V. S. Naipaul: «A liberdade está a ser posta em causa»

Aos 84 anos, o prémio nobel V. S. Naipaul sente-se como uma espécie de profeta: ele foi dos primeiros a chamar a atenção para a disseminação do radicalismo islâmico, e o perigo que isso era para a nossa civilização e liberdade. É isso que diz numa entrevista feita em sua casa, em Londres, antes da vinda a Portugal para o festival Folio, em Óbidos, no dia 22. Uma entrevista cheia de pausas e cansaços, do homem que já viveu tanto. Entre chá, bolinhos, e ajudas à memória da sua mulher, o escritor britânico-caribenho, de origem indiana, diz que quer voltar à escrita.

«Quero o biscoito de pistachio, esse, sim». V. S. Naipaul serve-se do pires com «pastelaria francesa» que a mulher, Nadira, mandou comprar na confeitaria vizinha, no bairro de Kensignton, para acompanhar o chá. Um earl grey muito preto que Naipaul bebe ao fim da tarde, com leite, à maneira dos ingleses e dos que por eles foram introduzidos neste hábito. Eis o escritor mítico, o Nobel (2001), o maior em língua inglesa, vivo, dizem os críticos, o maldisposto, com fama de intratável entrevistado, tão humano, a comer um bolinho com prazer. «Era sobre estas coisas que ele agora queria que lhe perguntassem.» Nadira, a segunda mulher, uma jornalista queniana de origem paquistanesa, 20 anos mais nova, rodeia-o de cuidados, grita-lhe as perguntas – o escritor já não ouve bem e recusa um aparelho auditivo – e ajuda nas respostas de que Naipaul não se lembra. «Ele está muito cansado das perguntas sobre a carreira, os livros, a escrita. As pessoas já conhecem o escritor, agora deviam querer conhecer o homem. Queria que lhe perguntassem como vive, do que gosta, o que come, a que horas se levanta». O escritor sorri ao de leve, concordando com a mulher, calado, mastigando, quase fechando os seus olhos asiáticos.

V. S. Naipaul tem 84 anos. Não escreve há seis com exceção de um artigo de opinião sobre o Estado Islâmico que publicou no jornal Daily Mail, a pedido do diretor, um amigo. Parte da sua vida é passada neste cadeirão de madeira, na sala arejada, da sua casa de Londres. Um triplex estreito e antigo, numa rua calma, de um bairro burguês, com jardins privativos e prédios vitorianos de tijolos e entrada com degraus – difíceis para as suas pernas cansadas, já a precisar da cadeira de rodas que o espera à saída do elevador. Continua a ser parco em palavras – foi disso que se fez a arte dos seus livros – e pouco dado a entrevistas. Agora está menos, está cansado, mas concordou em dar mais uma – só mais uma. Uma entrevista difícil, cheia de silêncios, em que Naipaul nunca é antipático mas responde com lentidão e muitas ajudas da mulher.

Daqui a dois dias vai a Portugal, mais precisamente a Óbidos, onde participa no Folio, o festival literário que animará a vila neste início de outono e o receberá para uma sessão no dia 22. «É a terceira vez que vou a Portugal», conta com os dedos, fazendo um esforço de memória. A primeira foi nos anos 1960, a segunda, em 2008 – para um colóquio literário na Gulbenkian. Portugal fez sempre parte da vida de Naipaul, na memória daqueles madeirenses donos de lojas de rum da sua Port of Spain natal e que foram inspiração para personagens dos primeiros livros. «Não há portugueses, lá. Há pessoas de ascendência portuguesa. Não se importa pois não?», diz, meio provocador, meio rigoroso. No final da entrevista, o casal quer saber o que é Óbidos, e em que consiste o festival Folio. «Ouvi dizer que em Portugal agora há muita atividade literária – é assim?», pergunta a mulher.

A literatura é eterna, mas o que resta a um escritor que já não escreve? Reviver-se através dos seus fãs, daqueles a quem os seus livros dele tocaram a vida. Isso pode continuar a acontecer através dos livros propriamente ditos, entre os que os leem, os estudam e os dissecam – e Naipaul tem-nos, e muitos, é estudado em várias universidades. Mas também participando nessas mundanidades em que se tornou o quotidiano dos escritores, em festivais literários, sessões de autógrafos, entrevistas públicas. «Sim, gosto disso. Gosto muito disso», diz Naipaul. «Estimula-o», diz a mulher. «Acrescenta-me», replica ele, na sua voz cava e levando mais algum tempo a responder. «Vejo mais coisas, mais pessoas. Gosto de perceber o que outras pessoas estão a pensar, de saber o que acham dos meus livros. Gostava que um dia não fosse eu a falar, fossem só eles a perguntar-me.»

Naipaul não para. «Quando ele quiser parar, paramos. Mas não,» confidencia a mulher, baixinho. Na China, há dois anos, foi abordado por um general chinês que sabia de cor o seu primeiro livro, Miguel Street. «O general recitou-o palavra por palavra, da primeira à última frase. Em chinês. Nem queríamos acreditar», conta Nadira. E qual era o livro favorito dos chineses, mais de dois mil que encheram a sala do Festival Literário de Xangai? A Curva do Rio. «Eles queriam que ele assinasse os livros e só repetiam que este livro era sobre os chineses». Óbvio: os comerciantes que saem da China com a missão de fazer negócios pelo mundo reveem-se naquele Salim, o imigrante indiano que achou que montar uma loja no interior de um país africano em ebulição era a fórmula para o sucesso. «O mundo é o que é; os homens que não são nada, que se permitem não ser nada, não têm lugar nesse mundo», assim começa o livro. Como essa frase deve ter ecoado nos empreendedores corações chineses.

A universalidade da literatura de Naipaul é também a sua capacidade de abarcar o mundo no seu mínimo denominador comum – e essa terá sido a maior contribuição das viagens para a vida e obra do escritor, a matriz central da sua história e das que conta. Tudo começou com aquela, inicial e iniciática, que fez aos 18 anos, e o levou da sua terra natal, Trinidad e Tobago, nas Caraíbas, até Londres, onde chegou para estudar literatura em Oxford, com uma bolsa de estudo da comunidade indiana a que pertencia a sua família em Port of Spain. Precisou de sair «da ilha», como sempre disse, daquele pontinho do globo que não contava para quase nada, da periferia, da colónia, para o centro, para a metrópole, Londres. Já vinha para «ser escritor», inspirado pelo pai, um jornalista frustrado, em Port of Spain. «Era o seu maior desejo, desde os 11 anos que o Vidia queria se escritor», diz Nadira, biógrafa fidelíssima, dos 20 anos que já levam de casados, e dos anteriores também.

Naipaul não gosta muito de recordar esses primeiros tempos e as dificuldades por que passou – «ele não vai responder-lhe», acerta a mulher – também porque já os descreveu vezes sem conta. Sobretudo o ter começado a escrever bem depois de vários desaires, apenas quando se deixou de poesias e teorias que lhe vinham de Oxford, «as esqueceu», e se deixou levar pelo que conhecia mesmo e podia descrever naturalmente como se o estivesse a ver. As memórias da rua onde viviam os avós, em Port of Spain. Miguel Street foi o seu primeiro livro, escrito quando era correspondente freelancer da BBC para os assuntos das Caraíbas. «Eram vívidas as suas memórias, era jovem», conta a mulher. Naipaul olha para ela e confirma. Mas ele sabe que não é só isso. Que há algo inexplicável nesse momento da escrita. «Algo pessoal que me tirou do desespero e me levou a começar a ser escritor. Um processo que começou na minha mente e não é fácil de explicar», disse ele, no prefácio recente que fez do livro.

Sorte? «É o que sinto. Que fui muito afortunado. É como funciona. Temos de esperar que assim seja. Há muitas pessoas importantes que acreditam na sorte. Napoleão procurava os seus generais entre os que tinham ar de sorte», responde. O que se seguiu, o resultado, é uma sorte, sim, sobretudo para o mundo. São 30 obras de uma escrita sem grumos, que descreve o mundo colonial e pós-colonial como nunca tinha sido feito. Metade é ficção, metade não. Naipaul sempre foi de um para o outro estilo, «naturalmente, era muito óbvio o que havia para fazer», diz. «Sempre foi um tandem. Um bom bocado de escrita, uma história de ficção», diz a mulher. «Isto ajuda?», pergunta ele.

E as viagens? Cedo o escritor percebeu que precisava de inspiração na realidade e as viagens pelo mundo foram uma maneira de ir atrás dela. África, o Médio Oriente, mesmo as Caraíbas.

«A realidade sempre supera a ficção. Temos de deixar espaço para o que vamos encontrar. Ver com os nossos olhos. De outra forma vamos repetir o que dizem os jornais», diz o escritor, naquele que é o único conselho que aceita dar aos muitos aspirantes que lhos pedem.

Depois da visita a Portugal, o casal Naipaul está já a preparar uma viagem ao Bangladesh, de onde chegou um convite, há três anos, para um Festival Literário, o Dhaka Lit Fest. «Recusámos duas vezes. Estávamos mesmo a falar sobre isso, antes da entrevista.» O agente, Luke Ingram, da Wylie Agency, muito jovem, inglês, óculos redondos de massa e ar tímido, assiste à conversa. Não está muito pelos ajustes com uma viagem destas. O mundo está perigoso, sobretudo para aqueles lados, e sobretudo para quem, como Naipaul, não se coíbe de denunciar o fundamentalismo islâmico quando fala. «Vamos voltar aos livros», diz, a meio da entrevista. Sabe que o seu autor é um alvo inegável. Luke tem medo. Naipaul não. «Não tenho medo», diz, regressando ao tema do início da conversa: «Tenho muita sorte. Não me atinge».

Nadira tem dúvidas. E recorda o último grande susto que apanhou com Vidia – assim lhe chamam carinhosamente os amigos e o público inglês, sir Vidia. Foi no Gabão, no trabalho de campo que o escritor estava a fazer para o seu último livro, A Máscara de África, sobre as religiões nativas africanas. Ela, que nasceu no Quénia e fala swahili, estava aterrorizada. «Estava com tanto medo que queria deixar o país. Mas ele queria ir à floresta onde se praticavam os cultos. O governo ajudou-nos, fomos no helicóptero. O problema é que o Vidia era o material certo para o sacrifício – eram as crianças e velhos, as crianças porque vinham dos ancestrais, os velhos porque iam para eles. Três pessoas tinham morrido recentemente. E eu disse: não aterres, olha daqui, faz visão de pássaro. E ele disse, ‘essa é a diferença entre nós. Eu sou um escritor e tu és uma falsidade’. Eu fui jornalista, bastava-me ver de cima. Ele só escrevia se fosse lá e visse com os seus próprios olhos. Examinar, mais e mais. Vi o chapéu dele desaparecer no meio do mato e liguei para um amigo dos serviços secretos. Disse-lhe se ele não voltasse em 20 minutos, ligava-lhe para avisar o foreign office e dizer que ele estava desaparecido. Mas ele voltou, vinte minutos depois, com o seu chapéu, no meio do capim. Tinha dito que tinha de voltar para a mulher não ficar nervosa.»

Há um outro objetivo nessa longa viagem ao Bangladesh: Naipaul confessa que quer voltar a escrever. «Posso voltar a fazê-lo. Posso voltar a fazê-lo», repete. «Não é que precise. Mas pode apetecer-me. Acontecer-me.» Precisa é, como sempre precisou, de inspiração. Sem viagem, não há livro. A mulher, Nadira, fica nervosa. «Não. Não quero que ele o faça. Não sabe os problemas que teve com aquele artigo sobre o ISIS. E é bom encontrar jornalistas, é bom ver pessoas. Mas 30 livros já é suficiente!»

Um deles está em lugar de destaque em cima da mesa baixa da sala de estar, em frente aos sofás. É uma edição em capa dura de Among The Believers – Entre os Crentes a que o casal tem regressado. Naipaul não relê os seus livros, mas Nadira sabe-os quase de cor. E é isso que a aflige: ela sabe que é provável que, se o marido voltar a escrever, seja sobre essa questão que conhece a fundo e que está na ordem do dia. «O Islão radical. Ainda ontem estávamos a falar sobre isso», conta ela. «Estava a perguntar-lhe como é que ele viu isso tudo antes de toda a gente. Lembrei-me d’A Curva do Rio, do episódio dos corpos que desciam o rio, e como no Uganda, quando lá fomos, eles disseram: você foi um profeta, viu esta cena dos corpos a vir no rio.»

Naipaul foi dos escritores mais marcantes da transição do mundo colonial para o pós colonial, e para o que ele é hoje, consequência de tudo isso. É? «Nunca pensei nessa questão», responde o escritor, cansado. «Teria de ter mais tempo para lhe responder». Migrações, transições, nacionalismos, independências, gente partida ao meio, perdida entre o passado e o presente, gente à procura de uma identidade entre mundos. O que faço eu aqui? De onde sou? É impossível não reconhecer nos temas da obra de V.S. Naipaul as questões da história contemporânea. Sobretudo aquela que é contada nos jornais: filhos de imigrantes que se tornam terroristas, migrantes desesperados a morrer quando atravessam mares e oceanos, guerras entre tribos, novos regimes corruptos, velhos regimes caducos, choques culturais e religiosos…

Na sua longa reportagem de seis meses pelas revoluções que tentavam transformar em estados islâmicos o Irão, a Malásia, o Paquistão e a Indonésia, que resultou no livro Among the Believers, Vidia foi um dos primeiros a adivinhar «o perigo que vinha aí». «Sim, era uma coisa tão óbvia. Não posso reclamar nenhum tipo de clarividência. Não consigo perceber porque é que os outros não o viram», diz. O livro é de 1981, e na altura nada parecia tão óbvio, a opinião pública reagiu, relegando o escritor para o lugar do «racista, anti-islâmico». Naipaul voltou logo a seguir aos mesmos lugares só para confirmar, com terror, que todas as «loucuras» a que tinha assistido continuavam. Voltou a escrever o mesmo em Beyond Belief – Além da Crença. «Eu próprio não acreditava no que tinha visto. E pensava que estava errado. Só mais tarde, quando comecei a viajar e a falar com outras pessoas, noutros países, é que comecei a aperceber-me deste problema. Como este mundo era louco, de certa forma. E pensei que eles podiam fazer qualquer coisa.»

Qualquer coisa como «colocar um jovem numa jaula, regá-lo com gasolina, queimá-lo vivo», ou «uma criança de 12 anos com determinação expressa na cara, atirando à queima roupa sobre um homem de joelhos e com as mãos atadas», ou ainda «centenas de mulheres e meninas, de braços atados, obrigadas a marchar por verdugos de cabeça coberta e armados em direção à escravatura sexual»? Estas não são transcrições desses livros, mas algumas das descrições que Naipaul fez no artigo que publicou em 2015 no jornal inglês Daily Mail, no qual comparava o Estado Islâmico ao III Reich. O diretor, amigo, já discutira várias vezes com ele esta questão civilizacional. Andava a tentar que o «colosso literário», como lhe chama o jornal popular, transmitisse o seu conhecimento sobre o tema, e convenceu-o depois das destruições, pelo ISIS, de obras de arte da antiguidade, que marcaram Naipaul, um amante dos clássicos.

No artigo, o escritor não poupou «o novo holocausto», chamando à responsabilidade o Islão, em geral – «o mundo islâmico contém correntes que se opõem às interpretações que o ISIS dá ao Corão e à Sharia, mas ainda têm de declarar as suas intenções» – e questionando a vontade e a estratégia dos governos ocidentais – «a aniquilação militar do ISIS como uma força anti-civilizacional tem de ser o objetivo de um mundo que quer preservar as suas liberdades materiais e ideológicas». «Seria fácil pará-los», continua a dizer Naipaul, hoje. «Se quisermos mesmo ver-nos livres destas pessoas, um pouco de criatividade não seria mal vinda. Temos de dar cabo deles. E, por exemplo, parar de lhes vender armas».

Naipaul não é imune ao crescimento do fundamentalismo em Inglaterra, que enche as ruas da cidade onde vive de véus e burkas. «Devia ser ilegal», já disse. «A nossa liberdade está posta em causa por estas pessoas da periferia, que vêm de fora, que não têm nenhuma ideia do mundo a que estão a chegar. Acham que o que é, é. Muitos deles nem vêem o que estão a olhar, se posso pôr desta maneira.» Naipaul conhece bem essa história, dos que chegam a um mundo novo, mas a sua, e a que ele conta, tantas e tantas vezes nos seus livros, é ao contrário. «Não era nada assim quando eu cheguei a Londres, nos anos 1950. As pessoas vinham de fora e tentavam integrar-se. Era por isso que vinham. Tentavam.»

É por isso que esses jovens que se explodem por uma causa que mal conhecem e lhes apaga o passado e a memória não lhe despertam nenhum interesse. Nunca seriam suas personagens. As dele são as que, com esforço, vieram da periferia para conquistar o seu lugar centro – com esse desejo de busca da felicidade que está na base da ideia das migrações. Até na dele próprio e que ele descreve, autobiograficamente, no livro À procura do Centro. Ele que tantas e tantas vezes se sentiu um estrangeiro em Londres, como quando não lhe alugavam quartos por ser de origem indiana, e hoje, hoje apenas, assume já se sentir em casa em Inglaterra. Essas duas casas, a do campo, em Witlshire, onde o seu gato, Augustus, já não está para se enroscar no seu colo – «ele morreu, sabe? », diz, olhando saudoso para a fotografia com o bicho – e o apartamento de Kensignton que é onde vêm os amigos e os novos escritores prestar homenagem, mas não pedir conselhos. «Não, não», diz. «Pois não. Isso é porque tu és bruto, as pessoas ficam com medo», acusa a mulher, a brincar. Ele olha de novo para o lado, buscando o conforto dela, como em toda a entrevista. «Sim, agora gosto mais de Londres, tenho aqui mais pessoas. Já consigo sentir-me em casa em Londres. Se quiser, consigo sentir-me em casa.» E se não quiser? «Essa já é outra pergunta. E não consigo responder agora. Tinha de pensar. Mais tarde.» Talvez em Óbidos.

 

UMA OPORTUNIDADE PARA VER AO VIVO V.S. NAIPAUL, NO FOLIO, EM ÓBIDOS

V. S. Naipaul estará em Portugal no dia 22, ao final da tarde do dia de abertura do Festival Folio, em Óbidos – que decorre até 2 de outubro (www.foliofestival.pt). Acedeu, por isso, a abrir as portas da sua casa de Londres para a entrevista que o seu agente lhe pedira, para promover a presença no festival e o livro que vai sair, em português, editado pela Quetzal, Num Estado Livre – Prémio Booker em 1971. Vidiadhar Surajprasad Naipaul tem 84 anos. Nasceu em Trinidad e Tobago, na capital, Port of Spain, numa família de origem indiana. Os avós haviam imigrado da zona de Calcutá como «indentured labourers», trabalhadores que pouco distinguia dos escravos e os vieram substituir nas plantações de açúcar. Naipaul escapou a esse mundo por incentivo do pai, jornalista que também escrevia, e foi para Inglaterra para estudar em Oxford, aos 18 anos. Foi Prémio Nobel da Literatura em 2001, numa altura em que o mundo começava a tornar-se o que ele sempre previra, um lugar muito mais perigoso. A entrevista a Sir Vidia é uma experiência. De assumido mau feitio, o escritor impõe respeito. Mas Naipaul pode também ser afável e preocupado – sobretudo quando lhe perguntam por temas que lhe interessam. É muito normal terminar uma resposta com «isto é de utilidade para si?», ou «isto serve?» E ficar a pensar no que vai dizer.