Rodrigo, o cuidador

Gosta de animais e não pode ver um problema que tenta logo encontrar uma forma engenhosa de o resolver. Foi graças a esse seu traço de carácter que nasceu a Animalife.

Desde miúdo que Rodrigo Livreiro (em primeiro plano na foto, à esquerda, pullover azul escuro), 31 anos e três gatos, gosta de animais. E de criar soluções inovadoras para velhos problemas. «Acho que a idade dos porquês em mim nunca passou», diz, com graça. Talvez por isso, formou-se em Gestão de Marketing e tornou-se empresário no ramo de seguros de saúde para animais de companhia. O negócio corre bem, mas os constantes apelos de associações de proteção dos animais – a braços com um aumento dos seus «utentes», devido ao crescente abandono por parte dos donos, e com uma enorme dificuldade em dar-lhes resposta, quer em termos alimentares quer de cuidados de saúde – fê-lo tomar consciência de um mundo de problemas que o exortavam a agir.

Começou, em 2010, no âmbito da responsabilidade social da sua empresa, a AnimaDomus, por pôr as novas tecnologias de informação ao serviço da causa e criar uma rede social que reunisse as associações e possibilitasse a divulgação em massa dos animais para adoção, tornando assim mais fácil a comunicação entre quem oferece e quem procura. Cada associação teria uma página, com acesso a um back office individualizado, que lhe permitiria atualizar toda a informação sobre os animais para adoção, divulgar apelos urgentes, receber donativos, cativar voluntários e sócios, ajudando a criar condições para apoiar os animais ao seu cuidado de uma forma mais rápida e simples. Estavam lançadas as bases da Animalife e os milhares de e-mails e contactos que de um dia para o outro tinha para gerir mostraram-lhe o muito que havia por fazer. E não podia fazê-lo sozinho. Em outubro de 2011, a Animalife constitui-se como associação sem fins lucrativos e há três anos que não para de crescer em projetos, voluntários e raio de ação.

«Olho para trás e se, por um lado, me espanto e orgulho com tudo o que conseguimos fazer em três anos, por outro, preocupo-me com tudo o que ainda temos por fazer. Temos 150 voluntários, cinco núcleos, em Lisboa, Porto, Coimbra, Oeiras e Sintra, apoiamos 130 associações, 300 famílias, dezenas de pessoas sem abrigo e milhares de animais, mas mesmo assim sinto que fazemos pouco, que há tantos outros concelhos do país e tantas outras pessoas que precisariam da nossa ajuda.

Queremos chegar a mais gente, mas sabemos que não conseguimos chegar a todos e isso frustra-nos», diz Rodrigo Livreiro, para quem o mais gratificante é ver nos olhos das pessoas a alegria de poderem manter o seu animal de companhia, que é um membro da família, para muitos a única família.

Para cumprir a sua missão, a Animalife dinamiza o Banco Solidário Animal, que nos dois últimos fins de semana fez uma campanha de recolha de alimentos para animais, tendo conseguido com esta ação, que tem o apoio da lojas Continente, angariar mais de duzentas toneladas de alimentos, que serão distribuídos não só a associações como diretamente a famílias e a pessoas sem abrigo. «Começámos por trabalhar com as associações que recolhem animais, mas a certa altura apercebemo-nos de que havia muita gente carenciada que não queria separar-se dos seus animais mas que não tinha dinheiro para os alimentar. E não havia nenhuma estrutura à qual recorrer. É devastador psicologicamente, sobretudo para quem já está numa situação vulnerável, ter de lidar com o sofrimento e a culpa de não encontrar outra solução senão a de abandonar o seu animal», afirma Rodrigo, que tem lutado também para sensibilizar IPSS e assistentes sociais para esta questão muitas vezes desvalorizada. Por isso, em 2012, a Animalife acrescentou uma prioridade à sua missão: ajudar pessoas e famílias carenciadas, com animais a cargo. Em parceria com IPSS e autarquias, identifica agregados familiares com comprovadas carências económicas que têm animais de companhia e implementa um sistema de apoio que assegure alimentação e cuidados de saúde, que incluem esterilização, vacinação e desparasitação.

Recentemente, por convite de associações de proteção aos sem-abrigo do Porto e de Lisboa, as quais têm vindo a identificar vários utentes com animais de companhia, a Animalife dá também apoio a estas pessoas, através de uma equipa de voluntários que acompanha as rondas dessas associações (Comunidade Vida e Paz, em Lisboa, e Coração na Rua, no Porto). Pessoas e animais agradecem.