Espírito do Natal

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Nesta altura, parece que toda a gente se transforma numa versão melhor de si mesma. Somos mais cordatos, mais pacientes, mais solidários, mais simpáticos. Porquê? E, já agora, como prolongar este espírito do Natal pelo resto do ano?

A 24 e 25 de dezembro de 1914, na frente ocidental da Primeira Guerra Mundial – e apesar de não ter havido uma trégua oficial – houve locais onde soldados de frentes opostas trocaram saudações festivas, alimentos e presentes num armistício informal que, contam relatos de época, incluíram jogos de futebol. Hoje, em muitos países, os presidentes concedem indultos e amnistias na altura do Natal. Os franceses cultivam a tradição de visitar alguém com quem estão desavindos, para se reconciliarem, no dia 25 de dezembro. E quase todos ficamos mais sensíveis às necessidades dos outros, temos mais dificuldade em dizer «não», aderimos a campanhas de solidariedade e, se nos aborrecem, em vez de fazermos um pé-de-vento, encolhemos os ombros e pensamos «é Natal…».

Há quem lhe chame espírito do Natal e é provável que seja assim que se sente hoje, 25 de dezembro, enquanto lê estas páginas. Mas também há quem lhe chame hipocrisia porque, quando chegar janeiro e desmontar árvore, tudo isto já vai estar esquecido. A contagem decrescente para entrar em modo de piloto automático e ser menos solidário, preocupado e benevolente já começou. A não ser que pudesse prolongar este estado de espírito. E pode, se quiser.

O que nos faz sentir assim no Natal? Não é o menino Jesus. O psicólogo Matthew Killingsworth, investigador na área da origem da felicidade e criador do www.trackyourhappiness.org, um projeto que usa os smartphones como forma de estudar a felicidade em tempo real, concluiu num dos seus estudos – através de respostas de 20 mil pessoas – que o Dia de Natal é, de longe, apontado como o dia mais feliz do ano. A razão principal, defende o investigador, é simples: passamos mais tempo com os amigos e a família – e isto define e prediz em muito a nossa felicidade. Outra das razões, suspeita-se, pode ter que ver com os presentes, não os que recebemos, mas os que damos. Vários estudos da Universidade de Harvard (de 2008 e 2012) mostram que comprar coisas para os outros aumenta consideravelmente a sensação de bem-estar, quando comparado com comprar coisas para nós.

Posto isto, eis a lista que promete avivar este bom espírito ao longo do resto do ano:

* PRESENTES NO ANO INTEIRO
Não espere por meados de dezembro para comprar os presentes de Natal. Além da vantagem óbvia de não fazer compras em cima da hora, distribuirá pelo ano todo a satisfação de escolher presentes para quem gosta.

* MANTER OU RETOMAR CONTACTOS
É fácil chegar ao Natal e enviar SMS de boas festas para metade da lista telefónica. Dá mais trabalho, mas é bastante mais recompensador tentar manter-se a par do que vai acontecendo na vida das pessoas amigas – mesmo as que vê pouco – e enviar felicitações, individualmente, sempre que se justifique: um novo emprego, o nascimento de um filho, um regresso ao estudo.

* DAR (NOS OUTROS 11 MESES)
Não é só no Natal que as crianças institucionalizadas, os idosos sozinhos ou as pessoas com deficiência precisam de ajuda. Sim, nesta quadra há mais campanhas e estamos mais predispostos a dar, mas se o faz no Natal, tente depois não perder de vista a causa ao longo do resto do ano, de forma a poder continuar a ajudar no que puder.

* ENGANE-SE PELO ESTÔMAGO
Faz sonhos ou filhós no Natal e adora-os? Então porque é que não pode também fazê-los numa tarde chuvosa de abril? Ligue à sua mãe, aos seus primos ou a uma amiga e desafie-os a fazer doces de Natal quando lhe bater a saudade de os comer.

* ALMOÇOS EM FAMÍLIA
Marque mais frequentemente almoços, lanches ou jantares com a família alargada. Crie uma nova tradição para esses encontros e associe-lhes uma data fixa: no primeiro domingo de cada mês, por exemplo.

* APROVEITE OUTRAS OCASIÕES PARA FAZER FESTAS
Encontre outras razões para celebrar, se necessário recorrendo ao calendário: a Páscoa, a primavera, o 25 de Abril ou o primeiro dia de verão são tão válidos para comemorações como o Natal. Faça uma festa de início de primavera, enfeite a casa para o dia de Páscoa, marque um lanche na praia no primeiro dia de verão.

TAMBÉM HÁ UM NATAL EM JULHO
Há uma tradição australiana que prova que o Natal é mesmo quando se quiser. Em dezembro, é verão no hemisfério sul, mas muitos australianos, pela sua relação com a Grã-Bretanha, associam o Natal ao frio. Por isso, há umas décadas, muita gente começou a comemorar o Christmas in July (Natal em Julho), sobretudo na zona das Montanhas Azuis, a cerca de sessenta quilómetros de Sydney. Não é clara a origem da festa, mas sabe-se que restaurantes, hotéis e outros negócios aproveitaram a ideia, como forma de promover o turismo nessa altura do ano. O Yulefest ou Yuletide, como é conhecido, já tem direito a um festival próprio com comemorações que duram o mês inteiro e incluem decorações de Natal, cortejos nas ruas, músicas natalícias, assados para o jantar e troca de presentes. É uma comemoração não oficial e não substitui o Natal a 25 de dezembro, mas tem ganho dimensão.