Na cidade, em movimento

O verão ainda vem longe, mas os dias longos e as temperaturas amenas já convidam a experiências ao ar livre. A cidade oferece soluções – em terra, na água ou no ar– para aproveitar os espaços verdes e o contacto com a natureza.

 

DE GALHO EM GALHO
O arvorismo é a opção ideal para quem quer estar próximo da natureza e não tem medo das alturas. A modalidade surgiu ainda na década de oitenta como método de pesquisa científica da fauna e da flora em florestas tropicais. Os pesquisadores, que necessitavam de fazer registos e observações e recolher amostras de vida selvagem, viram inconvenientes na constante subida às árvores e começaram a transpor as copas sem nunca pisarem solo firme, usando cordas e mosquetões e construindo plataformas nos galhos e troncos. Décadas mais tarde, esta atividade democratizou-se como desporto ecológico de aventura e os percursos ficaram mais elaborados com paralelas, redes, tirolesas e cabos, encenando o tipo de deslocação dos nossos antepassados de há vários milhares de anos.

Da selva para os parques das cidades, a modalidade conquistou proximidade urbana. A poucos minutos do centro do Porto, a empresa Geração Aventura criou um percurso de arvorismo acessível a quase todo o tipo de participantes e idades. «Dos 6 aos 80 anos, todos podem experimentar», garante Ricardo Nogueira, sócio-gerente da empresa e professor de Educação Física, «basta que demonstrem alguma perícia e destreza motora». Com equipamento adequado e em segurança, os participantes criam uma forte integração com o meio natural ao mesmo tempo que trabalham a coordenação, o equilíbrio, a orientação espacial, a força e a flexibilidade. «Como atividade física, o arvorismo é muito completo e tem também um papel na superação de medos e no comportamento social», acrescenta Ricardo Nogueira. Os participantes, ao serem inseridos em equipas, desenvolvem aptidões para o trabalho em grupo. Por isso, este desporto é muito popular nos encontros de empresas e organizações.

Mais informações em Geração Aventura.

 

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AO SABOR DO REMO
O exercício de estar de pé em equilíbrio sobre uma prancha larga e comprida, com um formato semelhante ao de uma longboard, recorrendo a uma pagaia para deslizar nas ondas, deve, à partida, intimidar os menos experimentados no mundo dos desportos aquáticos. Porém, quem conhece o Stand Up Paddle, ou SUP para os familiarizados, garante que este é dos desportos «mais democráticos» que podem ser experimentados dentro de água. A modalidade tem vindo a crescer nos últimos anos porque, como explica Manuel Román, «é acessível a qualquer pessoa de qualquer idade», desde que tenha tido a formação adequada. Porto–riquenho, em Portugal há duas décadas, este praticante e professor de SUP batizou a escola que dirige na praia da Parede, linha de Cascais, com o nome da conhecida música de Bob Marley Get Up Stand Up e aceita alunos até aos 80 anos e com mobilidade reduzida.

O segredo da abrangência deste desporto está nos diferentes tipos de SUP existentes, adaptáveis aos vários perfis de alunos. Os menos afoitos e menos preparados fisicamente podem optar por simples passeios em águas tranquilas – «há quem pesque ou faça ioga sobre a prancha», conta o professor; já para os radicais o SUP Race, corridas entre praticantes, e o SUP Surf, feito nas ondas do mar ou em descidas de rios, são as opções recomendas. Outra vantagem, na opinião de Ramón, está na rápida aprendizagem que a modalidade proporciona. «Depois de uma primeira aula de duas horas, um iniciado consegue terminar o dia a fazer carreirinhas de joelhos nas ondas, algo que dificilmente acontece com outros desportos de prancha», explica. Menos acessível é o investimento inicial. O material completo – prancha, pagaia e fato – não custa menos de mil euros, sendo o aluguer uma solução alternativa bem menos dispendiosa e que deve ser considerada.

Apesar do discurso motivador, o alerta é necessário: quem experimenta SUP pela primeira vez deve estar pronto para trabalhar os músculos de uma forma completa e exaustiva e apostar na segurança, com o acompanhamento devido de quem saiba ensinar. Vai ser recompensado, garante Ramón, com momentos de «diversão, liberdade e bem-estar».

Mais informações em Get Up Stand Up.

 

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PERNAS PARA QUE VOS QUERO
Chegar. Conseguir. Superar. Verbos de motivação que orientam o comportamento de um runner. A corrida, em Portugal, precisou de ser rebatizada e arranjar nome inglês para se tornar um fenómeno de popula­ridade numa faixa etária acima dos 30 anos e, ao que tudo indica, entre uma classe social com poder de compra e formação. É esta a consta­tação de Cristina Romão, diretora de marketing da Sport Ibérica, grupo responsável pela ProRunner, loja dedicada à corrida localizada no Parque das Nações, em Lisboa.

A que se deve este sucesso súbito? O marketing pode explicar alguma coisa, com insígnias mundiais a apostar na modalidade, assim como o baixo investimento necessário para meter pés ao caminho. Cristina Romão acres­centa ainda factores mais subjetivos. «O running apareceu quando a crise económica se intensificou. Muitos runners veem na corrida uma forma de se superarem quando outras áreas das suas vidas estão estagnadas», refere.

E se há vinte anos a corrida era um desporto solitário, hoje o running é marcadamente social. Pertencer a clubes de running e encontrar parceiros com quem acertar o ritmo passou a ser prática corrente. Os que correm sozinhos não resistem a partilhar a performan­ce nas redes sociais através de aplicações já vulgarizadas para telemóveis. A integração no mundo da corrida é facilitada pelas lojas da modalidade. A Pro Runner, por exemplo, fomenta comunidades de praticantes e organiza encontros através do Facebook com propostas para todos os batimentos cardíacos.

Mais informações em Pro Runner.

 

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TANGO DE QUARTA À NOITE
Foi há quase sete anos que as ruas de Lisboa ganharam uma rotina já bem conhecida de outras capitais europeias: o Tango na Rua. Apropriando-se de praças, jardins e largos públicos, os pares de milongas ensaiam os passos desta dança argentina noite dentro.

A ideia partiu de um francês, em Lisboa a fazer Erasmus, mas o mérito da continuidade do projeto está no trabalho voluntário dos organizadores, quatro hoje em dia.

Ilídio Varandas, Alexandra Rua, Manuela Barbosa e Lino Silva são os responsáveis por – todas as quartas-feiras – encontrarem um espaço que promova a reunião dos pares, improvisando o som argentino em colunas portáteis e alinhando de véspera a playlist de músicas. «Só falhamos quando o dia de Natal ou o ano novo calham a uma quarta-feira», explica Alexandra Rua.

Entre o arvoredo do Jardim de São Bento, a flutuação de acordes denúncia o propósito da dança junto ao quiosque. A meteorologia ajudou, e esta foi a primeira noite do ano em que o Tango na Rua fez justiça ao nome e pôde ser dançado ao ar livre. Perto das dez horas, já alguns pares se movimentam na pista improvisada. A etiqueta manda que a circulação seja periférica e contra o sentido dos ponteiros do relógio. «O centro da pista é para os iniciados ou para os exibicionistas», comenta Lino Silva. Nesta noite, quem aparece já domina os passos, quem não sabe dançar opta por observar e fica com vontade de aprender.

A comunidade milongueira é heterogénea e disciplinada e, apesar de não chegarem acompanhados, os pares revelam uma intimidade adquirida em encontros passados. Os mais experientes são de imediato reconhecidos por trazerem, dentro de sacos, sapatos especiais de tango, que calçam antes da primeira dança.

Os organizadores revelam semanalmente no Facebook o local do próximo Tango na Rua e os participantes, regulares ou curiosos, só têm de aparecer. Quando o clima está instável, há locais abrigados que acolhem os milongueiros com regularidade. No currículo de dança constam sítios marcantes como a Mãe d’Água ou a Fundação Champalimaud em noite de lua cheia.

Mais informações em Tango na Rua.

 

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MARCHAR, MARCHAR, TREINAR
Se ao passear pelos jardins de Belém, em Lisboa, ouvir frases de ordem próprias de uma parada do Exército, não estranhe. Provavelmente, estará perto de um encontro TFM – Treino Físico Militar. Os alunos são tratados por recrutas, os instrutores têm carreira militar e formação superior na área das ciências do desporto e a formatura indicia a disciplina dos quartéis. As semelhanças não são mera coincidência e, apesar de destinado a civis, os treinos TFM têm inspiração militar: o tipo de exercícios – corrida, flexões e abdominais com fartura –, contagem das repetições, jogos de equipa e de competição, que instam o participante a ultrapassar os seus limites e, entre os alunos, a boa disposição costumeira das casernas.

«Treinamos ao ar livre em parques durante todo o ano», explica Sérgio Martins, formador TFM e ex-militar da Força Aérea, «o regulamento define que só haverá cancelamento de um treino por razões de segurança, o que nunca aconteceu». Assim, com sol ou chuva – e, aparentemente, os dias molhados são os mais concorridos –, os recrutas saem à rua para superar um treino em que a palavra «desistir» não tem lugar. O circuito de exercícios desenvolve as diferentes componentes de aptidão física – cárdio, força, resistência, composição corporal e flexibilidade.

Os novos alunos podem participar num encontro TFM de forma gratuita e perceber se estão confortáveis com o nível de esforço físico exigido, «bem inferior ao de uma formação militar». Depois, se não houver desistências, fazem uma avaliação composta por exercícios de corrida, agachamentos e saltos, que será cronometrada. A partir daí, os instrutores avaliam a capacidade do novo recruta para continuar os treinos. Pouquíssimos foram dados como «inaptos», garante Sérgio Martins. Os mais destemidos têm ainda a possibilidade de frequentar encontros especiais dentro de instalações militares. Mas até aí não há razão para receios: os instrutores são afáveis e não mandam encher quem está desalinhado na formatura.

Mais informações em TFM.

 

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METER AS MÃOS NA TERRA
Já tentou de tudo para manter um canteiro de flores na sua varanda mas, apesar da dedicação, o resultado é desolador? Talvez esteja a precisar de ajuda especializada. Os workshops organizados na Jardiland, empresa de jardinagem localizada na Maia, são gratuitos e têm uma periodicidade quinzenal, com as atividades concentradas no período que vai de fevereiro a junho. Esta é uma opção para quem gosta do contacto com a natureza, não sendo amante de experiências radicais.

«Os cursos têm sempre uma vertente ligada ao mundo vegetal», explica Vítor Batista Farias, diretor da Jardiland Portugal, «pela popularidade do tema, os workshops de orquídeas são um sucesso, assim como os sobre plantas aromáticas». Bonsais, plantas comestíveis, fruteiras, compostagem ou até «como montar um belo aquário» foram outras das formações já ministradas.

A calendarização das atividades é anunciada com antecedência na página online da empresa e as inscrições podem ser feitas também pela internet.

Se quiser aproveitar para conhecer o mundo das orquídeas oncidium – o próximo workshop agendado –, vá pronto para meter as mãos na terra e sujar os joelhos. Os cursos têm uma componente prática de raiz e a maioria é organizada no interior da loja ou na estufa da Jardiland. «Como devemos regar uma planta de interior ou de exterior, qual a rama que deve ser retirada ou podada, que adubo devemos usar, que vaso se adequa para determinado tamanho de planta ou as regras da transplantação» são alguns dos truques ensinados, enumera o responsável. O objetivo final é que a aprendizagem seja útil para o dia a dia do participante e o conhecimento possa ser aplicado na decoração lá de casa.

Mais informações através da JARDILAND PORTO, MAIA. Estrada Nacional, n.º 13, km 5,5. Tel.: + 2294713 00