Natal vs. antinatal

A rapariga do gorro é a apresentadora Luísa Barbosa O Grinch – nome do personagem que detesta o Natal – é o músico Paulo Furtado, ou Legendary Tigerman, que todos os anos, por esta altura, cumpre a tradição dos concertos antinatal na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa.

Braço‑de‑ferro entre uma Mãe Natal e uma espécie de Scrooge. Um conto de natal com um resmungão da quadra, o músico Paulo Furtado, conhecido por The Legendary Tigerman, e uma fã do espírito desta época, a apresentadora da SIC Luísa Barbosa. É tomar o partido: embirrar com as tradições ou abraçar o clima de festa e generosidade da maior celebração da humanidade?

«Em puto ainda cheguei a gostar, a partir da adolescência nunca… Ao longo dos tempos fui sempre arranjando pretextos para depois do jantar ter sempre outra coisa a fazer», diz Furtado. Luísa defende a sua dama: «O que me atrai mesmo no Natal é todo este período até ao dia 24! O facto de as pessoas se despedirem com um “Feliz Natal” toca‑me! É um período em que todos interagem de forma diferente. A malta pode não ter um tostão, mas há um espírito diferente.»

Filmes e canções de Natal também ajudam a criar o «bom feeling» de Luísa, que realça que o dia do menino Jesus pode ser um pretexto para, por exemplo, um casal oferecer presentes um ao outro, ou para famílias que vivem longe se reunirem. «Acho que tudo isso é mais uma obrigação», diz o homem tigre. «Quanto às prendas, quando começamos a receber peúgas, é aquele sinal de que estamos a crescer. Não fiquei traumatizado com as meias, aliás, isso é a parte boa do Natal.»

O Natal perfeito da apresentadora é com poucos anjinhos e mais sinos, neve e bolas coloridas. «Isso e desembrulhar as prendas. Mas cinquenta por cento da magia é a árvore de Natal! Como neste momento vivo sozinha, basta colocar um cone vermelho, umas luzes e já está. Não pode ser mais porque tenho duas gatas que gostam demasiado de brincar com as grinaldas… Tudo isso tem que ver com a tradição e a maneira como cada um cresceu. Na minha casa, quando era pequena, o Natal era muito isso: fazer a árvore.»

Quando sabe que o seu oposto nunca fez a árvore, Luísa abre a boca de espanto. Garante que gosta do Natal porque é uma mulher romântica, mas não fica de cabelo em pé quando ouve Furtado a sugerir que o Natal deveria ser celebrado à vez com o Dia de Ação de Graças e o Hanukkah judaico. Aliás, tomado pelo espírito do Pai Natal ou não, Paulo decide mesmo abrir um parênteses antibeligerante: «Já fiz de pai natal uma vez, por um sobrinho, e é uma cena superfixe, admito. Para mim, o Natal só tem sentido quando é com putos e ainda lhes podemos dar esse bocado de sonho. A verdade é que já gostei do Natal! Lembro‑me de acordar ainda puto na casa de meus avós e ir a correr lá abaixo à sala para espreitar os presentes nas meias… Cheguei a acreditar no Pai Natal! Mas comigo é fácil, sou um gajo que acredita em tudo.» Mas logo a seguir lembra‑se por que razão não tem pachorra para estes dias: odeia canções de natal. Não lhe ponham à frente o Last Christmas, dos Wham! Ao contrário, Luísa gosta de melodias de Natal e refere Nat King Cole com o clássico Chritsmas Song.

Luísa Barbosa tem uma máxima que arruma com Furtado e enfurece quem está de dieta: «Nunca há bolos a mais no Natal e não acredito que haja mulheres com medo de perder a linha devido aos doces do Natal! Isso é uma ideia feita. Sou fã de aletria, de arroz-doce, das broazinhas encantadoras. » O Legendary Tigerman muda de assunto porque também é fã da mesa doce natalícia e propõe traumas com presentes quando conta as suas lembranças de uma certa tia: «Cada presente dela cheirava sempre muito a naftalina! Eu julgava que ela tinha um baú cheio de cenas que lhe iam dando e conservadas em naftalina. As prendas eram sempre assim coisas muito estúpidas…»

Os gostos não se discutem quanto a filmes de Natal. Ele odeia Sozinho em Casa, ela adora, mas não é por isso que no final deste encontro não deixa de ser convidada para ir à ZDB a 25 ou 26 de dezembro para um dos famosos concertos (anti) Natal de Legendaray Tigerman. E o que é afinal o espetáculo Fuck Christmas deste homem‑orquestra? «São sempre concertos algo desconstruídos cheios de convidados. Aliás, cada vez há mais convidados. No fundo, é a minha tentativa de criar um Natal qualquer. Os jantares desses concertos são sempre uma ocasião para estar com uma série de amigos.» Mas sem trocas de presentes. Isso era ir demasiado longe.

«Posso oferecer‑te um fato verde do Grinch para usares no concerto?», pergunta Luísa. O rocker acha a ideia formidável: «Mas não uso no espetáculo, apenas durante o jantar e depois. Na verdade, há dias em que acordo um bocado Grinch, seja como for oferecia‑te um fato de mãe natal tipo Betty Page» [a pin‑up americana da década de 1950].

LUÍSA BARBOSA
Além da notoriedade como apresentadora de televisão, é conhecida no meio dos humoristas como comediante em espetáculos de stand-up. Antes de chegar à SIC, onde tem vindo a mostrar o talento no Famashow e nas transmissões de especiais de festivais de música, esteve também na MTV Portugal e na RTP.

PAULO FURTADO
Um dos nomes mais internacionais da música nacional notabilizou-se como The Legendary Tigerman, projeto a solo que cruza rock e blues. É também compositor e vocalista da banda WrayGun. Foi um dos fundadores dos Tédio Boys. Além desses projetos, tem vindo a destacar-se como compositor de bandas sonoras para cinema e teatro.

O QUE ESTÃO A FAZER?

Paulo Furtado
A preparar os concertos de tradição (anti) natalícia na ZDB. O espetáculo Fuck Christmas, I’ve Got the Blues pode ser visto nos dias 25 e 26.

Luísa Barbosa
Continua todas as semanas a ser uma das apresentadoras do magazine televisivo da SIC, FamaShow.