Férias cá dentro vs. férias lá fora

Opostos férias

A escolha do destino para gozar as próximas férias nem sempre depende da carteira. Para a DJ Cátia Simão e para o fotógrafo Jorge Ferreira é mesmo uma questão de preferência: ela gosta de ficar por cá, ele escolhe sempre ir para o estrangeiro.

“Vá para fora cá dentro» foi o lema de uma campanha para incentivar os portugueses a passar férias no seu país. A ideia ainda convence Cátia Simão. A DJ de origem madeirense a viver em Lisboa há 20 anos representa uma escolha de muitos portugueses: preferir sempre Portugal como destino das férias grandes. Em oposição, há sempre quem escolha explorar outros países, como é o caso do fotógrafo Jorge Ferreira. Muitas vezes não é uma questão de olharmos para o bolso, tem mesmo que ver com desígnios pessoais.

Jorge não escolhe passar férias lá fora por mania de superioridade, é quase uma necessidade. «Quando estou em Portugal estou sempre a pensar na altura de me ir embora, tenho sempre essa necessidade, mas também me sabe sempre bem voltar. Mal regresso de umas férias ou viagem, já estou a pensar noutra.» Para Jorge, férias em Portugal não são bem férias. E como ele há muitos.

Cátia Simão gosta de retemperar dentro de fronteiras. Não é no estrangeiro que gosta de descansar. Tem orgulho no seu país e sabe que o turismo interno é uma fonte de descobertas que lhe proporciona um prazer dos diabos. «Tenho pena que as pessoas não viajem mais cá dentro. Há muito para descobrir, sobretudo nas ilhas, onde temos águas com 26 graus! Os portugueses, às vezes, são preguiçosos. As pessoas esquecem-se de como é bom explorar as suas raízes e visitar a terra.» Jorge mete-se ao barulho e baralha as contas: «Onde se conhece melhor o país é lá fora! É fora de Portugal que é possível termos uma outra visão do nosso país.»

Para o olhar do fotógrafo, o importante numas férias é a ideia da exploração, de nos sentirmos viajantes. Nesse sentido, admite que muitos portugueses não se metem no avião por medo de cair nas férias de pacote. Mas essas férias, confessa, não são a sua praia.

«Muitas vezes fazer férias em Portugal não é a solução mais económica, reconheço, mas compensa», diz Cátia. «E compensa porque estamos a valorizar o que é nosso. Acho engraçada essa ideia de se vender Portugal como destino turístico quando somos nós próprios que nos esquecemos de fazer turismo de qualidade entre portas… Eu já viajei muito por fora de Portugal e estive em sítios que ficam muito aquém de Portugal. Exemplos? As ilhas Gregas…»

Jorge contrapõe com um discurso lógico sobre as vantagens de conhecer o mundo. «De alguma forma, quando vamos a um país que não conhecíamos, estamos a ganhar mundo, a expandir a nossa mente. Sou daqueles que também viaja para conhecer os povos. Sou capaz de estar uma semana no mesmo local para ficar a conhecer melhor os locais. Nem imaginam o prazer que eu tive em conhecer um pescador timorense numa praia recôndita!» «Mas poderia ter tido o mesmo prazer se conhecesse o senhor Joaquim, de Olhão, que ainda hoje faz pesca tradicional», contrapõe Cátia! «Devo dizer que ainda me surpreendo muito com os portugueses, sobretudo com os pescadores, uma classe trabalhadora que está em vias de extinção. Fazer férias cá dentro dá-nos essa oportunidade de aprender coisas novas.»

Não se pense, porém – e ele faz questão de deixar isso claro –, que o fotógrafo não gosta de estar no seu país. «É aqui que tenho a minha família. Quando não viajo, onde quero estar é aqui», diz Jorge. Que, ainda assim, já se sentiu estrangeiro no seu país. Sobretudo no Algarve onde garante não ter sido muito bem tratado quando viram que não era estrangeiro. A resposta do outro lado não se faz tardar: «Olhe que por vezes no estrangeiro também não somos muito bem tratados, quando percebem que somos portugueses… Os franceses e os espanhóis são capazes de olhar para nós de lado.»

A grande vantagem das férias grandes em Portugal? Além da gastronomia e da qualidade dos vinhos, claro? «Há ainda muito por onde explorar em Portugal, está tudo em aberto», diz Cátia. «Ainda podemos descobrir pequenos paraísos. E este boost de estrangeiros teve uma vantagem: despertou o turismo adormecido. Sei que ainda há muito por fazer mas fico feliz quando se encontram destinos cá dentro tão genuínos e românticos. Como Cacela Velha, no Algarve. Ou a maneira como a Costa Vicentina está a ser reformulada com novas quintas e hotéis.» «Sim, contrapõe Jorge. «Hotéis e quintas feitos por estrangeiros… A verdade é que Portugal não é o mundo, somos tão minúsculos neste planeta e há tantos países que valem a nossa visita!»