Ó tempo, volta para trás

Daríamos tudo para que alguém descobrisse uma forma de vivermos mais tempo, mais jovens e melhor. A medicina antienvelhecimento garante que já descobriu algumas.

A medicina anti-aging (antienvelhecimento) ou medicina preventiva personalizada começou a dar os primeiros passos no início dos anos 1980, nos EUA, pela mão dos médicos Ronald Klatz e Robert Goldman – que, em 1992, viriam a criar a American Academy of Anti-Aging Medicine (A4M), a organização profissional mais reconhecida no setor. Envelhecer da forma o mais saudável possível não é propriamente uma ideia revolucionária, mas o que a maioria dos defensores e praticantes da medicina anti-aging alega vai um pouco mais longe do que isso: argumenta que, com a combinação certa de tratamentos e comportamentos, é possível abrandar a velocidade de envelhecimento.

Chamam-lhe a medicina do futuro. E até pode vir a ser, mas, por agora, apesar de muitos a praticarem (só a A4M representa mais de 26 mil médicos em mais de 120 países) ainda não é reconhecida como uma especialidade médica pelas principais organizações de classe nos EUA – como a American Board of Medical Specialties (ABMS) e a American Medical Association (AMA).

A medicina, que durante muito tempo foi apenas curativa, está, cada vez mais, focada em evitar doenças ao invés de apenas tratá-las. E isso faz que algumas das ideias e dos princípios da medicina antienvelhecimento sejam hoje relativamente aceites e consensuais – como a necessidade de apostar na prevenção, por exemplo. Deixar de fumar, fazer exercício físico e ter uma alimentação equilibrada – ou seja, tentar intervir nos comportamentos que são potencialmente maléficos para a saúde futura e combater a formação excessiva de radicais livres – fazem parte da rotina e das preocupações da maioria dos médicos.

Da mesma forma, tanto a geriatria (que estuda a prevenção e o tratamento de doenças em idades avançadas) como a gerontologia (processo de envelhecimento em suas várias dimensões), há muito tempo que batalham pela noção de envelhecimento ativo.
Por isso, a controvérsia entre muitas disciplinas e medicina anti-aging não reside na tentativa de prevenção de doenças, na proposta de que se viva o máximo de anos possível com qualidade de vida. A cisão está nos métodos e nas técnicas que muitas vezes a medicina anti-aging defende e aplica. A eficácia de muitas é questionável.

E não é por falta nem de estudos e investigação, nem de expetativa e vontade, que um dia isso venha a ser possível. Há, de resto, algum otimismo entre a comunidade científica, porque nas últimas décadas percebeu-se, por exemplo, que o processo é relativamente plástico: testes em animais têm mostrado que ele se pode acelerar e também abrandar intervindo sobretudo a nível genético. Nos ratos, cobaias da investigação, conhecem-se dezenas de genes relacionados com o metabolismo, processos hormonais e reparação de ADN que, se modificados, podem pô-los a viver mais do que o habitual. Mas nos humanos, estes genes que modulam a idade ainda não estão totalmente identificados e são eles que nos trazem boas hipóteses de retardar o envelhecimento.

Posto isto, que podemos dizer então dos tratamentos que prometem mexer com a nossa genética e com fatores hormonais abrandando o nosso envelhecimento? Bom, por muito que gostássemos de conhecer já a fonte da eterna juventude, o certo é que ela, a existir, é ainda um mistério. Entretanto, uma coisa é certa: a investigação está a caminhar no sentido de um dia acabar por ser possível desenvolver moléculas capazes de retardar o envelhecimento e personalizar verdadeiramente a medicina. Apenas ainda não chegámos lá.

TÉCNICAS ANTIENVELHECIMENTO: VERDADE OU MITO?

RESTRIÇÃO CALÓRICA
A redução de 20% a 40% no número de calorias ingeridas por ratinhos – sem lhes provocar subnutrição – atrasa-lhes o envelhecimento e prolonga-lhes a vida. Estudos em macacos mostram o mesmo: os indivíduos submetidos à dieta com restrição de calorias vivem mais tempo, têm uma aparência mais jovem e um índice mais baixo de patologias associadas à idade, nomeadamente cancro, perda de massa muscular e diabetes. Em humanos, é possível que se possa prolongar a vida por alguns anos, mas os efeitos secundários desencorajam: ansiedade associada à fome, depressão, fadiga e diminuição do desejo sexual.

TERAPIA E MODULAÇÃO HORMONAL
Uma das hormonas utilizadas nestes tratamentos é a hormona de crescimento (HGH), assim como estrogénio (mulheres) e testosterona (homens). O uso de HGH não só não tem benefícios antienvelhecimento comprovados, como está associado a um aumento da probabilidade de desenvolvimento de patologias oncológicas preexistente, além de poder provocar aumento de peso e pressão arterial. O estrogénio e a testosterona têm associados algumas melhorias a nível de bem-estar pós-menopausa (e de função sexual nos homens), mas não há estudos que documentem uma ação antienvelhecimento fisiológica.

VITAMINOTERAPIA E ANTIOXIDANTES
Precisamos de vitaminas e antioxidantes para um bom funcionamento do organismo mas, excetuando condições médicas específicas, o que vamos buscar a uma alimentação saudável é suficiente. Não há evidência científica de que o consumo de altas doses de vitaminas e antioxidantes trave o processo de envelhecimento celular. Vitaminas em excesso podem levar a um risco aumentado de outros problemas – demasiada vitamina A, por exemplo, pode levar a lesões no fígado.