Finis Terrae

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Marta, my dear,

Segundo passo? Ofereço-lho com prazer e sem esforço, afinal caminhamos – quando não cambaleamos… –, ao longo do mesmo túnel, ao fundo brilha a hipótese de conseguirmos ajudar quem nos procura. Os passos de casais como os que descreveu são diferentes, desde logo o primeiro tem numerosas e não belas damas de companhia – dúvidas. Dou? Vale a pena? Humilha-me?

E quem dá o segundo? Entre nós os dois a alternância – nos passos, não no poder! – é regra assumida, mas há quem nos diga ter dado primeiro, segundo, terceiro e respetivos filhos e netos sem o parceiro mexer palha, perna ou neurónio. Admitamos que o segundo vem do outro e não é em direção à porta. Ei-los frente a frente, à distância de carícia leve ou sorriso apaziguador. A previsão meteorológica melhorou, mas o tempo continua instável. Roubemos à paleta dos gestos um abraço apertado e o sol parece garantido. Puro engano! A custo separados, talvez com paragem rápida no apeadeiro de um beijo tão roubado como oferecido, espera-os tarefa árdua. Sob pena de tudo não passar de breve trégua, durante a qual se recolhem mortos e feridos na terra de ninguém, antes de regressar às trincheiras e a metralha voltar a zunir.

Que fazer? Escrevo e morte é sinónimo de camaleão ausente. De acordo, para todos a vida se resume a uma labareda e depois ashes to ashes, mas ainda não acredito que perdemos o Major Tom, talvez já saiba se há vida em Marte ou Lázaro nos observa do azul do céu. Mas a velhinha risonha de Neil Young já levou, por exemplo, Whitney Houston, que cantava um poema do qual lhe envio alguns versos, em tradução livre de tudo menos do erro. E há uma estrada que devo seguir, um lugar onde devo ir. Bem, ninguém me disse como chegar lá. Mas quando chegar saberei. Porque a estou a seguir. Passo a passo, bocadinho a bocadinho, Pedra a Pedra, Tijolo a Tijolo. Passo a Passo, Dia após Dia, Milha a Milha. Se usarmos o plural e substituirmos as milhas por quilómetros teremos uma ideia do que os casais enfrentam. O panorama não é animador… Declaremo-lo falso, caramba!, pois não resolve tudo e num rufo o amor? Não só não resolve como também ele se constrói. Como se recolhêssemos as canas do fogo-de-artifício da paixão e decidíssemos erguer uma casa com elas. Mas resistente!, como a do porquinho prático, o lobo mau sofre de stress pós-traumático após falhanço tão humilhante. O amor reconhece a beleza da girândola pirotécnica da paixão, mas não a inveja; seria como todo um ano aspirar a ficar suspenso nas comemorações da noite de 31 de Dezembro e desistir de viver. Nos afetos as cinzas não são o único destino da labareda, é possível manter acesa uma chama-piloto que permita atravessar a barra e atingir terra firme. Terra firme… Recordo o farol de Finisterra, onde as legiões romanas estacaram, temerosas, e as inscrições dos apaixonados. Por que o fazemos? Pela nostalgia de deixar marca, quem vier a seguir saberá que ali estivemos. Mas também por superstição inconsciente, «estamos juntos e se na pedra o gravarmos assim ficaremos». Se o terceiro passo for dado por ambos…

Quem o faz ganha o futuro, celebrado com pantagruélica paella marinera!

[Publicado originalmente na edição de 24 de janeiro de 2016]