André, o jogador

Antes de tomar a iniciativa de estar um ano a trabalhar para os outros, André Coimbra já conhecia o gosto de ajudar. Começou no póquer em 2005, primeiro em part-time, em 2008 como profissional, e desde então doa dez por cento do que ganha (não adianta os números dos rendimentos, mas diz ser suficiente para levar uma vida confortável). No ano passado, decidido a experimentar alguma coisa que fosse ao mesmo tempo diferente e útil, lançou a si próprio o desafio de passar um ano a jogar, com a ideia de oferecer o dinheiro assim obtido para solidariedade social. Começou com cem dólares, terminou com 69 271 no bolso – mais de 50 mil euros que entregou à Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) de Figueira do Lorvão, Penacova. Nunca, em 28 anos de vida, tomou uma resolução tão atrevida como essa. Mas nenhuma outra lhe trouxe tanta alegria.

«Passei um tempo motivado por objetivos financeiros, mas não gostei da sensação e então quis tentar uma temporada a ganhar dinheiro para pessoas mais necessitadas, a ver como corria», diz André, que integra a equipa profissional online da PokerStars, empresa responsável pelos principais sites da modalidade em todo o mundo. «Só decidi no final que seria a APPACDM de Figueira do Lorvão a beneficiária porque tudo dependia do dinheiro que conseguisse em 2013: dois mil euros dariam para uma coisa, 200 mil dariam para outra.» Com os seus 50 mil, conta, a instituição comprou uma carrinha Mercedes «enorme, com condições fantásticas», que substituiu uma antiga e mal equipada que obrigava o motorista a carregar os doentes em cadeiras de rodas à força de braços. A mão certeira que tem para o póquer provou ser igualmente eficaz a elevar o próximo. «Por norma, são as instituições dos grandes centros urbanos que mais ajudas recebem e o meu objetivo foi também dizer às pessoas que não esqueçam os pequenos.»