O que é isto no meu copo?

Gin tónico com morangos, pepino, canela, laranja ou baunilha? Não, não se trata de uma moda. O barman Frederico Nunes selecionou onze «botânicos» que podem ser adicionados a 22 gins. O objetivo? Acentuar o sabor. Mas também fica bonito.

A bebida não é nova, a água tónica não foi inventada recentemente e os apreciadores de gin não descobriram agora que gostam da mistura. A bebida destilada, criada há mais de dois séculos, renovou-se, está mesmo na moda e deverá adaptar-se aos próximos tempos. Ainda assim, que mania é essa agora de enfiar pepino, canela ou laranja dentro do copo? E é importante?

Bom, na verdade, não! O que é essencial é que o copo seja grande (e não estreito e alto, como antes se fazia), que esteja bem refrescado, que haja muito gelo e que seja bem servido – uma parte de gin para quatro partes de água tónica. A ideia não é ficar embriagado ao primeiro gole. Os chamados «botânicos» servem, sobretudo, para acentuar o sabor do gin. «Alguns são decorativos, mas a maioria está presente na própria destilação da bebida», diz Frederico Nunes, barman no Vestigius Wine & Gin Bar. Ou seja, fazem parte dos cerca de cem ingredientes (entre frutos, flores ou especiarias) que podem ser usados na receita daquela marca em particular. Todos os gins no mercado têm zimbro na sua constituição, mas se lhe colocarem um morango no copo, já sabe: o mais certo é que o fruto tenha feito parte da receita na destilaria.

ANIS
Tem um sabor forte e doce. Lembra-se dos rebuçados Dr. Bayard? «Esteticamente resulta muito bem no gintónico», diz Frederico Nunes. «É utilizado na destilação de alguns licores franceses.»
Combina bem com os gins Bulldog Extra Bold e Darnley’s View Spiced

MORANGO
Nas sobremesas, no final das refeições, é bem conhecido na nossa gastronomia. Acompanha bem bebidas alcoólicas gasosas, como champanhe. «Bom para os gins mais adocicados. Deve usar-se meio morango, de tamanho médio. Algumas gotas de sumo também acrescentam sabor.»
Combina bem com os gins Sikkim Fraise e Brockman’s

ZIMBRO
Acompanha bem pratos de porco na cozinha mediterrânica, embora seja muito usado no Báltico. É o elemento comum a todos os gins. «Bom para gins mais secos e mais cítricos, da linha clássica.»
Combina bem com os gins Martin Miller’s e William’s Chase Extra Dry

BAUNILHA
Aromatizante, terá chegado à Europa durante as Descobertas, no século xvi. Tem um aroma forte e adocicado no palato. «Deve usar-se em pequenas quantidades: uma vagem dá para oito a dez gins.»
Combina bem com os gins Big Boss e Monkey 47

ALCAÇUZ
Leguminosa, cujo extrato é habitualmente utilizado para rebuçados. Serve-se laminado, retirado da raiz ou do tronco. Apresenta-se sem ser processado. «Tem um travo mais seco e mais térreo.»
Combina bem com os gins Bulldog e Blue Ribbon

HORTELÃ
Veio da Ásia, mas já faz parte de muitos pratos de cozinha mediterrânica. Nos cocktails alcoólicos já estávamos habituados a vê-la no mojito.«Dá mais nariz do que sabor, ou seja, é sobretudo pelo aroma. Acompanha bem com limão e ajuda a tornar o gin mais leve.»
Combina bem com os gins Blackwood’s 60 e Nordés

CANELA
A par da pimenta é, talvez, a especiaria mais usada na cozinha portuguesa – sobretudo na doçaria.  «Combina bem com laranja. Como demora algum tempo a abrir no copo, pode chambrar-se (aquecer) um pouco antes de servir.»
Combina bem com os gins N.º 3 e Filliers 28 (barrel aged)

FAVA TONKA
Semente da Dipteryx odorata, que ocorre no Brasil, Bolívia, Peru e Venezuela. Usada em pastelaria. «Tem um sabor parecido à amêndoa amarga, com um travo semelhante à baunilha. Deve ralar-se um pouco antes de servir, mas com moderação, porque tem efeitos anticoagulantes.»
Combina bem com os gins Gold 999,9 e Saffron

PEPINO
Só estávamos habituados a ele na salada, foi com surpresa que começámos a vê-lo nos copos de gintónico Hendrick’s – faz parte da composição desta marca. «Aroma fresco e frutado, pode ser servido com pétalas de rosa frescas ou botões de rosa secos.»
Combina bem com os gins Hendrick’s e Martin Miller’s Westbourne

CARDAMOMO
Da família do gengibre e oriundo das florestas do Sudeste Asiático, é habitualmente usado em doçaria e tempero de carnes. «Tem um travo fresco, doce e exótico», diz Frederico Nunes. «Está presente na destilação de muitos gins. Por isso combina bem com pelo menos 70% deles.»
Combina bem com os gins Gin Mare e Tanqueray Rangpur

LARANJA
Chegou à Europa no tempo das Cruzadas. Usamo-la em pratos quentes, frios, na doçaria, para acompanhar carne e como refresco. Num copo de gin é que não estávamos habituados.«É o mais doce dos botânicos cítricos. Deve usar-se em pequenas quantidades, para não correr o risco de intensificar muito o aroma. Quanto menos parte branca tiver, melhor.»
Combina bem com os gins Citadelle e Bombay Sapphire

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OS AMANTES DO GIN
Frederico Nunes é o barman oficial do coletivo Gin Lovers, no Vestigius Bar, no Cais do Sodré, em Lisboa. Os sete sócios da empresa começaram por juntar-se para partilhar experiências em torno da bebida. Documentaram-se, aprenderam, visitaram destilarias, trocaram ideias e, desse projeto de conhecimento e informação sobre gin, criado em 2013, já nasceu uma revista, um site, uma página de Facebook e uma aplicação para telemóvel. Tiram dúvidas de clientes e comerciantes, estudam o mercado, acompanham tendências, organizam menus de gin. No Vestigius, onde os Gin Lovers estão instalados, as referências disponíveis resultam de uma parceria com este coletivo de especialistas na bebida destilada – há menos de um ano, o bar servia sete gins, hoje têm mais de oitenta variedades diferentes. A Fortaleza do Guincho, em Cascais, e o Hotel Ritz Four Seasons, em Lisboa, são outros locais com menus de gin organizados pela Gin Lovers. No Natal deverão comercializar caixas com botânicos, copos, gins e instrumentos para servir a bebida.