Rosa, a angariadora

A crise tirou-lhe o emprego e as perspetivas de futuro, mas não a vontade de ajudar outros mais desamparados do que ela. Rosa Alves é voluntária no combate à pobreza há três anos e anima-se com o sonho de ter a sua própria associação.

A realidade pode ser severa, uma melodia dura de ouvir, por isso Rosa Alves alivia-a como pode com dois dedos de conversa e um sorriso. Aos 12 anos já gostava de ajudar a mãe a tomar conta da família, fazendo as compras e as refeições, cuidando da casa. Para os vizinhos, tinha sempre uma palavra amável. Quando a vida lhe fechou a fábrica de malas de senhora que geria, sacudiu a pena e voluntariou-se na Associação Nacional de Combate à Pobreza (ANCAP), em Vila Nova de Gaia, grata por ainda poder dar de si aos outros. «Estou lá todas as tardes, quatro horas por dia, a angariar apoios no call center e a recolher alimentos para os cabazes. Apoiamos 45 famílias com bens alimentares, vestuário, mobiliário e brinquedos, além de várias causas do momento. Estamos agora a tentar ajudar um menino com paralisia cerebral que precisa de uma cadeira de rodas muito específica.»

Dor nenhuma endureceu o coração desta mulher de 55 anos, desempregada há três e a viver com dificuldades do subsídio de desemprego. Podia ser amarga, revoltar-se com a fibromialgia que lhe retira perspetivas de colocação, apesar da licenciatura em Gestão de Empresas. Mas faz por não esquecer o essencial. «Fazemos o levantamento das necessidades de quem nos procura, para chegarmos ao maior número possível. Há pessoas muito sós», lamenta Rosa Alves. «Tenho uma senhora a viver em Trás-os-Montes que diz que o maior medo é morrer e ser encontrada semanas depois. Combinei telefonar-lhe diariamente para a sossegar.» Sem filhos, sonha criar a sua própria associação de apoio a crianças maltratadas, carenciadas ou abandonadas. «Antes de fazer voluntariado nunca pensei que houvesse tantas nessas condições, nem tantas com doenças raras. É assustador. E um grande motivo para continuar.»