermercado, com um carrinho, a fazer uma rotina que durante anos fazia a dois. Foi aí que pensei: “Isto de estar sozinho é uma merda!” Então, fui para casa e em vez de me suicidar fui escrever. Acredito que todas as desgraças vão dar em comédia. Foi terapia. Pelo meio, li uma notícia sobre carrinhologia e pensei que essa técnica de engate poderia ser o meu futuro… Mais tarde, quando voltei a apaixonar-me, o argumento passou de algo muito negro para algo muito romântico. Foi aí que entrou a dinossaura», conta Markl, com o coração apertado. Neste final de agosto, o São Valentim volta de novo…