Emagreça como um homem

Preocupam-se com os quilos a mais, os pneus, a barriga e, claro, a saúde. Os homens também não querem ser gordos e são cada vez mais os que procuram as dietas adaptadas à sua biologia. Com a ajuda certa e muita motivação, emagrecer pode ser bem mais fácil do que se imagina. E neles, tal como nelas, a melhor arma contra a gordura é… a alimentação equilibrada. E o exercício, claro.

Ver que não sobra barriga quando se corre o fecho das calças e que não há pneus sobressalentes quando se abotoa a camisa, ter fôlego para correr até à paragem do autocarro e para dar uns toques num jogo de futebol com os amigos, sentir-se confortável com o corpo que se tem e gostar da imagem que o espelho reflete. Isto é coisa de homens. Sim, a luta contra o excesso de peso já não é um exclusivo feminino – os homens também sofrem com os quilos a mais e não hesitam em procurar ajuda para se livrarem deles. A nutricionista Ágata Roquette, autora do livro A Dieta dos 31 Dias, diz que, entre os seus clientes homens, metade deles procuram-na porque «se sentem desconfortáveis esteticamente. Em regra, é do tamanho da barriga que não gostam». Mas não só. A partir da meia-idade, também são os problemas de saúde associados à obesidade – os valores da tensão arterial, da glicemia, do colesterol e dos triglicéridos disparam, o cansaço aumenta, as articulações rangem, a mobilidade diminui, a libido e a autoestima baixam – que levam os homens a procurar a ajuda de um profissional de saúde. Quando o fazem estão determinados a emagrecer e a seguir à risca os planos alimentares que lhes são recomendados.

Quando César Costa, 31 anos, 1,75 metros de altura, chegou aos 130 quilos, ainda não sentia a saúde comprometida. O que o deixava angustiado era a dificuldade crescente em dobrar-se para apertar os atacadores dos sapatos. Mas como gostava de comer à grande, a ideia de fazer uma alimentação restritiva não o aliciava de todo. Foi assim até ao dia em que ouviu Ágata Roquette na televisão a falar dos bons resultados da sua dieta. «Dizia que os seus pacientes não passavam fome, que até podiam comer um frango inteiro ao almoço ou ao jantar se quisessem. Pensei logo que era uma coisa assim que eu precisava», diz o barman do Cacém, dez meses depois, orgulhoso dos 33 quilos que já perdeu. Mais leve, ágil e flexível, voltou a calçar as meias sem dificuldade, desfez-se das calças tamanho 56 – agora veste o 46 e espera reduzir ainda mais –, planeia voltar a jogar futebol com os amigos e já não se imagina a comer o tal frango inteiro. Agora, «em vez de cinco merendas ao pequeno-almoço, seguidas de um pacote de bolachas uma hora depois, de batatas fritas, arroz e carne ao almoço e ao jantar», as refeições de César fazem-se entre proteínas (carne, peixe, marisco e ovos), muitas saladas e legumes, fruta, gelatina, iogurte e queijo fresco magro. «Os hidratos de carbono foram reduzidos a um pão de mistura, que como de manhã, ao pequeno-almoço, pois tenho o dia inteiro para queimar aquele açúcar.»

César Costa, 31 anos, agora com 97kg. Já pesou 130Kg. Em dez meses perdeu 33kg e voltou a sentir-se leve, ágil e flexível. É paciente da nutricionista Ágata Roquette.
César Costa, 31 anos, agora com 97kg. Já pesou 130Kg. Em dez meses perdeu 33kg e voltou a sentir-se leve, ágil e flexível. É paciente da nutricionista Ágata Roquette.

César está satisfeito com os resultados alcançados. Ágata Roquette também. A nutricionista diz que o segredo da sua dieta está nas proteínas: «São muito saciantes, os homens podem comer à vontade.» Na dieta da Ágata, «só os hidratos de carbono, com excepção do pão, durante a manhã, é que estão proibidos. «Totalmente interditos durante o primeiro mês, mas depois são muitos os homens que continuam a prescindir deles. Veem que resulta, perdem entre cinco e oito quilos no primeiro mês e isto é uma motivação adicional para prosseguirem.» Nesta matéria, a nutricionista diz que a força de vontade é uma vantagem a favor dos homens. «Por norma são mais determinados do que as mulheres e têm menos emoções em relação à comida. Enquanto nós comemos por tudo e por nada, os homens comem porque têm fome, ponto final.»

Alexandre Fernandes, autor do livro Emagrecer sem Sacrifícios, também está habituado a receber no consultório muitos homens jovens «que querem perder peso por razões estéticas, bem-estar e competitividade social». Para o nutricionista, «hoje em dia, ser gordo não é bem visto e os homens que têm excesso de peso querem mudar.» E querer é poder. O especialista confirma que «os homens são mais cumpridores, por isso os resultados são notórios rapidamente». Além disso, a biologia também joga a favor deles, pois têm menos predisposição para acumular gordura do que as mulheres: «Têm mais massa muscular e a “barriguinha” que se instala depois dos 30 anos tem mais que ver com o aumento do consumo de calorias e com o sedentarismo do que com as alterações hormonais que, no homem, aparecem mais tarde do que na mulher.»

Mas a gordura abdominal é a que mais preocupa os profissionais de saúde porque está relacionada com a diabetes tipo 2, com a apneia do sono, a hipertensão arterial, o colesterol elevado, os problemas nas articulações e na coluna. Sinais de doença que a dieta recomendada por Alexandre Fernandes pode ajudar a controlar ou a prevenir: «Os meus planos alimentares têm por base a alimentação mediterrânica e as equivalências entre alimentos. Comigo não há alimentos proibidos – todos são permitidos desde que as pessoas respeitem as porções que são prescritas e que devem comer.» É com refeições preparadas com alimentos queridos aos portugueses – carne de aves, ovos, algum peixe, azeite, feijão, grão, ervilha, fruta, hortaliça, mas também batatas, massas e arroz – que o nutricionista elabora ementas «coloridas, de grande riqueza nutricional e aromática, que contribuem para um emagrecimento saudável, para reduzir o risco cardiovascular, o cancro e a diabetes».

Gonçalo Pintado, 35 anos, diz que nasceu com o pecado da gula e que foi Alexandre Fernandes que o ajudou a controlar o impulso «de comer e beber à fartazana». Resultado: em dez meses perdeu 24 quilos. Quando procurou o nutricionista, em julho do ano passado, o engenheiro eletrotécnico de Setúbal pesava 130 quilos. «Eu estava decidido a perder peso, mas não pensei que fosse tão fácil e essa motivação que cresceu em mim resultou da estratégia do Alexandre. A minha ideia é chegar aos noventa quilos mas o próximo objectivo é baixar para os cem. Vamos passo a passo.» Para trilhar essa meta, até julho, se possível, Gonçalo vai continuar a controlar as quantidades de hidratos de carbono e as calorias ingeridas. Por isso, a sopa tornou-se a maior aliada: «Raramente comia, agora não prescindo da sopa ao almoço e ao jantar. O resto não tem qualquer ciência: basta arranjar o prato com mais salada ou legumes, não saltar refeições e comer sempre uma peça de fruta ou um iogurte com uma bolacha de água e sal à tarde e a meio da manhã.»

Gonçalo Pintado, 35 anos, agora com 106kg. Emagreceu 24kg desde Julho do ano passado. Objectivo actual: pesar 100kg em Julho. Objectivo final: chegar aos 90kg e mantê-los. É paciente do nutricionista Alexandre Fernandes.
Gonçalo Pintado, 35 anos, agora com 106kg. Emagreceu 24kg desde Julho do ano passado. Objectivo actual: pesar 100kg em Julho. Objectivo final: chegar aos 90kg e mantê-los. É paciente do nutricionista Alexandre Fernandes. Fotografia de Gerardo Santos / Global Imagens

Para trás, ficaram os hábitos do passado. Fazer apenas três refeições por dia, comer em demasia – principalmente alimentos ricos em açúcar, gorduras e sal – e à pressa, não cozinhar nem praticar exercício são os erros que Alexandre Fernandes mais identifica nos seus pacientes. Como perder peso significa mudar este padrão, o nutricionista trabalha todos aqueles aspetos. «O emagrecimento deve ser sustentado e só o pode ser se as pessoas perceberem porque aumentaram de peso e se adquirirem hábitos alimentares e de exercício saudáveis que ficam para a vida.»

Dietas personalizadas
Motivar para a mudança é um dos papéis importantes dos nutricionistas. Alguns doentes só precisam disso para adotar hábitos de vida mais saudáveis e emagrecer. Outros, porém, necessitam de um controlo do índice glicémico (quantidade de açúcar no sangue) ou de uma dieta mais anti-inflamatória (há uma relação clara entre o consumo de certos alimentos e o aumento das doenças crónicas inflamatórias). A nutricionista Daniela Seabra está habituada a ver dos dois e diz que o importante é que o doente entenda o que o levou a aumentar de peso e o que deve fazer para o combater: «Todos sabemos que os fritos e os refrigerantes engordam, mas se cada um entender os motivos pelos quais procura esses alimentos – falta de informação, motivos educacionais, fisiológicos, emocionais – é mais fácil. No caso da obesidade e de certas doenças crónicas, os doentes devem ter informações corretas para saberem que o controlo e a prevenção da doença estão nas suas mãos.»
Daniela Seabra tem larga experiência na elaboração de planos de emagrecimento. Mas nos dois locais onde trabalha – o Hospital de Santa Maria da Feira e o consultório médico Cristina Sales, no Porto – a nutricionista propõe uma abordagem que visa muito mais do que a simples perda de peso. «Cada pessoa é única, portanto cada uma tem um plano de educação alimentar específico. Hoje sabemos que os alimentos influenciam muitas funções orgânicas, fisiológicas e genéticas que podem favorecer, ou não, a manifestação de certas doenças.» A nutrição funcional – é assim que se chama o plano alimentar e educacional da nutricionista – atua na prevenção e no tratamento e para isso «centra-se na pessoa, busca a compreensão dos fatores que estão na origem da manifestação da doença, incluindo a obesidade, e não apenas na doença que a pessoa tem».

 

António Gomes dos Santos, 65 anos, agora com 110kg. Quando pesava 142 kg sentia-se sem forças e tomava medicamentos para baixar a hipertensão arterial e os valores do colesterol. Em 15 meses perdeu 32 kg. É paciente da nutricionista Daniela Seabra.
António Gomes dos Santos, 65 anos, agora com 110kg. Quando pesava 142 kg sentia-se sem forças e tomava medicamentos para baixar a hipertensão arterial e os valores do colesterol. Em 15 meses perdeu 32 kg. É paciente da nutricionista Daniela Seabra. Fotografia de Lisa Soares / Global Imagens

Na nutrição funcional, estão interditos todos os produtos alimentares que não são comida. Exemplos? «Os produtos processados com ingredientes difíceis de pronunciar. Estão repletos de aditivos, gorduras trans, açúcar e cereais refinados. Têm efeitos muito prejudiciais no organismo.» No oposto, há alimentos que estão sempre presentes. É o caso dos hortícolas (de preferência da agricultura biológica, para evitar os efeitos nefastos dos pesticidas), das oleaginosas (nozes, amêndoas e avelãs) e do peixe. Nalguns casos, pode ser necessário recorrer a suplementos nutricionais e ter atividade física moderada e frequente é fundamental em todas as situações, esclarece a nutricionista.
António Gomes dos Santos, morador em Milheirós de Poiares, concelho de Santa Maria da Feira, recusou a cirurgia gástrica mas dá graças ao dia em que um médico lhe recomendou que fosse a uma consulta de nutrição no hospital da cidade. Pesava 142 quilos, tinha dificuldade em andar, todos os dias tomava comprimidos, uns para controlar a hipertensão arterial, outros o colesterol, o açúcar no sangue estava aumentado e ele sentia-se sem forças. Mas isso é coisa do passado. Agora, com menos 32 quilos, a saúde voltou e o vigor também: «Tenho 65 anos, mas sinto-me vinte anos mais novo. Eu queria fazer alguma coisa não sabia era como nem o quê, mas com a ajuda da nutricionista a minha vida tornou-se mais simples, saudável e feliz.» Reformado da indústria da restauração, o antigo empresário não poupa nos elogios a Daniela Seabra. «Ela estuda, explica, desafia, envolve-se e festeja cada quilo que eu perco como se fosse uma vitória dela. E eu não vou defraudar quem aposta tanto em mim.»
Quinze meses depois de alterar o estilo de vida, António está ciente de que fez um compromisso para a vida e usa e abusa dos truques que favorecem a mudança. Andar com um punhado de amêndoas ou nozes no bolso para atacar a fome entre as refeições é um deles. Beber muita água é outro. O resto é simples: «Fazer refeições de peixe, acompanhar com grelos, nabos e salada, comer muito pouco pão, não beber álcool e fazer exercício físico diário. Tenho a sorte de ter um pequeno ginásio em casa, onde faço passadeira, bicicleta e halteres. Agora não quero outra coisa. Perder peso e mantê-lo é um jogo que tem regras. Temos de cumpri-las.» Nem mais.

 

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EXERCÍCIO É OUTRA ARMA CONTRA O PESO A MAIS
Especialista em metabolismo humano, Ricardo Silvestre passa o dia a avaliar e a aconselhar atletas de alta competição na Unidade de Medicina Desportiva e Controlo de Treino do Centro de Alto Rendimento do Jamor, Oeiras. Mas o exercício físico não é só o seu trabalho. É a sua vida. Todos os dias se desloca de bicicleta para o Estádio Nacional, corre três vezes na semana, faz treino de forças outras duas, aos fins de semana joga ténis, basquetebol ou futebol e sempre que há corridas na marginal ou em Lisboa ele está lá. Muita dopamina? Muita disciplina? As duas? Não importa. Para ele, o que interessa é que possa fazer o que gosta, o que o faz sentir bem e o que o corpo precisa, pois a «inatividade física é fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, obesidade e inflamação».
Ele sabe do que fala. Porque estudou – é doutorado em fisiologia do exercício e metabolismo humano pela Universidade do Connecticut, nos EUA – e porque sentiu na pele os resultados de três meses de inatividade: «Engordei oito quilos, depois de uma fratura num dedo do pé. Nem eu nem nenhum homem nascemos para ser sedentários, o corpo está preparado para acumular gordura.» O especialista lembra que os nossos antepassados sobreviveram ganhando e armazenando gordura para poderem resistir aos períodos em que não havia alimento e passavam fome e diz que nós não somos diferentes. Quando paramos, engordamos.
Assim que recuperou, Ricardo Silvestre não tardou a delinear uma estratégia para se livrar do peso a mais. Para isso, voltou a fazer exercício e pôs em marcha o plano alimentar que há muito defende. «Uma dieta de baixo teor em hidratos de carbono é a mais aconselhada para quem quer perder peso e é o que estou a fazer há seis meses. Perdi dez quilos. Pesava 98, agora tenho 88 kg.» Retirei completamente os bolos e os açúcares, incluindo massa, arroz e batatas. Como carne, peixe, marisco, ovos, lacticínios, saladas e legumes, cogumelos, fruta, frutos secos. Nos intervalos das refeições principais, como umas barras proteicas.»