Quando a casa vai ao médico

Pensamos nas nossas casas como espaços de refúgio, sítios onde estamos seguros e nos rodeamos do que nos faz bem. Mas será mesmo assim? Ou poderão os lugares mais importantes das nossas vidas estar a prejudicar a nossa saúde e bem-estar?

Marcelina Guimarães, arquiteta de formação, e Miguel Fernandes, licenciado em Geografia, já conheciam o conceito de geobiologia. Mas foi apenas quando sentiram na pele os sintomas de uma «casa doente» que decidiram lançar-se em busca de respostas. Para além de dois abortos consecutivos, para os quais os médicos não encontravam justificação, «as constantes insónias, as dores de cabeça matinais e frequentes que diminuíam com o decorrer do dia e o acordar mais cansados do que quando nos deitávamos» foram sinais de alerta que motivaram a procura de mais informação. Sem encontrar um especialista que os ajudasse, Marcelina e Miguel lançaram, eles mesmos, mãos ao trabalho. Leram, pesquisaram, estudaram e acabaram por fazer da geobiologia profissão.

«A geobiologia é considerada uma ciência ponte entre as mais antigas tradições e conhecimentos e as recentes investigações científicas que buscam soluções para os problemas de saúde causados pela exposição a fatores de origem natural ou artificial.» A explicação está no livro Uma Casa Mais Saudável, Uma Família Mais Feliz – um guia prático, lançado em setembro deste ano, que pretende ajudar quem procura um habitat mais amigo da saúde. Mas que perigos são estes, afinal, para os quais os autores alertam? «Quando falamos nos fatores potenciadores de doenças existentes no interior do nosso habitat, a qualidade do ar é apenas a ponta do icebergue. Existem, ainda, as redes geomagnéticas, as alterações telúricas (do latim tellus, que significa terra ou que provém da terra), a contaminação eletromagnética, a eletricidade estática, a poluição química e muitos outros fatores», explicam. Um cocktail molotov, expressão dos autores, que é especialmente grave quando consideramos o tempo que passamos fechados, seja em casa, no escritório ou no carro, em permanente contato com estes fatores.

Muitos, como a radiação, só podem ser detetados com a utilização de equipamentos de medição específicos. No entanto, para tentar perceber se o corpo está em contacto com radiação, há alguns sintomas a que, garantem os autores, podemos (e devemos) estar atentos: insónias, sonambulismo, pesadelos, dormir melhor fora de casa, acordar cansado, dores de cabeça frequentes, irritabilidade ou alterações de humor, zumbidos nos ouvidos, enfraquecimento do sistema imunitário ou fadiga crónica são apenas alguns deles.

A boa notícia é que transformar as nossas casas em espaços mais saudáveis pode ser bem menos complicado do que parece. Para além de cuidados específicos para cada divisão da casa, existem de ordem ambiental, sejam eles algumas regras gerais a que devemos estar atentos. No que toca à radiação, os autores aconselham a deixar de lado materiais fabricados com matérias-primas que emitem gás radão, como granito, ardósia/xisto, algumas cerâmicas e grés vitrificado, alguns tipos de cimento, gesso sintético, basalto ou pedra-pomes, apostando antes em materiais como madeira, bambu, mármores, pedra calcária ou cortiça, que permitem que a parede e o teto respirem, facilitando a saída das substâncias nocivas para o exterior.

Na lista de comportamentos proibidos estão também hábitos como trabalhar com o computador portátil assente sobre o corpo, colocar telefones sem fios no quarto, dormir com o telemóvel ligado (a não ser em modo de voo) ou utilizar intercomunicadores sem fios nos quartos das crianças. Para garantir uma boa qualidade do ar, os autores sugerem ventilar diariamente todos os espaços durante 10 minutos, optar por pinturas, tratamentos e materiais ecológicos e banir do interior ambientadores, detergentes em spray e inseticidas que não sejam de origem natural e ecológicos. Outro fator de conforto é a iluminação. Neste capítulo, as recomendações são de que se privilegie, sempre que possível, a luz natural, investindo também em lâmpadas que se assemelhem ao máximo à luz solar, com um IRC superior a 90-95 por cento. Outra das regras passa pela utilização de plantas naturais no interior: «Existe a ideia de que as plantas naturais nos roubam o oxigénio dentro das nossas casas. Nada mais errado. As plantas naturais purificam o ar ao absorverem substâncias químicas muito comuns em espaços interiores. Coloque uma planta de tamanho médio em cada 10 m2, em especial nos locais onde passa mais tempo: quarto, sala e cozinha.» O tema é longo e os conselhos muitos mas, segundo os autores, a informação compensa mesmo. Afinal, quem não deseja viver numa casa mais saudável e feliz?

livro__Uma Casa Mais Saudável, Uma Família Mais Feliz, de Marcelina Guimarães e Miguel Fernandes. Editora Esfera dos Livros, 216 páginas, 14,90 euros.