O papel já não é só papel.

Não há símbolo maior dos velhos preceitos da escrita do que o caderno Moleskine. Mas, num tempo em que o papel luta pela sobrevivência, até os míticos cadernos se adaptam ao digital.

No último fim de semana, o The New York Times trazia um artigo sobre a revolução digital dos cadernos Moleskine. Os blocos de notas de capa dura são míticos – Ernest Hemingway e Bruce Chatwin usavam-nos para tirar apontamentos, Picasso para criar esboços. «O mercado de pessoas que precisam de ferramentas para expressar as suas ideias está a crescer muito rapidamente», dizia ao jornal norte-americano Arrigo Berni, diretor da empresa italiana. «E uma boa parte desse mercado está a ser tomada por aparelhos digitais.»

A Moleskine tenta adaptar-se. Em 2010 firmou uma série de protocolos com parceiros digitais e nos últimos cinco anos criou ferramentas para que os escritores pudessem passar diretamente as notas dos cadernos para os tablets e telemóveis e partilhá-las com o mundo. Quem desenha pode utilizar canetas inteligentes com atualização digital imediata. A empresa está a preparar-se para o futuro. No mercado do papel, é uma pedrada no charco. Os jornais são a face mais visível do declínio da indústria. Segundo a Associação Mundial de Jornais, em 2014 a indústria atingiu o ponto mais baixo dos últimos 50 anos – descendo as vendas em quase três por cento em relação ao ano anterior. Em Portugal o panorama é ainda pior. O ano passado, a quebra nas vendas foi de dez por cento, segundo a Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação.