Uma ceramista à conquista do mundo

Filha de pai sueco e mãe portuguesa, Anna Westerlund foi modelo e estudou Publicidade, mas a cerâmica é que levou o seu nome além-fronteiras. Mulher do ator Pedro Lima, as suas criações conquistaram o chef britânico Jamie Oliver, que destacou uma peça sua na edição de julho da Jamie Magazine.

Alcachofras  con esparragos a la granadina. Para muitos, mais uma receita da edição de julho da Jamie Magazine, a revista do conceituado chef inglês. Mas, para nós, portugueses, um motivo de orgulho. A tábua de cerâmica usada como base do prato é produto nacional e é da autoria de Anna Westerlund. «Fui contactada por uma das produtoras que trabalham com ele, que me quis comprar algumas peças. Na altura, nem associei que ela trabalhasse para a revista. Enviei as peças para Londres e, depois, passado um tempo, ela enviou-me um e-mail a dizer “acho que vais gostar de saber…” E anexou a foto da peça na revista.» A foodstylist de Jamie Oliver conheceu o trabalho de Anna através da internet (além de estar no Facebook e no Instagram, a ceramista tem um site, annawesterlund. com, em que é possível conhecer o seu trabalho). Anna, cuja timidez e modéstia são encantadoras, diz, a medo, como reagiu quando viu o seu trabalho na publicação. «Fiquei vaidosa, confesso [risos]! Mas a foto está tão bonita que fiquei muito feliz por isso, independentemente de ser para a revista do Jamie. Claro que isso traz um plus, o nosso trabalho aparecer numa revista com projeção mundial.» Mais do que artista, Anna considera-se uma artesã. Apesar do sucesso, a ceramista admite, entre gargalhadas: «Ainda hoje tenho dúvidas se é possível fazer vida disto. E se eu, amanhã, não tiver mais ideias? Acabou-se! [risos].» Apesar de admitir que «as coisas estão a correr realmente bem», não deixa de frisar que existe sempre uma «angústia» inerente a quem vive de um trabalho que depende da criatividade.

Filha de pai sueco e mãe portuguesa, Anna, conhecida do grande público por ser a mulher de Pedro Lima, tem visto o seu trabalho como ceramista reconhecido internacionalmente, exportando peças para a Europa, Médio Oriente e até Austrália. A internacionalização, feita a partir do seu atelier, construído na casa da família, em Oeiras, tem sido o seu principal objetivo. Em setembro, Anna Westerlund vai estar na reputada feira Top Drawer, em Londres, um certame que reúne designers e artesãos de todo o mundo. Mas não estará sozinha. «Vou ter uma parceria com a Emma Kate, uma designer gráfica australiana. Vamos criar uma linha exclusiva para estar presente nessa feira», revela. Esta parceria está a ser feita «através de Skype», porque Anna e Emma nunca se conheceram pessoalmente.

Em Portugal, de norte a sul do país, e na Madeira, são 15 as lojas onde Anna tem as suas peças à venda. Além-fronteiras, Inglaterra, Bélgica, Alemanha, são alguns dos países onde também tem os seus produtos expostos. «Também é difícil ter mais porque a produção é muito artesanal», reconhece.

«Fazer as coisas com calma e com passos seguros» é o lema da ceramista. «Cheguei a esta fase em que decidi que estavam reunidas as condições para avançar para o mercado internacional. Felizmente a recetividade tem sido muito boa e muito interessante.»

No atelier de Anna, há prateleiras etiquetadas com nomes de países: Alemanha, Koweit. Peças quase prontas, umas por vidrar. Bules coloridos, jarras com a asa debruada a tecido e pequenas pérolas, chávenas, taças, potes. «A mistura de materiais foi um aspeto que se manteve ao longo do tempo», começa por explicar Anna, quando lhe pedimos para descrever a evolução do seu estilo. «Era algo de que os professores no Ar.Co não gostavam muito, mas sempre foi uma coisa um bocadinho minha, de introduzir outros materiais.» Ana tem vários cadernos de esquissos em cima da mesa, onde tece os rascunhos das suas criações. «Desenho muito, primeiro. Gosto de ter quase a certeza de que o que está desenhado vai ser reproduzido em cerâmica. Gosto de explorar, até porque fazê-lo em cerâmica pode ser dispendioso», ri.

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Anna nasceu em Lisboa em 1978. O pai é natural de Gotemburgo, a mãe é portuguesa mas Anna tem nacionalidade sueca. «De tempos a tempos, sinto saudades e necessidade de lá ir», confessa. «A minha mãe tornou-se ainda mais sueca do que o meu pai! Sinto em mim essas duas culturas.» O trabalho como manequim, que começou aos 17 anos e terminou aos 30, surgiu por acaso, ainda nos tempos do liceu. «Houve um concurso numa daquelas revistas para adolescentes. O meu irmão tirou-me umas fotografias, meio na brincadeira, enviei, fui selecionada e as coisas avançaram. A verdade é que eu era muito complexada por ser magrinha e, nesse aspeto, a moda trouxe-me paz.» Se a carreira na moda aconteceu por acaso, a escolha de estudar Publicidade e Marketing, na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa, nem tanto. Ainda assim, Anna não se sentia totalmente preenchida. E foram as viagens ao estrangeiro, enquanto manequim, que contribuíram para que desse uma reviravolta no seu percurso académico.«Comecei a viajar cada vez mais e, sempre que viajava, perdia-me a ver exposições. Fui percebendo que, quando voltava para o meu curso, cada vez desenhava mais… mas nunca dei muita importância a esse lado.» Decidiu, então, deixar Marketing e Publicidade e ir estudar Cerâmica para a Ar.Co (escola de arte independente). «Fiz desenho, pintura, joalharia, experimentei várias coisas mas a cerâmica sempre foi a área para a qual estava mais direcionada», diz.

Começou, então, a desenvolver parcerias com outras artesãs, integrando o atelier coletivo Caulino. A decisão de se lançar em nome próprio aconteceu há dois anos. E não sem receios. «Decidi que tinha de tentar, pelo menos, apostar a cem por cento na cerâmica. Há sempre aquela ideia de que ser ceramista é muito complexo. É verdade que é uma área difícil e que ninguém é ceramista a cem por cento. Parecendo que não, ao ouvir isto, a pessoa ainda mais receio tem de apostar. Mas achei que tinha de experimentar». A gestão do site, das redes sociais, a contabilidade, a logística da Anna Westerlund Ceramics, fez que a ex-manequim contratasse uma equipa. «Esse foi o passo principal para eu fazer da cerâmica algo mais a sério.» Emprega, agora, quatro pessoas, o que lhe dá margem de manobra para desenvolver outros projetos paralelos, como a parceria que tem com a designer de interiores Gracinha Viterbo.

Desistir de um curso superior, voltar atrás, experimentar áreas novas e descobrir o seu próprio caminho. Foi essa possibilidade, concedida pelos pais, que Anna considera ter sido essencial no seu percurso. «Eles ajudaram-me a investir e sempre nos deram a liberdade, tanto a mim como ao meu irmão, de fazermos as nossas escolhas e de repensarmos os nossos percursos académicos», explica, salientando ainda o apoio incondicional do marido, Pedro Lima. «Permitiu-me andar mais a navegar. Eu ia dizendo “eu ando devagarinho mas vou fazendo o meu caminho”. E a verdade é que ele sempre acreditou nisso e sempre me apoiou. Tendo nós uma família numerosa [o casal tem três filhos em comum, Emma, de 11 anos, Mia, de 8 e Max, de 5], acabou ele por se sacrificar um bocadinho mais em termos artísticos do que eu. E isso é muito generoso.»