Dormir nu, comer pouco e não ter sexo

Notícias Magazine

Quer viver até aos 150 anos? Então tem de parar de ter sexo. É o que diz o professor Alex Zhavoronkov. E para se distrair dos seus impulsos sexuais o professor Z. recomenda que se concentre em comer menos. Como é que eu sei? Li no jornal. Em vários. No Telegraph fiquei a conhecer as dez dicas de Z. para viver mais, que vão desde fazer investigação em envelhecimento a andar com pessoas mais novas. Faz sentido. Na Visão descobri que Z. só consome 1700 calorias por dia e vi a fotografia de uma mulher jovem de costas com um soutien preto, junto a uma cama contendo um indivíduo que obviamente ingere mais de 1700 calorias por dia e que parece interessado em baixar a sua esperança de vida com a jovem em causa. As notícias são todas iguais, muda a fotografia. Alegações extraordinárias requerem provas extraordinárias, segundo afirmou o astrónomo e divulgador científico Carl Sagan. Quais são neste caso? Que tipo de investigação foi feita? Onde foi publicada? Há vários grupos a trabalhar no assunto? Confirmações independentes dos resultados? Não faço ideia. Mas é muito engraçado. Na Visão fiquei ainda a saber que dormir nu pode reduzir o risco de diabetes e ajuda a queimar calorias. Na SIC Notícias, que beber cerveja aumenta a líbido e o desempenho sexual nos homens. É mesmo uma chatice que o sexo dê cabo da esperança de vida. Por falar em vida, li no Correio da Manhã que os homens com os testículos mais pequenos são pais mais protetores. E na BBC Brasil que os cientistas argentinos asseguram que dançar o tango faz bem ao coração. Tem lógica.

Há muito bons jornalistas de ciência que não escrevem coisas assim. Mas estas não são notícias de ciência, não têm ciência nenhuma. Apresentam uma representação distorcida da ciência, como um conjunto delirante de curiosidades avulsas em que tudo é possível, uma caixa negra em que nada se percebe. Mas é muito engraçado. E é o terreno fértil para a pseudociência.

Um clássico da ditadura do engraçadismo nos media é a notícia do dia mais deprimente do ano. Costuma aparecer sempre por esta altura, desde 2005, ano em que o psicólogo Cliff Arnall inventou uma fórmula para tirar essa conclusão, como parte de uma campanha publicitária para uma agência de viagens. Calha na última segunda-feira de janeiro, é treta e ao longo da última década foi desmontada várias vezes, em blogues, jornais, livros. Mas vai uma aposta em como no fim do mês ainda vamos ter as notícias deprimentes do costume?

Periscópio

CONVERSAS CLIMÁTICAS EM OEIRAS
Assisti a várias «Conversas na Aldeia Global», debates conduzidos pelo jornalista Vasco Trigo, na Biblioteca Municipal de Oeiras. Conta habitualmente com convidados e temas interessantes, com um amplo espaço para a discussão, sempre aberta ao público. Os desafios e os riscos presentes e futuros decorrentes das alterações climáticas são o tema da próxima conversa, com o investigador Filipe Duarte Santos. No rescaldo da 21.ª cimeira do clima, que decorreu no final do ano passado em Paris, há questões que importa debater e perceber melhor. Eu ponho o dedo no ar e faço daqui uma pergunta: o acordo obtido pode ser realmente um instrumento eficaz? Na próxima quinta-feira, às 21h30, na Biblioteca Municipal de Oeiras. Entrada livre.

[Publicado originalmente na edição de 17 de janeiro de 2016]