O meu filme é melhor que o teu!

Os Óscares são entregues no final do mês. Dois fãs dos prémios maiores do cinema americano confrontaram gostos cinéfilos.

No fim, combinaram ir juntos à cerimónia. Um dia.

Nesta altura dos Óscares, começamos a torcer por este ou por aquele filme. Foi para isso que desafiámos dois convidados: cada um a fazer claque pelo seu filme nomeado preferido. O resultado foi este: A Queda de Wall Street, de Adam McKay, vs. The Revenant – O Renascido, de Alejandro Iñarritu. A socialite Lili Caneças ficou doida com o filme do mexicano e o comediante Jel adorou a comédia dramática sobre o crash da Bolsa americana em 2008.

«A Queda de Wall Street é o melhor filme dos nomeados. É a prova de como os americanos conseguem refletir sobre a sua história recente sem pudor», diz Jel. «Este tema, a queda da Bolsa, afetou não só os EUA, mas o mundo inteiro. Surpreendentemente, no fim não deixa de ter uma mensagem de aviso, dizendo ao espetador que uma crise destas pode voltar a acontecer. O curioso é que os heróis deste filme são pessoas que ganham dinheiro à conta desta crise… É um objeto de cinema com uma mensagem social forte.»

Quando se juntaram numa suite do Hotel Mirage, em Cascais, Jel estava com um sorriso estampado, mas não deixava de confessar o seu espanto: pensava que a escolha da sua oponente fosse um filme mais romântico como Brooklyn, de John Crowley. Lili ignorou-o e começou o seu discurso pró The Revenant: «Já ia com expetativas muito fortes para o filme, admito. Mas saí da sala verdadeiramente abalada! As expetativas foram ultrapassadas. Fiquei surpreendida por não haver texto, não haver diálogo algum – só acting. Interpretações que dão um valor fantástico ao filme. Além do mais, a natureza torna-se uma personagem do filme, aliás, é a personagem principal. Há animais, tempestade, neve, enfim… tudo! Depois, claro, a famosa cena do urso, tão, mas tão bem feita! Nunca vi uma coisa assim nos milhares de filmes que vi em toda a vida! Aquilo tem um estrondo incrível – não se percebe onde começa o urso e onde acaba o Leonardo DiCaprio.»

O entusiasmo de Lili é de tal modo insuperável que até Jel vai concordando que The Revenant é mais favorito para vencer a estatueta de melhor filme. «Claro que o DiCaprio vai ganhar o Óscar. É o maior ator da sua geração e os anteriores filmes já lhe deveriam ter valido a glória da Academia», diz ela. «Como foi possível não ter vencido em O Aviador, Diamantes de Sangue, O Lobo de Wall Street e tantos outros filmes!?»

A socialite está tão convicta desta vitória que até se recusou a ver outro dos favoritos à categoria de melhor filme, O Caso Spotlight, sobre o escândalo de abusos sexuais de padres da diocese de Boston na década de 1990. A razão verdadeira? «Sou extremamente católica», diz, enquanto mostra o cartão de membro do Cine Clube Católico de Lisboa, quando tinha 16 anos. No fim, Lili e Jel admitem que poderiam ser uma parelha na passadeira vermelha do Kodak Theater. «Ficaríamos no Beverly Hills Hotel, onde ficam as estrelas», diz Lili. «Neste ano a colheita é forte» diz Jel. «Nem sempre acontece. Os filmes são todos muito bons, da ficção ao documentário.»

JEL (NUNO DUARTE)
Metade da dupla Homens da Luta (com o irmão, Vasco), destacou-se no programa Vai Tudo Abaixo (SIC Radical). Nos últimos tempos, tornou-se realizador de documentários: Match Day, sobre um menino futebolista em Marrocos, e Meio Caminho da História, sobre os The Gift. «O problema de The Revenant é a sua visceralidade. Não vai agradar a todos.»

LILI CANEÇAS
Instituição do jet set português, tornou-se um dos rostos mais populares da televisão portuguesa, em presenças em reality shows e como comentadora social na TVI. A «tia» mais iconográfica da nação garante que já foi pedida em casamento por um candidato aos Óscares há vinte anos. E responde a Jel sobre A Queda de Wall Street: «O problema é o Christian Bale.»