Lá vão eles para a universidade

Em 1935, as aulas na Universidade de Lisboa começaram a 17 de outubro, uma quinta-feira, e foram notícia na página 7 do Diário de Notícias do dia seguinte.

Nos anos 1930, o número de estudantes que chegavam às (poucas) universidades portuguesas – Lisboa, Porto e Coimbra – era menos de dez mil. O Diário de Notícias, na sua edição de 18 de outubro de 1935, destacou o início das aulas na Universidade de Lisboa, lembrando que terminavam «os três meses de férias passados em risonhas preocupações» e que agora «em face dos mestres», tratava-se de «defender um ano de trabalho, oito meses de estudo. » Em Direito ou em Ciências, em Medicina ou em Agronomia, em Veterinária ou em Farmácia, o jornalista realçava a alegria do regresso às aulas e do reencontro com «companheiros de classe, de ano, de escola, de universidade, enfim, de tornar a viver a vida de estudante, afinal de todas a mais agradável.»

Num ano em que menos alunos entraram na universidade – «2571 em comparação com os 3500 do ano passado» -, explicava-se o fenómeno com o facto de terem sido instituídos exames de admissão, que estariam a «produzir os seus frutos», para concluir que, apesar disso, «2571 rapazes» aspiravam ao diploma que ornaria o canudo de lata de Sr. Doutor.

Ora, entre estes milhares de rapazes, estariam algumas dezenas, pelo menos, de raparigas, distribuídas por Letras, Farmácia, quiçá Medicina, mas era ainda tão pouco habitual ver mulheres no ensino superior que terão sido esquecidas pela pena do jornalista.

Oitenta e um anos depois, foram cerca de 43 mil os alunos que entraram, na primeira fase, nas universidades e politécnicos públicos, sendo a Universidade de Lisboa a preferida – conseguiram entrar cerca de 7500 –, logo seguida do Porto, na qual entraram pouco mais de 4100, as vagas disponíveis. Oitenta e um anos depois, o número de alunos não foi a única revolução, o número de mulheres também mudou. Agora são elas que estão em maioria.

Veja, na galeria de imagens, outras fotografias do acesso ao ensino superior nas décadas de 1930, 1940 e 1950.