«A monarquia será o que os súbditos fizerem dela»

Fotografia: Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

Andrew Morton, biógrafo de Diana, traça o paralelo entre a vida desta e os desafios que se colocam às novas princesas da Europa, como Letizia Ortiz, sobre quem escreve no seu mais recente livro Ladies de Espanha. Especialista em assuntos da Casa Real britânica, debruçou-se, no seu último livro, sobre a monarquia espanhola, que vive o período mais negro desde que D. Juan Carlos subiu ao trono, em 1975. Hoje, o rei abdicou. O jornalista recomendava há uns tempos prudência e considerava que a decisão devia ser tomada quando a popularidade voltasse a estar em alta. Seja como for, para Andrew Morton «a monarquia será o que os súbditos fizerem dela.» E, no caso do país vizinho. Letizia pode ser o segredo. «Sobre os esbeltos ombros da neta de um taxista recaem o trono e o estilo futuros da Casa de Borbón», escreve Morton em Ladies de Espanha (Esfera dos Livros).

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Felipe e Letizia serão bons reis? Sobretudo ela, e refere-o no Ladies de Espanha, parece sempre em tensão.
_Ela é muito tensa, mas é bonita, articulada, inteligente. No entanto, como Diana, sabe que quando fala as pessoas comentam sobre os sapatos que usa. Toda a gente com quem falei sobre Felipe e Letizia para o livro me diz que ele está mais descontraído, que os discursos estão melhores, mais acutilantes. São uma boa equipa. O problema é sempre o elenco secundário, se virmos isto como uma companhia de teatro. Basta vermos o casal de ouro: Iñaki [Urdangarín] e Cristina. Ele enfrenta acusações, ela refugiou-se na Suíça. Toda a gente que conheço me diz que ela é completamente apaixonada por ele e que não ouve ninguém. É difícil dizer se a situação conduzirá a um divórcio. Eles já passaram o pior e a justiça em Espanha leva uma eternidade. Depois temos a infanta Helena, contente por estar na sombra. Portanto, é numa ateia, divorciada, antiga republicana, que reside o futuro do país.

É impossível que resulte?
_A classe política em Espanha não tem qualquer vontade que mude.

Quando as plebeias, que um dia serão rainhas, são mães, descontraem?
_Sim, porque já fizeram o seu trabalho: a sua tarefa é produzir um herdeiro. E também porque, no caso de Letizia, à medida que as raparigas crescem o interesse aumenta em torno delas. O que fazem, quem serão os seus namorados…

No livro, aconselha Kate Middleton a seguir o exemplo de Letizia. Porquê a princesa das Astúrias e não outra princesa europeia de origem plebeia?
_Ela é focada, inteligente. Há outras, claro. O historiador Andrew Roberts diz que a nova geração é mais preparada e as mulheres dominam o espetáculo [risos].

Este é o poder dos plebeus ou o poder das mulheres? Todas têm um papel muito mais relevante nos destinos da monarquia.
_Os destinos das monarquias são decididos pelas mulheres. Todos estão pendentes das suas aparições. De como se vestem, o que usam. Por isso, elas querem aparecer bonitas. E não queremos que ela falem do ambiente ou do que quer que seja. Isto dito, todo o poder está hoje em plebeias. Letizia em Espanha, Máxima na Holanda e Catherine na Inglaterra, a primeira plebeia em quatrocentos anos de história. É a invasão dos plebeus! Portanto, e voltando à pergunta sobre William e a sua vontade de ser «normal» e encarar ser rei como um «emprego», está nas nossas mãos porque somos nós que elevamos estes plebeus a esta categoria. Veja-se Catherine Middleton. Até há poucos anos era uma estudante universitária, agora entra numa sala e toda a gente começa a tremer [risos]… Não foram eles que mudaram, eles continuam na mesma, nós é que os investimos desse poder.

Outra das razões por que escolhem plebeias pode ter que ver com o facto de terem pouca preparação e sentirem necessidade de colmatar a falha casando com gente do mundo real.
_Não, nesta geração têm mais conhecimentos, todos foram à universidade, ao contrário da geração anterior, educada nos palácios reais. O que argumento no livro é o equilíbrio entre dever e amor. Carlos casou-se com Diana por dever – uma virgem, de origens aristocráticas – e Juan Carlos casou-se com uma princesa grega [hoje levam vidas separadas] e no espaço de uma geração são as plebeias que tomam conta dos palácios. O casamento de Juan Carlos e Sofia, em 1962, foi o último grande casamento entre casas reais. De resto, toda a família real britânica casou-se com plebeus. Exceto o príncipe Carlos. E sabemos como terminou…