Cinco coisas que não sabe sobre o zika

Notícias Magazine

Apesar de o vírus ter sido isolado pela primeira vez em 1947 (num macaco que passou demasiado tempo numa floresta do Uganda chamada Zika), permaneceu cerca de 70 anos na clandestinidade. Infetava pessoas? Sim. Nalguns sítios, bastantes. Mas ninguém ligava. Depois, tal como um concorrente de um reality show, foi catapultado instantaneamente para o estrelato, por causa da sua associação a malformações congénitas. Em setembro de 2015, investigadores brasileiros notaram um aumento do número de bebés nascidos com microcefalia, nas mesmas áreas em que o vírus tinha sido detetado. Depois o material genético do zika foi encontrado no líquido amniótico e nos cérebros de fetos e bebés com microcefalia. Estudos em ratos mostram que o vírus ataca as células do cérebro e mata ratos muito novos. No início do mês ficámos a saber a forma detalhada do vírus em três dimensões, graças a uma técnica de microscópio eletrónica bastante arrojada. Sabemos também que o surto do Brasil teve origem noutro, nas ilhas do Pacífico, ocorrido em 2013 e 2014, também associado a problemas no sistema nervoso. Mas ainda há muitas coisas que não sabemos. Estas são algumas:

Quais são as razões para o surgimento recente do zika? As viagens globais e a concentração em meios urbanos são possíveis explicações, mas poderão existir outras. Mutações, por exemplo.

No continente americano, a espécie que se pensa ser responsável pela transmissão aos humanos (Aedes aegypti) não é muito competente: poucos mosquitos ficam com o vírus na saliva depois de ingerirem sangue infetado. Haverá outras espécies de mosquito importantes na transmissão do zika?

Quais são todos os problemas que podem resultar da infeção do feto com o vírus zika?

Qual é o período de incubação do vírus, ou seja, quanto tempo passa desde a infeção até aos primeiros sintomas?

Em dez mil grávidas infetadas com zika, quantas transmitem o vírus ao feto? Uma estimativa aponta para 95 casos de microcefalia por cada dez mil mulheres infetadas durante o primeiro trimestre. Mas não há nenhuma estimativa para fases mais avançadas. Há fatores de risco que aumentem o risco de transmissão?

O facto de existirem dúvidas não significa que todas as hipóteses malucas estejam em pé de igualdade. Para confirmar as hipóteses são precisas provas. À medida que mais grupos de investigação trabalham no assunto, confirmando ou refutando os resultados uns dos outros, mais fiável é o conhecimento que temos. Isso, é a ciência.

Periscópio

ALEXANDRE QUINTANILHA NO TEATRO DA TRINDADE
Das Ciências Naturais, como a Física ou a Química, às sociais, como a sociologia ou a Economia, e às Humanidades, como a História ou a Filosofia, todas as áreas do conhecimento contribuíram para a melhoria da nossa qualidade de vida. Mas em determinados períodos tendemos a enfatizar mais um ou outro desses domínios do conhecimento, esquecendo a sua complementaridade e construindo uma visão desequilibrada do mundo. «Melhoramento Humano» é o tema da palestra do investigador Alexandre Quintanilha, agora eleito deputado à Assembleia da República, na próxima terça-feira às 18h30 no Salão Nobre do Teatro da Trindade (http://www.inatel. pt/), em Lisboa.

[Publicado originalmente na edição de 10 de abril de 2016]