Instituições de ensino inferior

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A iridologia foi inventada no século xix por um húngaro chamado Ignaz von Peczely, depois de encontrar uma coruja com uma perna partida, que tinha também uma risca preta no olho. O bom Ignaz não era rapazinho para pensar duas vezes e concluiu imediatamente que as duas coisas estavam relacionadas. É esta a origem da crença de que na íris estão representados todos os órgãos e partes do corpo e que através dela podemos diagnosticar problemas de saúde. É divertida, mas claro que não tem fundamento científico nenhum. Para provar que podem fazer-se diagnósticos fiáveis não basta olhar nos olhos, são necessárias experiências científicas, descritas de modo transparente, para que vários grupos de investigação possam confirmar ou refutar os resultados. Por exemplo, verificar se iridologistas experientes conseguem acertar nos diagnósticos de pacientes que têm doenças bem identificadas. Não conseguem. Se conseguissem, a iridologia seria um método de diagnóstico convencional.

Se tudo correr como se prevê, e graças a um conjunto de portarias publicadas em junho pelo anterior governo, em breve poderão ser reconhecidas licenciaturas cujos programas abrangem coisas como iridologia, auriculoterapia (a mesma coisa que a iridologia mas com orelhas) ou aromaterapia (que não cheira nada a ciência), que em comum têm o facto de não conseguirem apresentar provas da sua eficácia e segurança. Por isso precisam de legislação própria e regimes especiais. Sujeitas aos gerais, não se safam.

Foram apresentados na Agência de Acreditação e Avaliação do Ensino Superior 16 propostas de licenciaturas em terapias alternativas, em osteopatia, acupuntura, naturopatia e fitoterapia. Não faz sentido oferecer licenciaturas em tratamentos que não têm fundamento científico. É o mesmo que haver licenciaturas em engenharia de sabres de luz, ao estilo da Guerra das Estrelas. Com o efeito perverso de que passará a poder dizer-se que essas práticas se baseiam na ciência. Tanto, que até há licenciaturas!

À exceção do Instituto Politécnico do Porto, todos os pedidos foram feitos por instituições privadas, que oferecem também cursos noutras áreas da saúde. As licenciaturas em banha da cobra desqualificam não só as instituições, como os respetivos alunos, atuais e antigos, que se esforçaram para fazer um curso a sério. E traçam uma linha que divide as instituições de ensino entre as que se dispõem a ensinar falsa ciência e as que não.

PERISCÓPIO

OS PROBLEMAS DO MUNDO RESOLVIDOS NUM GUARDANAPO
Qual é a área total de uma toalha de banho típica? A resposta não é tão simples como parece, porque as toalhas têm uma miríade de pequenos filamentos, em ambos os lados. É necessário estimar o número de filamentos por unidade de área e a área de cada filamento. O resultado é surpreendente: a superfície de uma toalha de banho é comparável à de um apartamento. Ajudar a fazer estimativas para quase tudo é o objetivo do livro Problemas e Estimativas, de Lawrence Weinstein e John A. Adam, editado recentemente pela Gradiva. E isso pode ser útil. Por exemplo, sabe quanto tempo é que trabalha só para pagar a ida de carro para o trabalho? E a que velocidade vai realmente se levar esse tempo em conta?

[Publicado originalmente na edição de 20 de dezembro de 2015]