O eterno retorno

Falar de moda rétro é falar da moda até aos anos 1990, ou seja, expressão extensível à arte e à decoração de interiores. As coleções primavera-verão 2016 e outono-inverno 2016-17 recriam um universo revisitado e reinventado, ano após ano, estação após estação, quer pelos designers quer pelos consumidores.

«O rétro não se assemelha a moda alguma, porque já não se define por cânones estritos e inéditos, mas apenas pela referência flexível ao passado e pela ressurreição dos signos defuntos da moda mais ou menos livremente combinados», dizia o filósofo francês Gilles Lipovetsky, no seu livro A Era do Vazio (1989). Nos últimos seis anos, várias marcas regressaram ao mercado depois de se terem destacado entre os anos 1980 e 1990, como é o caso da Dr. Martens. A ideia não é inovar mas recordar, voltar a usar, nem sempre se dando ao trabalho de reinventar. O estilo rétro induz em erro, como salienta Lipovetsky, por ser uma atitude inerte, disfarçada de falsa modernidade ou atualidade.

Na verdade, as tendências parecem ter uma ação criativa, numa incessante procura de novidade, disfarçada por novos tecidos ou materiais tecnológicos, ou ainda pela feroz sobreposição de estilos e ideias que acabam por induzir a uma interpretação errada junto de quem consome. Ideia propositada, uma vez que o que se pretende é que o consumidor não pense, apenas consuma. «O rétro não tem conteúdo, não significa nada e aplica-se, numa espécie de paródia ligeira. Nada está mais na moda do que aparentar não ligar à moda», dizia há anos o filósofo francês seguindo uma linha de pensamento coincidente com a de Yves Saint Laurent quando este anunciou que «já não está na moda andar na moda», ou seja, cada indivíduo é responsável pela construção da sua imagem, evitando as imposições dos trendsetters, designers e/ou visionários da moda.

As coleções primavera-verão 2016 e outono-inverno 2016-17 inspiram-se entre os anos 1950 e os 1990. Em alguns casos, o design das peças explora outras abordagens artísticas, recorrendo à pintura, à escultura ou à arquitetura: exemplo disso são as marca Alexander McQueen ou Comme des Garçons.

Ao olhar, com distanciamento, as propostas criativas das próximas estações, é percetível a contínua repetição de ideias, aparentemente inovadoras, «se o modernismo assentava na aventura e na exploração, o pós-modernismo repousa na reconquista, na autorrepresentação, humorística para os sistemas sociais, narcótica para os sistemas psíquicos. Quando a moda deixa de ser um polo altamente marcado, o seu estilo torna-se humorístico, tendo por motor o plágio vazio e neutralizado».

OS ANOS 70 DO SÉCULO XXI
Poucas novidades existem sobre as tendências que vão dominar as próximas estações quentes. Das jardineiras de ganga às túnicas florais de comprimentos médio e longo, passando pelas saias ou vestidos longos e pouco justos com pequenos folhos, sem esquecer os tecidos estampados com cornucópias ou linhas geométricas.
O estilo hippie continua a dominar as coleções, o que não significa que outras ideias não marquem presença nas propostas das marcas de vestuário, mais sóbrias ou mais alternativas. Entretanto, não estranhar o facto de a grande tendência estar na sobreposição de peças de diferentes texturas e padrões, criando efeitos confusos. Importante lembrar que a moda é para dar prazer e favorecer, e não o oposto.