«Este ano vou educar com amor e limites»

Chegado janeiro, surgem as resoluções de ano novo e os hábitos de vida mais saudável pautam os grandes objetivos para os doze meses seguintes. Mais raras são as resoluções relativas à forma como nos relacionamos, em particular na vida familiar, essencial a uma vida efetivamente saudável.  Por que não fazer um compromisso com quem mais ama?

O bem-estar e o equilíbrio psicológico crescem nutridos por dois ingredientes essenciais: o amor e os limites. O amor dá à criança a confiança incondicional de que haverá sempre alguém e algum lugar para partilhar momentos de felicidade e de dor, dúvidas, receios, sucessos e realizações. As regras desenvolvem a convicção de que o respeito pela liberdade dos outros é o único veículo para a nossa própria liberdade.

Entre os desafios da vida profissional e a intensa dinâmica familiar, somos rodeados por solicitações. Mesmo nos tempos livres, cada um com os olhos numa televisão ou num smartphone, perdemos a noção dos (muitos!) minutos retirados ao convívio familiar. Quando foi a última vez que estivemos com os nossos filhos sem ser para fazer os trabalhos de casa? E que jogámos em família? E que lemos uma história ou vimos um filme juntos? Quando é que fomos todos ao parque?

Quantas vezes relegamos a expressão do nosso amor para as ofertas materiais – a consola, o último modelo de telemóvel ou o jogo que saiu esta semana – e dedicamos o fim de semana a uma maratona de estudo para «ver se o miúdo melhora as notas»? Tudo aquilo em que acreditamos em matéria de amor e limites é colocado em prática com muita pressão e acabamos por impor regras de forma inconsistente, oscilando entre a autoridade «mãe-má» e a permissividade «mãe-deixa-tudo».

Desejamos que os nossos filhos sejam felizes, se divirtam muito e que vejam os seus sonhos realizados. Afinal, o que pode valer mais do que aquele sorriso rasgado? Pressionados pela culpa, transformamos o tempo juntos num «parque de diversões sem limites». Quando percebemos que este excesso de liberdade leva a birras e caprichos difíceis de gerir, vamos para o extremo oposto, assumindo um papel autoritário do «quem manda sou eu e não há mais conversas», infelizmente, sem melhores resultados.

A verdade é que as regras e os limites, quando bem definidos – consistentes, negociados, claros e atingíveis –, dão estabilidade, estrutura e segurança, favorecendo o desenvolvimento da criança e do adolescente, aumentando a sua autonomia e qualidade de vida, que é extensível a toda a família.

Este ano reflita no modelo de amor e responsabilidade que quer ser para os seus filhos. Transmita o seu afeto em tempo de qualidade. Mantenha a calma e a assertividade perante as birras e os confrontos. Seja firme nas regras que estabelecer e repita um «não» tantas vezes quanto necessário. Desenhe desafios possíveis de cumprir para o seu filho (e para si!), encoraje-o a resolvê-los sem ajuda e elogie-o, celebrando a sua conquista. Mostre-lhe o quanto os seus pais o amam!

Ano novo, vida nova. Este ano, trabalhe ou aprofunde o trabalho para dar ao seu filho o melhor presente de todos: as ferramentas para, um dia, ser capaz de enfrentar os desafios da vida adulta. Se lhe faltar o ânimo ou a coragem, faça «uma viagem ao futuro» e imagine o orgulho que vai sentir no adulto que ajudou a criar.

Bom ano, cheio de momentos felizes e com respeito em família!
10 RESOLUÇÕES PARA EDUCAR COM AMOR

1. Reserve pelo menos 10 minutos por dia para ouvir o seu filho, sem estar a fazer outras coisas.

2. Acompanhe uma iniciativa espontânea do seu filho para brincar.

3. Mostre-lhe frequentemente que o ama incondicionalmente.

4. Respeite um limite sugerido pelo seu filho e que reconheça como importante para ele.

5. Esteja presente nas ocasiões especiais na vida dele.

6. Valorize e elogie as qualidades do seu filho, aquilo que ele tem de melhor.

7. Planeie um momento especial com ele, só para os dois. Se tiver mais do que um filho, assegure-se de que cada um tem o seu momento especial.

8. Retribua as manifestações de carinho do seu filho.

9. Conte-lhe histórias da infância dele. Recorde-o dos momentos especiais que ele lhe proporcionou.

10. Mostre ao seu filho de que maneira gosta de ser confortado(a) e ajude-o a conhecer-se melhor também.
10 RESOLUÇÕES PARA EDUCAR COM LIMITES

1. Mantenha desde cedo rotinas de alimentação, higiene e sono.

2. Não dê ao seu filho tudo o que pede, mesmo que economicamente não seja um problema.

3. Diga «não» de forma positiva e repita-o quantas vezes for necessário.

4. Ajude-o a compreender quando erra e dê-lhe soluções alternativas.

5. Contribua para a assiduidade e pontualidade do seu filho na escola.

6. Seja consistente nas regras que estabelece. Não as faça depender do seu humor.

7. As regras devem ser as mesmas na casa da mãe, do pai, da tia ou dos avós.

8. Atribua responsabilidades ao seu filho nas tarefas domésticas

9. Diga claramente ao seu filho o que é esperado dele em cada situação.

10. Felicite-o quando corresponde às expectativas.

* Parceria NM/CADIn – Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil. Carolina Viana e Sandra Pinho são Psicólogas Clínicas e Joana Horta é Técnica Superior de Educação Espacial