O açúcar escondido

Vai ter de se esforçar mais: alguns produtos que compra no supermercado – os que vêm dentro de embalagens – têm açúcar na sua composição. Não acredita? Olhe para os rótulos.

Sabia que duas fatias de pão de forma com salsichas, ketchup e uma embalagem de néctar de fruta representam mais de metade de todo o açúcar que devia consumir num dia? Chocado? É fazer as contas. Dois gramas de açúcar em cada uma das fatias de pão de forma, quatro gramas de açúcar numa colher de sopa de ketchup e, na melhor das hipóteses, dez gramas de açúcar no néctar. Resultado: 18 gramas de açúcar (e nem contámos o das salsichas, que também o têm). E o ideal, diz a Organização Mundial da Saúde (OMS), é que o consumo diário de açúcares adicionados seja na ordem dos 25 gramas por dia. Porque, na realidade, já consumimos mais açúcar, natural e não adicionado, por exemplo na fruta, nos legumes e leite, valores que não estão incluídos nestas contas daquele organismo.

Os açúcares adicionados que consumimos não estão só nos bolos, chocolates e gelados. E este tem sido um dos grandes alertas da OMS: grande parte dos açúcares que consumimos estão escondidos em alimentos que não consideramos doces. Alimentos insuspeitos como cereais de pequeno-almoço, iogurtes, pão, gelatinas, molhos e conservas de legumes ou sopas de pacote. Por esta razão, a OMS intensificou a luta contra a obesidade, mudando significativamente as diretrizes relativas aos valores diários de consumo de açúcar.

As recomendações anteriores defendiam que o consumo de açúcares adicionados aos alimentos deveria representar apenas dez por cento da dose energética diária (cerca de 200 kcal, considerando uma média de 2000 recomendadas para um adulto), mas, em março do ano passado, foi mais longe e reajustou a dose ideal para metade: cerca de cinco por cento. O equivalente a 25 gramas de açúcar [que representam uma média de 100 kcal], ou seja, cerca de seis colheres de café. E é preciso que se note que uma lata de refrigerante pode ter 40 gramas de açúcar. É fazer as contas: são dez colheres de café num sumo.

Além dos novos valores diários, a entidade deixou também avisos aos governos: é necessário negociar com a indústria alimentar a redução do volume de açúcar nos alimentos processados, reforçar as leis de etiquetagem de forma a que detalhem o açúcar que o produto contém, elevar os impostos sobre produtos com valores elevados de açúcar e restringir a publicidade de refrigerantes e outros alimentos processados.

ALIMENTOS COM AÇÚCAR ESCONDIDO
Tem alguma destas coisas em casa? Olhe para os rótulos. Foi o que nós fizemos:

MOLHOS E CONDIMENTOS
Ketchup, maionese, molhos para saladas e até mesmo mostarda contêm doses de açúcar. A do ketchup é das mais altas.

ENLATADOS
Salsichas, tomate em pedaços e ervilhas de lata também têm açúcar adicionado – mas em percentagens que rondam 0,2 ou 0,3 por cento por embalagem.

PÃO DE FORMA EMBALADO
Cada fatia de pão de forma contém cerca de 2 gramas de açúcar, mesmo que esteja identificado como «integral.

IOGURTE
Um copo de 125 gramas chega a conter o equivalente a dois pacotes de açúcar, ou seja, cerca de 15 gramas.

REFEIÇÕES PRONTAS CONGELADAS
Lasanha, bacalhau com natas, paelha pré-feita, pizzas… estes produtos têm entre 6 e 13 gramas de açúcar adicionado por porção.

REFRIGERANTES E SUMOS DE PACOTE
Uma lata de 33 centilitros de refrigerante com gás pode conter até 35 gramas de açúcar. Os néctares rondam os 10 gramas.

OLHAR PARA O RÓTULO
Sacarose, glicose, maltose, galactose, frutose… sabe o significado de cada uma das palavras? Açúcar, açúcar, açúcar, açúcar e açúcar. Todos. De resto, quando pegar numa embalagem de um alimento e olhar para a lista de ingredientes, tenha isto em mente: qualquer palavra que termine em «ose» é provavelmente um açúcar. Além dos ingredientes, olhe também para a informação nutricional. Uma das parcelas é a dos hidratos de carbono e, na linha de baixo, tem a continuação: «dos quais açúcares». É esta linha que lhe diz a quantidade de açúcar, normalmente por cada 100 gramas de produto.