As nossas apostas para 2015

São estas 12. São nossas e das personalidades a quem pedimos para nos apontarem revelações nas suas áreas, jovens que hão de dar nas vistas no próximo ano. Da música ao ambiente, da gastronomia à ciência, do design à solidariedade, eis a seleção de esperanças para 2015.

MÚSICA | FRANCIS DALE
A ARTE DA CONTEMPLAÇÃO
A escolha de Henrique Amaro, locutor de rádio e divulgador de novos músicos portugueses.
«Um artista 360 graus.» É assim que Henrique Amaro define Francis Dale, nome profissional de Diogo Ribeiro, a aposta musical da Notícias Magazine para 2015. «Ele toca todos os instru­mentos, aplica uma sonoridade eletrónica mui­to minimal e ainda lhe empresta uma voz com muita alma.» O resultado é uma espécie de soul branca, algo que Amaro diz parecer-se vagamente com o trabalho de James Blake, «mas num estado mais contemplativo». E está certo de que vamos muito ouvir falar deste rapaz no próximo ano.
Tem 25 anos e toca música desde os sete. «Primeiro bateria, de­pois guitarra. Sempre gostei de experimentar um pouco de tu­do.» Isso nota-se na sua música. Em 2013 lançou um EP de down­load gratuito chamado Lost in Finite, mas em 2015 é que as coisas vão aquecer. Um EP novo, patrocinado pela NOS, abre as hostili­dades no primeiro trimestre do ano. «É um trabalho que induz à introspeção e que prepara caminho para o LP.» O álbum de origi­nais tem saída prevista para a segunda metade do ano, dez origi­nais compilados sob o nome The Sound of Space.
Depois de entrar na universidade – estudou Informática no Instituto Superior Técnico, em Lisboa –, Diogo decidiu que que­ria mais qualquer coisa da vida. «Fiz as malas e fui estudar Música para Londres. Achei que o meu valor pessoal não podia ser apenas aquilo que estudava, mas aquilo que me dava prazer.» Já tinha es­tudado guitarra no Hot Club, mas a Academy of Contemporary Music era outro desafio. «Todas as noites participava em jam ses­sions, participei em projetos interessantes – como um anúncio para a Sony em que 128 músicos tocavam uma nota cada um, for­mando uma sinfonia na reunião dos sons.» E foi um pouco desse mundo que quis trazer para Portugal.
O regresso, há três anos, não foi fácil. O dinheiro poupado foi gasto a comprar material, a sobrevivência ficou assegurada pelas aulas de Música que ainda dá. Mas continua a fazer o que gosta. E este ano é dele. RJR

nm1179_apostas02

LITERATURA | AFONSO REIS CABRAL
UMA APOSTA SEGURA
A escolha de Nelson de Matos, editor.
Quando Nelson de Matos – antigo homem forte das Publicações D. Quixote, que saiu para fundar uma editora com o seu nome em 2008 – escolheu Afonso de Reis Cabral para revelação de 2015, contestámos: o escritor de 24 anos foi uma grande surpresa, sim, mas em 2014. Afinal, foi o autor mais novo de sempre a ganhar o Prémio Leya com o seu primeiro romance, O Meu Ir­mão. Mas o editor argumentou: «O facto de ele ser trineto do Eça de Queirós e de ter recebido críticas duríssimas para um prémio que foi escrito sob anonimato fazem que as atenções estejam no próximo ano viradas para ele. Inevitavelmente estou curioso. Es­taríamos perdidos se não pudéssemos considerar um escritor de vinte e poucos anos uma revelação.» Seja.
Afonso diz que está a viver um sonho. «O perfil mais difícil de triunfar é o meu: o primeiro livro de um autor desconhecido.» O Meu Irmão conta a história de um irmão que decide tomar conta de outro, um quarentão com síndrome de Down, quando os pais de ambos morrem. «Não tive uma ideia e comecei a escrever, ti­ve mais um estado de espírito», diz Afonso durante um café no Chiado. «Já tinha tentado outros, mas não os levei a bom porto. E mesmo este texto demorou três anos a ser escrito. Fiz o melhor que conseguia e concorri a um prémio, independentemente de ganhá-lo ou não.»
O mundo dos livros não lhe é propriamente estranho – trabalha como editor júnior na Aletheia, escreve desde os nove, aos 15 publi­cou um compêndio de poesia, Compensação. «Não quero ser com­parado a Eça, por mais orgulho que tenha nesse passado. É uma he­rança que não renego, mas também não divulgo.» Sabe que a pres­são do segundo romance é tremenda e, apesar de já ter uma ideia no bolso, não a quer divulgar. «O meu objetivo para 2015 é o de ter um conceito sólido com que possa começar a trabalhar, e então apre­sentar outra obra em 2016.» Estaremos atentos. RJR

nm1179_apostas04

CIÊNCIA | BRUNO PEREIRA
CÉLULA A CÉLULA
A escolha de Manuel Sobrinho Simões, médico, professor, investigador e diretor do IPATIMUP.
Licenciado em Biologia pela Faculdade de Ciências do Porto e doutorado em Biomedicina, Bruno Pereira, 30 anos, foi navegando à vista pela ciência, tentando perceber o caminho a seguir, até que a paixão lhe indicou o norte: biologia molecular e genética. Investigador do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP) desde 2007, diz-se surpreendido pela escolha do professor Sobrinho Simões, uma das suas referências. «Sou novo de mais.» Bruno estuda os mecanismos de diferenciação celular associados ao cancro gástrico. Não é fácil traduzir em linguagem acessível, mas tenta-se: um cancro destes leva vinte a trinta anos a desenvolver-se e há alterações nos tecidos do estômago que aumentam a predisposição para ele. Uma das alterações é a transformação de células gástricas em intestinais. O que Bruno Pereira tem investigado é o que acontece na célula para se operar essa mutação, o que passa pelo estudo de um gene chamado CDX2 e que já o levou a uma nova descoberta: a proteína MEX3, que está agora no centro da sua investigação. Compreender o processo será um importante passo para a prevenir a evolução do cancro gástrico, mas Bruno deixa claro que este é um processo complexo e de longo prazo. «Apesar de toda a investigação ter como objetivo perceber o que se passa a nível celular para encontrar terapias dirigidas que atrasem a progressão da doença ou a curem, os resultados não valem por si, têm de ser cruzados com outras linhas de investigação e estão ainda numa fase inicial.» Alvo dos controversos cortes da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), é graças a um financiamento europeu que Bruno prossegue o seu trabalho. Ele, que já esteve fora do país e que considera fundamental, em ciência, sair para crescer, é cá que quer desenvolver o seu trabalho, assim tenha condições para o fazer. CP

nm1179_apostas03

SOLIDARIEDADE | BÁRBARA SILVA
CORAÇÕES AO ALTO
A escolha de Fernanda Freitas, fundadora do Fórum sobre os Direitos das Crianças e dos Jovens.
Estava cansada de ver gente com fome nas ruas do Por­to. Gente com frio, sem sonhos, enroscada em caixas de papelão a fazer de cama. Bárbara Silva percebeu que não ia descansar enquanto não devolvesse a alma àque­las pessoas. «Hoje ajudo, amanhã posso ter de ser aju­dada, este é o meu lema», confirma a humanista de 20 anos de Gondomar, estudante de Psicopedagogia Clínica na Uni­versidade Lusófona do Porto e auxiliar de ação direta na APECDA Porto – Associação de Pais para a Educação de Crianças Deficien­tes Auditivas. «Quem está na rua não precisa de piedade, precisa de ajuda e de esperança. Se mudarmos uma vida que seja, já valeu a pena a luta.» Foi com esta ideia que criou um grupo indepen­dente a 12 de setembro de 2012 – o Coração na Rua –, capaz de caminhar e organizar-se sozinho depois de ela perce­ber como funcionavam outros grupos de ajuda aos sem–abrigo em Lisboa e no Porto. «Começámos com quatro pessoas a distribuir leite e sandes. Hoje somos 150, saí­mos para seis pontos da cidade (São Bento, Câmara do Porto, Praça da República, Júlio Dinis, Jardim do Car­regal e Cerco do Porto) e tentamos que os nossos ami­gos da rua se alimentem pelo me­nos uma vez por dia, todos os dias.» Não aceitam dinheiro, para evitar desconfianças, nem roupa porque não têm onde guardar. Braços e ali­mentos, porém, são bem-vin­dos para preparar e distribuir as 550 refeições que disponibilizam. «A Bárbara é uma força da natu­reza na zona da Campanhã, onde eu moro. Acho que antes dela nun­ca me tinha apercebido do frio que faz no Porto», justifica Fernanda Freitas a escolha. A jovem garante que o amor que a alimenta a si é mais saboroso do que todos os repastos gourmet nos melhores restaurantes do mundo. AP

nm1179_apostas05

DESIGN | CAROLINA CANTANTE E CATARINA CARREIRAS
LEVAR A VIDA A CRIAR
A escolha de Guta Moura Guedes, diretora da ExperimentaDesign.
Se tivessem nascido para médicas ou engenheiras, Carolina Cantante e Catarina Carreiras fariam o trabalho com muito menos leveza. No atelier, po­dendo não se levar tão a sério porque nunca nin­guém morreu de mau design, arriscam e diver­tem-se como miúdas, duas cabeças a pensar para a entidade única que é o Studio AH-HA. «Isto é quase um one–man show, mas com duas women», aponta Catarina, 29 anos. «Toda a gente sabe que entre criativos e gestão o casamento nem sempre é feliz, mas neste caso pode dizer se so far so good», acrescenta Carolina, a mesma idade da sócia e amigas desde que se licenciaram em Design de Comunicação na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa. Guta Moura Guedes aplaude a paixão solta com que passam para imagens o que os clientes transmi­tem em palavras. «A abordagem holística que têm da imagem gráfica resulta em projetos criativos sem lugares-comuns.»
Ainda antes da faculdade,procuraram no estrangeiro visões mais abrangentes: Carolina partiu para a Índia, onde integrou um projeto de arquitetura social, e fez design gráfico em Ro­terdão, no atelier do arquiteto Rem Koolhass. Catarina seguiu para Itália com uma bolsa para o departamento de Design da Fabrica (a das campanhas de Toscani para a Benetton) e, mais tarde, trabalhou em Nova Iorque com os Karlssonwilker. De volta a Lisboa em 2011, a dupla floresceu. «Ainda existiam pou­cos ateliers especializados em projetos personalizados e de es­calas mais pequenas, que não comportavam os orçamentos das grandes agências.» O Studio AH-HA cresceu e hoje não re­ceia ser um atelier de sensibilidade feminina, que tenta sempre a estrada mais difícil. «Além disso, há dois projetos muito im­portantes e muito pessoais a chegar: um bebé para cada uma de nós, a provar que fazemos tudo aos pares», riem-se. A sim­biose é perfeita em todos os sentidos. AP

nm1179_apostas11

GASTRONOMIA | DAVID JESUS
O COZINHEIRO PERFECCIONISTA
A escolha de José Avillez, chef do restaurante Belcanto, duas estrelas Michelin.
O ano acaba bem para David Jesus. Em novembro, o chef executivo viu José Avillez conquistar a segun­da estrela Michelin no Belcanto, no corolário de um período árduo em que mudaram toda a organização do restaurante do Chiado. «Estávamos preparados. Passámos o ano de 2013 a aperfeiçoar procedimen­tos e a consolidar o modo de trabalhar. A estrela veio na altura cer­ta.» Para 2015, o objetivo é repetir a fórmula nos restantes cinco res­taurantes de Lisboa e Cascais explorados pelo grupo José Avillez – do qual David também é sócio. «Rigor, disciplina, concentração, pressão.» O segredo passa por aí, garante. Não se lembra bem do pri­meiro prato que preparou sozinho, mas acha que deverão ter sido ovos, mexidos ou estrelados, em casa dos pais. Agora é o peixe assa­do no forno o que gosta mais de preparar em casa. E a filha mais ve­lha, de 8 anos, já o ajuda. Filha de cozinheiro começa a saber cozi­nhar. Todos os dias, David Jesus leva os dois filhos à escola às 8h30. Regressa a casa por volta da uma da madrugada. A maior parte das 14 horas de trabalho são passadas na cozinha do Belcanto, onde o chef garante que os 30 a 35 almoços e 42 jantares que servem todos os dias chegam aos clientes no tempo certo, na temperatura ideal, numa verdadeira relojoaria de precisão da alta gastronomia. Com 36 anos, David trabalha no Belcanto desde 2007. Começou como cozinheiro de segunda num restaurante brasileiro, depois traba­lhou com o chef italiano Augusto Gemelli – «com quem aprendi que a cozinha precisa de tempo, para nos prepararmos e inovarmos, além do que dispensamos ao cliente» –, esteve seis anos no Pesta­na Palace e trabalhou no Tavares, onde ajudou José Avillez a con­quistar uma estrela. Subiu todos os patamares da profissão. Primei­ro aprendeu a organizar-se na cozinha, depois aperfeiçoou-se a ge­ri-la. Avillez reconhece-lhe o talento e a capacidade de trabalho. «É muito rigoroso, perfeccionista e dedicado. E sabe manter o sorriso de manhã à noite.» PF

nm1179_apostas09

TECNOLOGIA | JAIME JORGE
LIMPAR OS CÓDIGOS DO MUNDO
A escolha de Celso Martinho, cofundador do SAPO e diretor de internet e tecnologia do Meo.
A vida de Jaime Jorge esteve sempre cheia de servi­dores, redes informáticas, sistemas operativos. Aos 11 anos já programava e sabia que o seu futuro te­ria que ver com computadores. Queria ir para o Ins­tituto Superior Técnico, tirar primeiro a licencia­tura em Engenharia Informática e de Computado­res, mais tarde o mestrado. Aos 26, isso tudo feito e feliz por saber que a sua tese tinha uso fora do ambiente académico – a encontrar erros de software associados à duplicação de código –, espanta-se com os muitos momentos bons que tem vivido com a Codacy. As­sim chamou à plataforma online para análise, revisão do código informático e procura de falhas em empresas que desenvolvem software, criada oficialmente em 2013 com o sócio de todas as ho­ras, João Caxaria. «No concurso para startups do Web Summit, a Codacy venceu o BETA Award, destinado a empresas que já pas­saram a fase inicial e alcançaram algum investimento», elogia Celso Martinho, atento. Jaime reconhece o potencial da aplica­ção, a servir mais de três mil empresas em todo o mundo após os investimentos do Seedcamp londrino e dos fundos portugueses Espírito Santo Ventures e Faber Ventures: «Tal como lavamos pratos quando estamos a cozinhar, ao desenvolver software temos de “limpar a casa” para manter a qualidade do código, seja em lei­tura, em performance ou em complexidade», explica, adiantando que todo este processo de (in)eficiência custa muito dinheiro ao mundo. «O que o nosso produto faz é estar ligado à fonte de desen­volvimento de software para que, de cada vez que alguém faz uma linha de código, nós surjamos a avisar que deviam limpar aqui­lo antes de entrar em produção.» A trabalhar em Lisboa, sediada em Londres e com um pé em São Francisco, EUA – «a Meca do de­senvolvimento de software» –, a Codacy tem o sonho de vir a ana­lisar toda as alterações de código do mundo. Se é ambicioso? «Um bocadinho. Mas já estivemos mais longe.» AP

nm1179_apostas10

ARQUITETURA|FRANCISCO ADÃO DA FONSECA E PEDRO JERVELL
DESMISTIFICAR A ARQUITETURA
A escolha de Teresa Nunes da Ponte, arquiteta.
Para os portuenses Francisco, 36 anos, e Pedro, 38, a arquitetura foi uma opção circunstancial. O primeiro, filho e neto de dermatologistas, estava a decidido a seguir escultura, o que não aconteceu devido a um atraso na candidatura; Pedro, nascido numa família com tradição industrial enraizada na mecânica automóvel e transformação de materiais, desde jovem manifestara tendência para a reparação de pranchas de surf e a construção de rampas de skate. A vocação surgiria apenas nos últimos anos de estudo, Francisco em Delft, na Holanda, e Pedro na Architectural Association, em Londres.Amigos de infância, permaneceram então separados durante seis anos. Mas, «apesar de o Pedro ter estado num ensino altamente especultativo e eu numa faculdade técnica, percebemos que nos dedicáramos à mesma causa: rever a forma como se faz arquitetura».
São muito diferentes. Muito mesmo, dizem. «Tanto na forma de estar como de falar», até fisicamente. Francisco descreve: «Eu sou um berbere narigudo. O Pedro é um viking.» E conclui: «Mas quando pensamos estamos muito próximos.»
A parceria dura há dez anos. Em 2010, fundaram a SKREI, gerada no espoletar da crise imobiliária de 2008 a 2010, em pleno contraciclo, portanto, com a seguinte ideia mestra: reunir numa só atividade as principais disciplinas associadas à construção – arquitetura, engenharia, construção civil, investigação de materiais e arte –, dando corpo ao conceito «arquitetura integrada» e diluindo as distinções entre técnicos e artistas, projetistas e executantes, mestres e aprendizes, de maneira a criar uma nova coreografia para a arquitetura. O projeto merece referência a Teresa Nunes da Ponte, devido à sua vertente «inovadora». O recente convite para projetar a Adega de Lagares, do Grupo Esporão, é considerado pelos dois arquitetos como um dos mais gratificantes. Se bem que o ponto mais alto veio depois, «quando terminada a Adega de Lagares fomos surpreendidos com a encomenda de novos projetos». ATT

nm1179_apostas07

CINEMA | RODRIGO AREIAS
PLÁSTICO É FANTÁSTICO
A escolha de João Lopes, crítico de cinema.
João Lopes afirma-se desde logo como suspeito. O crí­tico de cinema trabalhou com Rodrigo Areias no Gui­marães 2012 – Capital Europeia da Cultura. Lopes to­mou conta da programação, Areias da produção de mais de 40 filmes. E isso permitiu um olhar atento: aos 36 anos, «o Rodrigo é um verdadeiro homem de cinema, com um gosto cinéfilo à moda antiga e uma admirável capacidade de organização e concretização». Projetos não lhe faltam, desde logo com a estreia da sua terceira longa-metra­gem, agendada para 2015. «Chamar-se-á Ornamento e Crime e a minha ideia é de fazer um film noir, sobre a história de um reali­zador que está a fazer um documentário por encomenda e é as­sassinado. Teoricamente, ia ser eu a fazer essa personagem, mas depois lá convenci o [realizador] Edgar Pêra a levar uns tiros.» Estão lá as personagens clássicas. O detetive (Vítor Correia), a sua companheira (Tânia Dinis) e a femme fatale que cria a rutura (interpretada pela atriz brasileira Djin Sganzerla). O filme é, co­mo não podia deixar de ser, rodado em Guimarães. Todos os dé­cors são em edifícios de Fernando Távora – a arquitetura é sem­pre uma personagem importantíssima nos filmes de Rodrigo. Os seus filmes têm um pendor plástico, nas suas palavras. Isso quer dizer que há um privilégio da composição sobre os atores. Nos outros projetos que têm em mãos: um documentário «mui­to alucinado» sobre Cristiano Ronaldo e outro que produziu so­bre a memória, a noção de espaço marca-lhe os planos. E o mais curioso de tudo é que será tudo rodado na cidade onde nasceu ele e nasceu o país. «É mais caro fazer as coisas fora das cidades, mas eu acredito no potencial da santa terrinha.» E ninguém po­de dizer que Rodrigo Areias não dá cartas. Tem no currículo, co­mo produtor da empresa Bando à Parte, dois filmes que vence­ram o Festival de Curtas de Vila do Conde (2013) e o Cinanima de Espinho (2014). Made in Minho, pois claro. RJR

nm1179_apostas01

AMBIENTE | ANA RITA ANTUNES
O FUTURO PASSA PELO CONSUMO SUSTENTÁVEL
A escolha de Francisco Ferreira, engenheiro do ambiente, professor e ativista da Quercus, associação que presidiu entre 1996 e 2001.
Com 18 anos, en­trou como voluntária para a Quercus porque ha­via um planeta todo para mudar e ali sentia que podia fazê-lo. Vinte anos depois, a engenheira do ambiente coordena uma área-cha­ve da associação ambientalista – o gru­po Energia e Alterações Climáticas – e é responsável pelo projeto Ecocasa, que há dez anos trabalha para sensibilizar os cida­dãos para um consumo mais racional da energia e dos recur­sos naturais. A aposta neste momento, e daí ter sido a esco­lha do companheiro de causa, Francisco Ferreira, é no con­sumo sustentável. «É toda uma mudança de mentalidades e de paradigma que está em causa, por isso o desafio é grande, mas não podemos continuar a consumir como se existissem dois planetas e meio, sobretudo nas sociedades ocidentais. E não é só uma questão ambiental, é social e política». E is­so faz-se como? Sensibilizando as populações e influencian­do as políticas. Têm sido estes os dois eixos centrais de atuação da Quercus e Ana Rita, 38 anos, considera que é por aí o cami­nho, ainda que reconheça que ainda há muita estrada para an­dar. Seja como for, para a ativista é o único caminho possível. «Se temos de ganhar a vida de alguma forma, que seja com al­go que nos apaixona. É um desafio diário, mas sinto que estou a contribuir para um mundo melhor e mais sustentável.» Para Ana Rita Antunes, 2015 será um ano fundamental nesta área também por outras razões: a nível internacional, a assinatura do Acordo de Paris «que não pode falhar»; a nível nacional, o inovador projeto ClimAdaPT.LOCAL, o primeiro projeto de adaptação às alterações climáticas a nível local, de que a Quer­cus através do grupo Energia e Alterações Climáticas, que coordena, é parceira. CP

nm1179_apostas08

MODA | PEDRO NETO
PERFORMANCE VANGUARDISTA
A escolha de Manuel Alves, designer de moda.
Tem apenas 19 anos e já Manuel Alves lhe ficou o no­me: «O Pedro Neto é muito criativo, gosto bastante das performances dele e vejo que, apesar de muito jo­vem, apresenta uma vanguarda muito bem constru­ída sob o ponto de vista formal.» O estilista firmado não poupa elogios e Pedro agradece. «Sinto-me mui­to honrado», afirma o jovem designer nascido em Santo Tirso, on­de vive. A família tem ligação à indústria da moda há já alguns anos, por isso foi interesse que nasceu cedo. «Cresci a observar a minha mãe a escolher a roupa e até o perfume que punha antes de sair de casa.» Mãe e gestora do negócio familiar, os Cabeleireiros Macarpe, onde o pai é um dos cabeleireiros. «Funcionam numa simbiose incrível», descreve o filho.
Em 2010, com 14 anos, Pedro entrou na Escola de Moda do Por­to (EMP). Três anos depois, no final do curso, a coleção cápsula apresentada foi selecionada para o Portugal Fashion, sob a alça­da da EMP. No estágio de oito meses que se seguiu, Pedro traba­lhou como designer na Zara, investindo forte no dossier que pre­tendia levar a concurso ao Espaço Bloom, uma plataforma para jovens designers criada no âmbito do Portugal Fashion. Seleciona­do em março de 2014, chegou e venceu. «Foi o ponto alto da minha carreira até ao momento. Tanto mais que o primeiro lugar deu-me a oportunidade de continuar nas próximas edições no espaço BLOOM com ajuda financeira.» Sete meses mais tarde, em outu­bro, apresentou a primeira coleção consistente, quinze looks ao to­do. É admirador do trabalho do português João Melo Costa e do colombiano Haider Ackermann. Selecionadas cores, materiais, formas, o processo criativo não tem seguimento certo. «Tenho sempre a necessidade de avançar e recuar nos processos», afirma. Para 2015, dois objetivos maiores: iniciar o processo de venda de peças ao público e implementar a marca nos mercados nacional e internacional. Quem sabe, vestir a atriz Tilda Swinton. ATT

nm1179_apostas06

ARTES PLÁSTICAS | SARA & ANDRÉ
TESTAR OS LIMITES DO MUNDO DA ARTE
A escolha de Ana Vidigal, artista plástica.
Sara nasceu em 1980, André em 1979, em Lisboa, onde vivem e trabalham. Preferem não revelar os apelidos. Estudaram, respetivamente, Realização Plástica do Espetáculo na Escola Superior de Teatro e Cinema, em Lisboa, e Artes Plásticas na Escola Superior de Arte e Design, nas Caldas da Rainha. Contam: «Conhecemo-nos de Lisboa, partilhávamos ainda adolescentes o mesmo grupo de amigos. Começámos a trabalhar juntos naturalmente, cada um de nós ajudava o outro nos seus projetos e trabalhos, até que ao fim de três ou quatro anos resolvemos assumir esta parceria e partilhar a autoria das nossas obras.» Foi em 2004. Parceria, sociedade Sara & André, assim, com «e» comercial, expõem regularmente desde 2006. Através do uso de vários meios e técnicas – pintura, fotografia, vídeo e performance–, o seu trabalho centra-se em questões como a «autoria, a apropriação e os mecanismos de fama» na arte contemporânea, somando crítica, humor e ironia. Na origem do trabalho está a vontade de participar no chamado «mundo da arte», testar os limites e a efetividade. »Tudo são influências para nós, mesmo as coisas que repudiamos podem ser transformadas e incorporadas no nosso trabalho», dizem. Claim to Famee Fundaçãoforam dos primeiros projetos. Neste último, colegas fazem obras sobre o casal. Em Exercício de Estilo, exposição que decorreu no MNAC – Museu de Arte Contemporânea do Chiado, em 2014, a dupla reinterpretou obras de Julião Sarmento. Até certo ponto «herdeiros» da arte pop, dadaísmo, arte concetual e crítica institucional, Sara &André mereceram a escolha de Ana Vidigal. «Comeram Julião Sarmento», aposto agora em novos «banquetes», diz a artista plástica. Para 2015, estão já agendadas duas individuais e uma intervenção no Museu Nacional de Arte Antiga. ATT