Deixar para amanhã o que se pode fazer hoje

Acabar o relatório que o chefe pediu para amanhã cedo? Não sem antes passar de nível naquele jogo viciante do Facebook. Atacar a pilha de louça à espera na cozinha? É melhor espreitar primeiro o e-mail. Arrumar o escritório? Talvez depois de montar o sofá novo. Quem nunca procrastinou que atire a primeira pedra. E nada de confundir com preguiça: o procrastinador cumpre metas de trabalho, desde que não seja aquele que tem de fazer no momento.

Ano Novo que se preze começa com 12 passas e uma lista de resoluções a cumprir nos 365 dias que se seguem. Desejamos reorganizar a casa, tirar um curso, escre­ver um livro, entregar a tese, fazer exercício, não estudar para os exames apenas de véspera, seguir a agen­da à risca. A vontade de recomeçar é tão grande que parece que este vai ser mes­mo o ano em que conseguiremos pôr tu­do em prática sem atropelos. E então a ro­tina volta a esmagar-nos, entre tarefas de sobra e poucas horas para tanta coisa, e da­mos connosco a adiar na esperança de que amanhã seja diferente. Procrastinar é isto, uma tendência universal tão antiga que já os romanos se queixavam dela. No século I a.C. o filósofo Cícero criticava Marco An­tónio por trocar por festas o seu trabalho de imperador. Bramava ele: «In rebus geren­dis tarditas et procrastinatio odiosa est.» Que é como quem diz que na conduta de quase todos os assuntos, lentidão e irreso­lução são funestas.

«Todos procrastinamos. Sempre que senti­mos não ter recursos para realizar uma deter­minada tarefa, por falta de treino, inabilidade ou formação, podemos evitar concluí-la», ex­plica a psicóloga clínica Isabel Policarpo, ela própria adepta de dividir para reinar: quan­do se sente ameaçada pelo trabalho e tentada a protelá-lo, segmenta-o em pequenas tarefas e concretiza-as para evitar sufocos de última hora. «Do mesmo modo, sempre que não nos sentimos seguros em relação às nossas priori­dades, metas ou objetivos, fazemos uma ges­tão inadequada do tempo que acaba por con­duzir à procrastinação.»

O termo tem origem no latim pro, que sig­nifica a favor, e crastinus, amanhã, o que re­sulta em procrastinare: adiar, protelar, en­gonhar. Trata-se de um conflito entre o de­ver e o querer, em que a pessoa se dispõe a realizar inúmeras tarefas exceto a que de­via fazer no momento. Quem nunca passou horas de volta de um jogo de computador, após sentar-se com a intenção de escrever um relatório? Ou afiou todos os lápis que ti­nha na secretária, adiando um telefonema importante, mas aborrecido? Quem nunca lavou roupa, limpou o pó, mudou uma lâm­pada ou fez duas sopas diferentes para atra­sar a chatice das compras do mês?

«Estamos dispostos a exercer qualquer tarefa vil desde que ela nos permita fugir de algo pior», sustenta Piers Steel, psicólo­go da Universidade de Calgary, com base nas entrevistas feitas a mais de 24 mil pes­soas de todo o mundo para escrever o livro A Equação de Deixar para Depois, em 2012. Dessas, 95 por cento confessaram procrastinar pelo menos ocasionalmente, en­quanto 25 por cento são procrastinadoras crónicas. O psicólogo canadiano Timothy Pychyl, autor do livro The Procrastinator’s Digest (O Compêndio dos Procrastinadores) e do blogue Don’t Delay (Não Adie), com­para a procrastinação a comer demasia­do quando se está de dieta: por mais que a pessoa saiba que o ato lhe trará quilos a mais, o prazer de comer alguma coisa sa­borosa compensa. «O cérebro está progra­mado para ser recompensado a curto pra­zo. A recompensa imediata é mais atraen­te», aponta.

 

Alexandra Rolo. Fotografia de Natacha Cardoso/Global Imagens
Alexandra Rolo. Fotografia de Natacha Cardoso/Global Imagens

Alexandra Rolo conhece bem esta sen­sação. Coordenadora de uma fanzine (a Na­nozine), autora do blogue Livros por To­do o Lado, mestranda em Gestão e Estu­dos da Cultura no ISCTE e autora de livros de poesia e de vários outros projetos por concluir, reconhece ser quase um dom es­sa capacidade que tem de adiar o trabalho quando não se sente inspirada. «Nunca entrego nada fora de prazos, sou bastan­te responsável e detesto atrasos. Mas fa­ço mil e uma coisas para evitar uma tarefa que me cause tédio. Sobretudo posts no Fa­cebook e rubricas no blogue», conta, assu­mindo que a repetição e a monotonia são meio caminho andado para se pôr a fazer coisas que a estimulem mais.

Procrastinar acontece-lhe mais nos trabalhos para a faculdade, em disserta­ções ou quando lhe pedem para rever tex­tos. Também sabe que é inútil tentar tra­balhar de manhã cedo e depois do almoço («o problema é quando a falta de vontade se arrasta para a noite») e é a primeira a conceder que se não fosse a internet não procrastinaria tanto, embora também não aprendesse tanto. «A minha conta de Facebook sempre foi pública, por cau­sa do blogue, e acabo por ter muitas pes­soas adicionadas, inclusive professores. A minha mania de ir publicando as leitu­ras que faço para a faculdade levou a que, uma vez, dois professores meus de licen­ciatura debatessem a minha vida online. Um dizia que eu dormia pouco para estar a “brincar na net”, ao que o outro lhe res­pondeu que eu estava, na verdade, a estu­dar. Ele sabia porque via os títulos dos ar­tigos que eu ia lendo à noite.»

DIFICULDADE EM PRIORIZAR
Pedro Rosário, coordenador do Domí­nio de Investigação em Psicologia Apli­cada, da Escola de Psicologia da Univer­sidade do Minho, insiste na importância de se distinguir procrastinação e pregui­ça, dois comportamentos muito diferen­tes. «Enquanto a preguiça passa por evitar trabalhar, a procrastinação é outra coisa: eu tenho objetivos, quero realizar a tarefa e adio-a. Não porque vou dormir ou estou na praia, mas porque encontro atividades que competem com ela.» Trata-se de uma «autorregulação disfuncional»: a pessoa quer fazer, mas o seu querer não tem for­ça suficiente para combater os distratores e ela não consegue priorizar convenientemente as várias tarefas.

«Imagine que eu chego a casa e tenho de trabalhar na minha tese de mestra­do, mas tenho também de tratar da mi­nha filha, dar-lhe banho, fazer o jantar, preparar as aulas do dia seguinte e con­versar com um amigo em apuros», desa­fia Pedro Rosário. «É tudo importante e eu nem tive sequer tempo para me coçar, está a ver? E o mais provável é amanhã su­ceder o mesmo, por mais que me imagi­ne a adiantar a tese.» Além desta disfun­cionalidade nos processos de regulação daquilo que se faz, outras causas da pro­crastinação passam por uma má alocação do tempo (pensar que uma tarefa demo­ra dois minutos quando leva duas horas, atrapalhando as tarefas seguintes), pe­lo excesso de perfecionismo (impor stan­dards irrealistas facilmente desencoraja a ação) ou pelo medo de falhar (adiamos o que temos receio de não conseguir fazer corretamente).

 

Sara Rodrigues. Fotografia de Leonardo Negrão/Global Imagens
Sara Rodrigues. Fotografia de Leonardo Negrão/Global Imagens

Foi um misto destes sentimentos que le­vou Sara Rodrigues a lutar com a sua te­se do mestrado em Gestão de Marcas no ISCTE há um ano e meio. Procrastinadora pontual, adepta de não deixar para ama­nhã o que pode fazer hoje numa lógica de «fazer hoje tudo para preguiçar amanhã», sofreu verdadeiramente com a empreita­da. «Foram muitos meses envolvida num projeto solitário acerca do impacte das re­des sociais no relacionamento entre mar­cas e consumidores. Muitas horas em ca­sa e na biblioteca agarrada ao computador, de volta de artigos científicos nem sem­pre fáceis de espremer», revela a account da McCann Lisbon, recordada da dificul­dade em equilibrar um emprego, uma te­se e uma vida social: o stress omnipresente minava-lhe a disposição em tudo. «Quan­do temos seis meses para fazer uma coisa chata parece-nos muito tempo e facilmen­te vamos adiando. Há sempre algo melhor ou mais importante para fazer.»

Meio ano passou depressa, porém. Os seis meses seguintes também. Até que Sara chegou a um ponto em que adiar se­gunda vez implicava pagar 500 euros, o que claramente não se justificava. «Foi nesse momento que decidi terminar de vez a tese para me libertar dessa coisa que tanto me estava a pesar, ainda que na altura tivesse de abdicar de uma viagem a Bali», lembra. Metódica, disciplinada por dez anos a trabalhar em publicidade, com prazos muito curtos, fugia para a bi­blioteca, punha os earphones e ficava ali um dia inteiro focada, movida pela pres­são de última hora. «Outra estratégia que usei muito era a de pensar que, se o prazo estava a acabar, isso também significava que em breve ia estar livre de obrigações, o que de algum modo tornou o sacrifício mais suportável.»

A psicóloga Isabel Policarpo aplau­de a reação de Sara à luz dos mecanis­mos da procrastinação: «Adiar as tarefas traz um alívio imediato, mas rapidamen­te podemos ser invadidos por sentimen­tos de culpa, ineficácia, ansiedade e ver­gonha que dissipam a anterior sensação de conforto», concretiza a especialista. A isso acresce o facto de tornarmos o dia seguinte mais stressado. «Não só há um inevitável acumular de afazeres como, muitas vezes, o arrastar das situações contribui para transformar algo que era simples num problema complicado de resolver. É reconfortante sabermos que uma parte da tarefa já foi concluída e po­dermos dizer “boa!” a nós mesmos, pre­miando-nos por termos terminado», diz.

 

Gonçalo Cunha e Sá. Fotografia de Orlando Almeida/Global Imagens
Gonçalo Cunha e Sá. Fotografia de Orlando Almeida/Global Imagens

Gonçalo Cunha de Sá pertence ao grupo dos que preferem as coisas simples aos im­bróglios, pelo menos na área profissional. «Sou freelancer. Se possível dou resposta imediata aos trabalhos e tento entregá-los antes da data», revela o fotógrafo, autor do livro Mulheres Portuguesas e colaborador em diversos órgãos de comunicação so­cial e campanhas publicitárias, em Portu­gal e no estrangeiro. A pressão dos prazos move-o como se fosse um motor, por co­nhecer o efeito dos maus hábitos laborais: «Somos um país com muitos profissionais maus. Serviço público e atendimento são uma desgraça. As pessoas ou são mal for­madas ou precisam de formação especí­fica para as tarefas que têm de desempe­nhar. E todos abusam dos seus pequenos poderes, tornando a vida do próximo mais difícil.» Na vida pessoal, contudo, dá por si a chegar ao fim de certos dias sem sa­ber como as horas passaram. «Sou capaz de deixar de lado o que devo fazer, sobre­tudo se importar uma decisão que se re­flete noutras pessoas», assume, ele que sai a correr para ouvir um amigo ou brincar com o filho, mesmo que a louça fique por lavar. «Mas até a nível pessoal estou a dei­xar de procrastinar», avisa.

A SALADA ANTES DO BIFE
O gestor Paulo Morgado é o primeiro a concordar com esta ideia de que pro­crastinar causa mais dor do que des­pachar a tarefa, sobretudo em empre­sas que funcionam por projetos, como a sua. «Na Capgemini Portugal fazemos várias coisas em paralelo, sem esperar que uma fique pronta para passar à seguinte. Isso ajudou-me a criar uma mentalidade de cumprir prazos e a ter noção de quais são as atividades críticas que não podem parar, sob pena de comprometer os resul­tados», diz o administrador delegado da consultora. Paulo não sabe bem quando decidiu não procrastinar em relação a na­da, nunca. Foi fazendo essa aprendizagem de forma consistente. Chegou mesmo a es­crever um livro, Fazer, em que a persona­gem tem mais trabalho a escapar à tare­fa que tem em mãos do que se a realizasse de facto. «Eu era daqueles miúdos que co­miam a salada primeiro e a seguir o bife. Se tenho alguma coisa a fazer, faço-a para não ficar com os apertos de última hora, que normalmente dão asneira.»

 

Paulo Morgado. Fotografia de Leonardo Negrão/Global Imagens
Paulo Morgado. Fotografia de Leonardo Negrão/Global Imagens

Nem todas as tarefas diárias são praze­rosas, pelo que convém avaliar constante­mente os custos do que atrasamos, ante­cipar benefícios futuros e superar o vício de adiar. Pequenos momentos de procras­tinação são naturais; mais do que isso po­de prejudicar relações pessoais e carrei­ras. «Comigo funciona a máxima de que as coisas se fazem fazendo. Não fico à es­pera de ter a ideia mais perfeita do mun­do para começar a implementar: faço com qualidade e vou melhorando a partir daí. Mantenho a secretária limpa, anoto aqui­lo em que tenho de pensar para não me es­quecer e não tenho pendentes nem e-mails por apagar», enumera. Longe de a organi­zação lhe tolher o que há de bom na vida, liberta-lhe tempo de lazer para desfrutar como bem entender. «As listas ajudam-me a manter o foco.»

Outro adepto de listar os afazeres de acordo com a sua importância é o humo­rista Fernando Alvim, que diz já ter sido mais procrastinador do que é hoje (embo­ra tenha levado quase duas semanas a res­ponder às questões colocadas para este te­ma). «Em miúdo fazia mais ronha, fingia-me de morto, não me importava nada de adiar o amanhã desde que me deixassem dormir. Agora, quando o faço, é por razões ligadas ao sono ou porque está a chover torrencialmente e não posso sair de mo­ta», ri-se. Entre os projetos de televisão, rádio, internet, livros e revistas, Alvim vai fazendo listas de tudo para se orientar e reconhece sentir culpa até de riscar a ta­refa. A chave, para si, está em saber priori­zar: «A procrastinação pode ter justifica­ções mais do que aceitáveis: por exemplo, deixar de ir ao emprego porque passámos a manhã toda a falar com a Charlize The­ron, não entregar o IRS a tempo porque estivemos a comer gambas no Gambrinus ou baldarmo-nos à inspeção porque fo­mos ao cinema.»

A conclusão mais otimista dos estudos sobre o tema é sugerida por John Perry, fi­lósofo e autor (após 17 anos) do livro The Art of Procrastination (A Arte da Procrastinação). Diz ele que qualquer procrastina­dor pode ser levado a realizar «tarefas di­fíceis, oportunas e importantes, desde que sejam uma forma de não fazer algo mais importante ainda». O truque é estruturar: colocar projetos que pareçam significati­vos e urgentes no topo da lista de afazeres, de modo a realizar as tarefas válidas mais abaixo. O próprio Perry viveu uma situa­ção de procrastinação estruturada quan­do vivia com a mulher junto à Soto House, uma residência universitária em Stanford, onde trabalha. À noite, confrontado com trabalhos para corrigir, aulas para prepa­rar e trabalho burocrático, ia passear e jo­gar pingue-pongue com os residentes. «Fi­quei com a reputação de ser um dos raros professores que passavam tempo com os estudantes de licenciatura e os conhecia. Que chatice: jogas pingue-pongue de ma­neira a não fazeres coisas mais importan­tes e ficas com fama de porreiro», rema­ta com ironia. Uma estratégia que dá que pensar. Talvez amanhã…

PARE DE ADIAR  O QUE É IMPORTANTE
» Não tenha medo de errar. Muitas pessoas procrastinam porque exigem tanto de si mesmas numa tarefa que acabam com receio de enfrentá-la. Antes de exceder, conclua com qualidade e dentro do prazo. Se sobrar tempo, aprimore.
O ótimo é inimigo do bom.

» Aplique a regra dos cinco minutos. Qualquer tarefa, por mais ingrata que seja, perde peso se decidir fazê-la apenas durante esse tempo. Se depois disso ainda se sentir motivado, continue.

» Crie o seu próprio ritual de execução. Descubra o que o deixa motivado, aproveitando esses picos para trabalhar a sério no que tem em mãos, e a seguir recompense-se. Estabeleça prioridades. Por maior que seja o fluxo de traba­lho, há que saber distinguir o que não deve ser adiado das coisas menos urgentes ou importantes.

» Mantenha uma agenda rea­lista e organizada. Sirva-se de post-its e listas de tarefas para lembrá-lo do que tem de ser fei­to impreterivelmente. Desenvol­va a sua própria disciplina e não subestime o tempo necessário para a realização das tarefas.

» Desdobre o trabalho em tarefas menores e mais simples. Despachar a primeira torna mais fácil realizar as seguintes e, aos poucos, o bicho de sete cabeças fica reduzido a pequenas tarefas.

» Procure o lado positivo das coisas. Uma atitude otimista em relação à tarefa é meio caminho andado para concretizá-la.

OS SEUS COLEGAS DE TRABALHO SÃO PROCRASTINADORES?
Fabrício Aride, analista de sistemas pós-graduado em engenharia de software pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), traça um divertido e irónico retrato dos procras­tinadores no trabalho, no seu blogue «Teste Psicotecnico.»

Eles são analíticos. Sentam-se ao computador e abrem um documento diante do qual se mantêm com uma postura atarefada, enquanto pensam em tudo menos no que têm para fazer.

Eles são proativos. Levantam-se constantemente e circulam pela empresa. Gastam cinco minutos para tratar de questões laborais e 115 para organizar o churrasco do fim de semana, tomar café e fazer marketing pessoal para passarem a imagem de profissionais de excelência.

Eles são bem relacionados. O gosto pela conversa permite-lhes fazer con­tactos, ampliando o networking.

Eles são esforçados. Empenham-se o máximo que podem para não trabalhar.

Eles são líderes natos. Com uma retó­rica exemplar, falam com propriedade nas reuniões, findas as quais procu­ram distribuir as suas tarefas pelos colegas. Ficam com a mais simples para disfarçar e apregoam o esforço para realizar tamanho encargo.

Eles são intensos. Uma tarefa banal é «um projeto», um e-mail é «uma sugestão de melhoria dos negócios» e pedem duas semanas para uma coisa que outros fazem em duas horas.

Eles são empreendedores. Levam tão a sério a ideia da empresa como se­gunda casa que abusam do telefone, da internet, dos táxis e do economato para tratar de assuntos particulares.

Eles são astutos. Quando percebem que os colegas os toparam, abrilhan­tam o currículo e procuram novo emprego onde podem voltar a tentar ascender a cargos de gestão. Tornam-se defensores da moral e do trabalho árduo, passando esses valores à sua equipa para que eles próprios não precisem de aplicá-los.

LITERATURA ÚTIL
Não Deixe para Amanhã, Rita Emmett, Editora Pergaminho, 2005
Fazer, Paulo Morgado, Verbo Editora, 2012
A Equação de Deixar para Depois, Piers Steel, Editora Best Seller (Brasil), 2012
The Procrastinator’s Digest, Timothy Pychyl, Editora Xlibris Corporation, 2010
The Now Habit, Neil Fiore, ed. Tarcher, 2007
Procrastination and Task Avoidance, Joseph R. Ferrari, Jeannette L. Johnson e William G. McCown, ed. Kluwer Academic/Plenum Publishers, 1995
The Art of Procrastination, John Perry, ed. Workman Publishing Company, 2012

PROCRASTINADORES FAMOSOS

Leonardo da Vinci. Considerado por muitos o maior génio da história, o renascentista pintou, esculpiu, arqui­tetou, desenhou, inventou, dissecou e gerou uma profusão de ideias muito à frente do seu tempo. Mas foram poucos os projetos que terminou em vida, de tal modo saltava de um para outro e se preocupava com detalhes perfecionistas que só ele via. Nem a Gioconda entregou.

Truman Capote. Pioneiro do jornalismo literário e autor de êxitos como Breakfast at Tiffany’s e A Sangue Frio, demorou quase vinte anos a escrever o romance Answered Prayers e não o terminou. «Ou eu o mato, ou ele me mata a mim», dizia meio a brincar, a propósito deste livro inacabado.

Mark Twain. O escritor, humoris­ta e romancista norte-americano tinha uma máxima que se tornou tão célebre como o famoso ditado de não deixar para amanhã o que se pode fazer hoje: «Nunca deixe para ama­nhã o que pode deixar para depois de amanhã.»

Victor Hugo. Novelista, poeta, dramaturgo, ensaísta e ativista dos direitos humanos francês, autor de obras gigantescas como Os Miseráveis ou O Corcunda de Notre-Dame, seria de supor que fosse um romancista naturalmente disciplinado. Nada disso: Victor Hugo vencia a tendência para procrastinar ficando em casa nu, com as roupas escondidas pelo criado a seu pedido, de modo a não ter como sair e dedicar-se à escrita.

Ralph Ellison. Após ter escrito Homem Invisível, unanimemente aclamado como obra-prima e distinguido com o National Book Award, o autor norte-americano morreu quarenta anos depois, sem concluir o romance seguinte.

[Publicado originalmente na edição de 5-1-2014]