Próxima paragem: ondas

Têm a prancha e o fato, sabem onde é que o mar está bom e têm tempo para apanhar umas ondas. Mas não têm o meio de transporte para chegar à praia? Não há problema: chamem o Surf Bus.

Em tempos complicados, por vezes, as ideias mais simples são as melhores. Foi o que pensaram Daniel Beirôco, 35 anos, e Gonçalo Pereira, 32, ao lançar a Surf Bus. Formados em Economia e Gestão e apaixonados por desportos de ondas, os dois amigos decidiram, há um ano, deixar tudo e avançar para um novo negócio que juntasse o que mais gostam de fazer com o que fazem melhor. Graças a isso, os surfistas da zona da Grande Lisboa viram a sua vida facilitada. Há três meses dispõem de um Surf Bus, que os leva e traz da praia. Qualquer praia.

«Queríamos lançar um negócio ligado ao nosso hobby, mas não queríamos mais uma escola de surf, até porque só em Lisboa há 180. A aposta tinha de ser num agregador de mercado que beneficiasse da parceria com escolas e hostels», explica Daniel. Depois de muito estudo, pesquisa e análise, descobriram uma falha que podia tornar um dia de ondas perfeitas num pesadelo para qualquer surfista. E foi dessa falha que fizeram negócio. Não faltam equipamentos, nem escolas, mas falta transporte até às praias.

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«Quando comecei a surfar, ia de comboio, mas hoje os pais são mais receosos, não querem deixar os miúdos ir sozinhos»,  diz o empresário, que considera a rede de transportes que liga a capital às praias escassa e complexa, o que leva a que os surfistas mais jovens e sem carta dependam da boa vontade dos pais ou amigos para irem apanhar ondas. Já para não falar dos turistas, para quem a tarefa de chegar à praia pode ser um verdadeiro quebra-cabeças. Foi este problema que a Surf Bus veio resolver.

Com uma carrinha amarela de 16 lugares, Daniel e Gonçalo partiram à aventura num negócio desconhecido, mas que já é um sucesso. Porquê? Talvez o episódio relatado pela concierge de um dos hotéis de 4 estrelas que contactaram para estabelecer parcerias responda a pergunta. «Contou-nos ela que estava a tentar explicar a um grupo de turistas como chegar à praia e desistiu quando se lembrou da Surf Bus, porque apanhar  o metro, depois o comboio e depois o barco é muito complicado. E acaba por compensar o custo», diz Daniel.

A ideia por detrás do conceito foi criar uma ligação direta e segura entre a cidade de Lisboa e os locais ideais para desfrutar das melhores ondas. O surfista telefona ou envia um e-mail, marca uma hora e um local, e a Surf Bus leva-o até à praia voltando a trazê-lo de volta a uma hora combinada. A partir de dez euros (ida e volta), os surfistas têm à sua disposição uma maneira de chegar à praia que preferirem, da Costa de Caparica a Carcavelos, Guincho, Praia Grande, entre outras.

No início, o investimento foi grande e moroso, porque trata-se de um transporte de passageiros e as leis são complexas, ainda para mais quando grande parte dos passageiros são crianças. A carrinha teve de ser adaptada para estar em conformidade com todas as leis, mas, segundo os dois sócios, tudo valeu a pena. Lisboa é um dos principais pontos turísticos da Europa e o surf ganha terreno a olhos vistos. «Não há outra capital na Europa com tanta presença no mar, mas infelizmente não está a ser totalmente aproveitada. Na costa portuguesa podia até fazer-se o circuito mundial de surf, o nosso país tem excelentes condições e cada vez há mais surfistas», defende Gonçalo, que, apesar disso, nesta época de verão não tem tido mãos a medir. Com as parcerias que fizeram com ATL e surf schools, até já se viram forçados a recusar serviços. Enquanto até ao início do verão, a percentagem de portugueses e estrangeiros que a Surf Bus transportava era praticamente idêntica, agora a grande maioria são crianças da zona de Lisboa.

«Somos uma transportadora, única e exclusivamente, não damos aulas. Acabámos por criar um novo segmento de mercado», diz Gonçalo. Apesar disso, se o surfista (ou candidato a) não tiver equipamento para o surf ou quiser frequentar uma aula, a Surf Bus, através dos seus parceiros, ajuda-o. «Gostamos de dar soluções às pessoas. E de partilhar o conhecimento de quem já pratica surf há alguns anos. Temos todo o gosto em explicar as condições do tempo, os melhores sítios para surfar e tudo aquilo que o cliente precisar. Faz parte do espírito surfista. Mas só se paga o transporte, o resto é cortesia», brinca Gonçalo.

Os dois amigos, que já viajaram por alguns dos mais famosos spots de surf do mundo, quiseram também trazer para o negócio as suas experiências e o ambiente de comunidade que se vive entre os surfistas nessas partes do mundo. «Viajar, conhecer, trocar impressões. Quando trazemos de volta pessoas que fizeram surf pela primeira vez é superinteressante ouvir o feedback delas durante a viagem, a troca de impressões e de experiências. Acaba por se criar uma comunidade não só dentro de água mas também cá fora. Por isso é que não queremos ser uma frota com autocarros enormes, queremos que as pessoas falem e se conheçam e entrem na onda do surf», diz Gonçalo. Como eles. Que desde que iniciaram este negócio, passaram a ter prazer em sair para o trabalho todos os dias.