Viver numa atmosfera com oxigénio tem as suas vantagens. A respiração aeróbia é um processo altamente eficiente para obter energia dos alimentos. Mas, paradoxalmente, o oxigénio também pode causar estragos nas nossas células. Felizmente, estamos habituados e, ao longo de milhões de anos de evolução, desenvolvemos mecanismos que nos permitem destruir as espécies reativas de oxigénio, que são as problemáticas. Conseguimos fabricar poderosos antioxidantes, mas também precisamos de adquirir outros através da alimentação, como as vitaminas C e E.
Isto criou uma oportunidade de ouro para vender suplementos alimentares com antioxidantes. E nos anos 1990 parecia mesmo uma boa ideia, face ao papel dos danos causados pelo oxigénio em várias doenças e no envelhecimento. Mas ainda não havia ensaios clínicos que avaliassem os antioxidantes. Que se lixe, pensou a indústria lucrativa de suplementos alimentares. Assim, e enquanto o marketing inventava uma aura mítica para os antioxidantes, os cientistas descobriram que as espécies reativas de oxigénio (aquelas de que os antioxidantes dão cabo) também são necessárias. O nosso sistema imunitário usa-as como armas para destruir bactérias invasoras ou células cancerígenas. Aliás, é esse o modo de ação de vários medicamentos usados em quimioterapia. O ideal não é ingerir o máximo de antioxidantes que conseguirmos, mas mantê-los a um nível desejável. Por exemplo, para combater infeções, uma dieta com baixo teor de antioxidantes talvez seja a melhor opção.
Uma revisão sistemática da literatura médica publicada em 2012, que incidiu sobre suplementos com betacaroteno, vitamina A, vitamina C, vitamina E e selénio, não encontrou nenhuma prova dos benefícios destes antioxidantes em medicina preventiva. Pelo contrário, verificou um aumentou de mortalidade associado a alguns. Por exemplo, os suplementos com betacaroteno e vitamina E estão associados a um maior risco dos cancros do pulmão e da próstata, respetivamente. Em novembro de 2015, foi publicado na Nature um estudo, feito em ratos com melanoma, que mostra um aumento das metástases quando estes tomam suplementos com antioxidantes.
Estamos a falar de suplementos. Os benefícios para a saúde do consumo de frutas e legumes, que podem fornecer-nos antioxidantes suficientes, estão bem demonstrados. Ou seja: deve continuar a comer frutas e legumes mas esqueça os suplementos de vitaminas com antioxidantes. Há boa razões para pensar que podem fazer-lhe mal.
Periscópio
A NOVA GENÉTICA, EM COIMBRA
No início do século, ficámos a saber como se escrevem todos os nossos genes. A sequenciação do genoma humano foi um empreendimento notável, que envolveu cientistas de vários países e demorou anos a concluir. Hoje, é possível sequenciar um genoma de qualquer pessoa em poucos dias e podemos fazer novas perguntas. Se partilhamos os mesmos genes, por que somos todos tão diferentes? Por que algumas pessoas são mais suscetíveis do que outras a certas doenças? Por que reagem as pessoas aos tratamentos de forma diferente? A nova genética é o tema da palestra do investigador Claudio Sunkel, no dia 7 de abril às18h00 no Rómulo – Centro Ciência Viva (http://nautilus.fis.uc.pt/ rc/), situado no Departamento de Física da Universidade de Coimbra.
[Publicado originalmente na edição de 3 de abril de 2016]
