Desporto para todos

Desporto

No Sport Club do Porto há atividades físicas para pessoas com deficiência ou necessidades especiais. Remo, hipismo, ténis, futebol ou artes marciais são só algumas, de um leque vasto disponível em férias desportivas e campos ocupacionais inclusivos.

Em setembro, a secção de desporto adaptado do Sport Club do Porto comemora dois anos. A iniciativa surgiu de uma ideia de Lia Couto, licenciada em Ciências do Desporto e atualmente a tirar o mestrado nessa área. «De todos para todos» é o lema do projeto que tem como objetivo fomentar e implementar a prática desportiva para cidadãos com deficiência, a partir dos seis anos, e sem limite de idade, através de uma semana de férias desportivas e campos ocupacionais a realizar nos períodos de férias escolares, num total de 58 dias por ano.

«Todos têm direito às mesmas oportunidades», diz a responsável de 22 anos. Em abril de 2014, realizou-se a primeira semana inclusiva, em parceria com a Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral de Valbom, no Porto, uma espécie de projeto-piloto. «Correu bem e percebemos que tínhamos capacidade para desenvolver o projeto. No ano passado, realizámos uma semana a nível particular, em que os pais pagavam um valor e os filhos participam nas nossas atividades.» Neste segundo ano, a iniciativa não contou com tantos participantes, sobretudo por dificuldades financeiras dos pais, bem como alguma tendência a proteger demasiado os filhos, acredita Lia. «O aspeto monetário constitui a maior barreira à participação destas pessoas».

Também por esse motivo, o Sport Club do Porto, fundado em 1904, tem recorrido a alguns apoios de forma a incluir cada vez mais participantes. Galardoado com o Prémio BPI Capacitar no ano passado – que premeia projetos de inclusão social de pessoas com deficiência ou incapacidade permanente – foi possível comprar uma viatura de nove lugares e com espaço para quatro cadeiras de rodas, no valor de 45 mil euros. «Temos várias secções, algumas distantes entre si a partir da sede, pelo que necessitávamos de uma viatura que assegurasse o transporte dos participantes.» Em paralelo, a Câmara Municipal do Porto irá também ajudar, já a partir deste mês de julho, permitindo que estes campos ocupacionais sejam gratuitos.

Remo, hipismo, ténis, padel, jogos de orientação, artes marciais, «dia à tropa» e saídas à praia são as atividades destas semanas de férias desportivas que irão arrancar este mês de julho e serão acompanhadas por monitores especializados nas áreas de atividade física adaptada, fisioterapia e terapia ocupacional. «Experimentar atividades novas, vivenciar bons momentos, conhecer novas pessoas, e, acima de tudo, divertirem-se e quererem voltar numa próxima vez, ou mesmo integrarem-se durante todo o ano numa modalidade desportiva, seja qual for, são alguns dos objetivos», diz o diretor-geral do Sport Club do Porto, Jorge Mota Santos.

As primeiras experiências «correram muito bem», diz Lia Couto. «Tivemos pais a partilhar connosco que aquela tinha sido a melhor semana na vida dos filhos. Teve um grande impacto nas suas vidas e começámos a perceber que esta lacuna de os pais não terem onde colocar os filhos nas férias poderia ser algo para explorar.»

O Sport Club do Porto pretende chegar às sete juntas de freguesia e associações de freguesias do concelho. «Cada semana terá até 21 participantes (cada junta de freguesia pode sugerir três), num total de 210 pessoas durante todas as férias escolares.» A instituição tem fomentado a promoção de atividades de desporto adaptado em escolas de ensino regular convidando também os alunos a deslocar-se às várias secções para a prática das mesmas. «A viatura nova vem dar uma grande ajuda no transporte das escolas para o Club e vice-versa.»

Serão cerca de 420 beneficiários diretos de um total de 28 escolas ou instituições com o objetivo de chegar a um maior número de cidadãos com necessidades especiais. O futuro pode passar por juntar cidadãos sem deficiência nos campos ocupacionais de forma a promover o relacionamento entre todos. «Percorremos um caminho longo e difícil, árduo e trabalhoso, mas sentimos que estamos no rumo certo para um projeto sustentado e inspirador», diz Jorge Mota Santos.

Como os sonhos também não têm limites, já existe um novo projeto na forja: criar instalações próprias para possibilitar terapias ocupacionais e fisioterapia a estas pessoas, uma vez que a componente de saúde tem sido muito valorizada pelos pais. «Esta é uma área em que trabalhamos mas recebemos muito de volta. Vamos continuar a lutar pelo sonho», diz Lia Couto.

VIDAS INSPIRADORAS
José Santos, atleta de remo e de vela, 35 anos, tem paralisia cerebral e foi um dos participantes da primeira semana inclusiva organizada pelo Sport Club do Porto. «Nestes campos, que agora passam a ser inclusivos, de e para todos, com a experiência de cada um, vemos que existe um caminho alternativo e este é o maior benefício que retiro da minha participação… inspiro e sou inspirado.

Se tudo na vida é adaptável, porque haveria eu de achar o desporto uma atividade restrita a um grupo de pessoas?» José é engenheiro de multimédia e foi recentemente convidado para começar a trabalhar no Sport Club do Porto como responsável pela área de multimédia e comunicação. Começou em julho, depois de seis anos no desemprego.

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