Portugueses Extraordinários

Transformar uma zona industrial degradada num espaço de intervenção artística. Foi o que Cláudia Ramos fez no Barreiro. A partir de setembro, a Baía do Tejo respira arte.

A Revolução Industrial chegou a Portugal na segunda metade do século XIX mas, no início do século xx, o Barreiro fervia. Era um dos epicentros nacionais da produção operária, sobretudo a partir de 1908 quando, na margem do Tejo, abriu uma unidade de extração de azoto. A CUF (Companhia União Fabril) explica em grande medida o desenvolvi­mento daquela terra. Com o tempo vieram as fábricas de têxteis, químicos, construção naval e metalomecânica. Seis mil pessoas trabalhavam ali, o complexo tinha bairros residenciais, cinemas, até um quartel de bombeiros próprio. Depois do 25 de Abril de 1974, o complexo foi perdendo impor­tância. Muitos trabalhadores perderam empregos, muitos edifícios ficaram em ruína. «Culturalmente, tornou-se uma zona morta», diz Cláudia Ramos, 31 anos.

Agora as coisas estão a mudar, e isso é culpa dela. Cláudia, uma artista plástica que trabalha sobretudo em fotografia, decidiu apresentar um projeto à Fundação Calouste Gulbenkian. «Criei uma associação, a Casinfância, que trabalha para levar a arte contemporânea a sítios improváveis.» Vai começar pela ruína industrial do Barreiro, todo o território da antiga CUF agora transformado em Baía do Tejo, um parque empresarial nas antigas instalações da CUF.

Até setembro, seis artistas estarão a cumprir ali uma residência artística, em áreas de escultura, desenho, fotografia e instalação sonora. Ela e Ricardo Jacinto, António Bolota, Valter Ventura, Martinha Maia e João Serra, nomes fortes da nova geração das artes plásticas. No final do verão, haverá um novo percurso artístico na zona, que desembocará no Museu Industrial do Barreiro. Chamaram ao projeto «Da Fábrica Que Desvanece à Baía do Tejo». A memória constrói-se todos os dias.