A moda do padel

Quem joga garante que tem tanto de divertido como de viciante. E fácil de aprender, mesmo para quem nunca praticou despor­to. O padel é a «nova» moda dos jogos com raquete e pode jogar-se em família, entre ami­gos ou desconhecidos e até altas horas da noite. Nos últimos dois anos, os campos para a prática da modalidade, espécie de mistura entre o ténis o squash, têm-se multiplicado pelo país.

Cláudia Vieira é muitas vezes desafiada para jogar padel. Os amigos sabem que ela gosta da modalidade, até porque sempre foi uma apaixo­nada por ténis, de que é praticante regular. Quando experimentou o padel, ficou logo rendida. «É um desporto de equipa, mas mais descontraído», diz a atriz, modelo e apresentadora. «É ótimo para socializar. Como o campo é mais pequeno, ouvimo–nos todos muito bem. O ténis exige mui­to mais do ponto de vista físico e técni­co. E é mais competitivo. Mas o que im­porta é pormo-nos a mexer: trabalhar os músculos e o nosso coração. E o padel faz isso muito bem, com a vantagem de ser divertido.»

Nos últimos dois anos, o padel foi alvo de um boom quase difícil de explicar. O nú­mero de praticantes aumentou, o número de campos também. E agora? Será mais do que uma moda e continuará a crescer? Os responsáveis da Federação Portuguesa de Padel (FPP) garantem que sim e apontam a capacidade de retenção: 70 por cento de quem joga pela primeira vez quer repetir.

Trata-se de um desporto jogado a pares com raquetes e bolas próprias, mas com a pontuação igual à do ténis. O campo é re­tangular, dividido por uma rede a 88 cen­tímetros do solo, com relva sintética, al­catifa ou betão poroso, com dez metros de largura por vinte de comprimento. Nos topos e em parte das laterais existe uma superfície de vidro ou alvenaria, que os jogadores podem utilizar, dando efeitos tão loucos quanto imprevisíveis à bola e imprimindo, deste modo, uma grande dinâmica ao jogo.

 

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Rato atómico é como os companheiros de padel chamam a Vasco Palmeirim. Fotografia de Nuno Pinto Fernandes/Global Imagens

Vasco Palmeirim, animador das Ma­nhãs da Rádio Comercial, explica de ou­tra forma: «Imaginem um campo de té­nis mais pequeno, com as paredes de um campo de squash e as raquetas com que se joga na praia. Parece estranho? OK. Não é exatamente assim, mas garanto que é muito giro. E há quem jogue com a se­guinte regra: quem fizer uma dupla fal­ta, tem de pagar uma rodada de cerve­jas.» O humorista e apresentador é pa­delista e os companheiros de jogo já lhe colocaram até uma alcunha. «Chamam–me rato atómico, porque vou a todas as bolas», diz Vasco, que, apesar de ter cada vez mais trabalho, tenta guardar sempre um bocadinho das quartas-feiras para jo­gar no CNN/Padel São Bento, mesmo no centro de Lisboa. «Joguei ténis de com­petição até ir para a faculdade. O padel dá para matar o bichinho do ténis com que sempre fiquei. E com a vantagem de não ser preciso correr tanto.»

Para quem já jogou ou joga ténis, o pa­del é, de facto, um desporto muito ape­tecível. «É absolutamente viciante», ga­rante Tânia Couto, ex-tenista, número um nacional durante muitos anos, agora com 41 anos. «Mesmo quem nunca prati­cou qualquer desporto, vai aprender facil­mente e divertir-se. Dois toscos a jogar té­nis não tem graça nenhuma, mas quatro num campo de padel garanto que será um tempo bem passado.» Terminada a carrei­ra de tenista e depois de muitos anos ape­nas a ir ao ginásio para manter a forma físi­ca, Tânia foi convencida por umas amigas – quase toda a gente é levada por amigos – a experimentar o padel. «O meu marido ofereceu-me uma raquete como presente de aniversário, inscrevi-me numas aulas e agora já não passo sem jogar duas a três ve­zes por semana.»
Zeinal Bava, presidente executivo do grupo Oi e da PT Portugal, é outro aman­te deste desporto, que considera «ideal pa­ra toda a família». Os três filhos praticam, para «descansar do surf».

Manuel Soler, arquiteto espanhol res­ponsável pela All Padel, empresa que construiu e gere vários clubes da modali­dade em Portugal, reforça o facto de não ser preciso uma preparação física espe­cial. «Conheço gente com uma barriga grande que joga fenomenalmente», diz, referindo ainda a facilidades com que os jogadores podem falar e fazer-se ouvir en­tre si. Em Espanha, o único país da Euro­pa onde o padel está verdadeiramente se­dimentado, com mais de dois milhões de praticantes, «já há mais mulheres do que homens a jogar», diz Ricardo Oliveira, presidente da FPP.   Curiosamente, parte do sucesso da modalidade no país vizinho deve-se a… José María Aznar, presidente do Governo espanhol entre 1996 e 2004. De tanto ser visto na televisão e nas «revis­tas sociais» a jogar, a curiosidade junto do público aumentou.

A história do padel remonta aos finais do século XIX, quando passageiros de na­vios ingleses tentaram adaptar a práti­ca do ténis ao espaço a bordo, reduzindo a área de jogo e colocando telas em volta para a bola não ir parar dentro de água. Essa é, pelo menos, a versão mais divul­gada sobre as origens da modalidade. No início, terá sido conhecido como o ténis do alto mar, começando a ser praticado em terra apenas na década de 1920. Foi o mexicano Enrique Corcuera que, em 1969, definiu as dimensões do campo como as conhecemos hoje, bem como os regulamentos. Do México chegou, através de um amigo milionário, a Espanha e daí regressou de novo à América do Sul, mais concretamente à Argentina, que rapida­mente se tornou a maior potência mun­dial da modalidade. É do país das Pampas que vêm os jogadores que mais brilham no World Padel Tour, circuito profissional que, em outubro passado, passou por Lis­boa e já teve duplas portuguesas no qua­dro principal, ainda que sem irem além da primeira ronda.

A Federação Internacional de Padel conta atualmente com 21 países associa­dos, entre os quais Portugal, através da Fe­deração Portuguesa de Ténis (FPT), que é oficialmente quem tutela a modalidade, apesar da existência, desde 2012, da FPP, que a primeira apenas reconhece como empresa privada organizadora de eventos da modalidade. De acordo com dados fornecidos pelas duas federações, estima-se que existam em Portugal de cinco a seis mil pratican­tes na área de Lisboa e 1500 no resto do pa­ís. Quanto a campos, já vão além da cente­na, a maioria também na capital, distribu­ídos por cerca de sessenta clubes. «O padel pegou primeiro em Lisboa, mas daqui a dois ou trêas anos vai existir bastante no Norte também», garante Ricardo Oliveira, presidente da FPP.

Ana Catarina Nogueira, outra antiga te­nista de topo que agora se dedica ao padel – é tetracampeã nacional e uma das melho­res do ranking nacional, com várias presen­ças em europeus, mundiais e provas WPT –, vive no Porto e conhece bem essa realida­de. «Aqui só ainda temos três campos cober­tos», diz a padelista e professora. Os courts ao ar livre também ainda não abundam, estan­do previsto, no entanto, para breve, um no­vo clube, com cinco campos, na zona de Ma­tosinhos. «Será uma grande ajuda», diz, no­meando a existência de campos também em Aveiro, Guimarães, Barcelos, Braga.

Um aspeto relevante no desenvolvi­mento da modalidade está no facto de em termos de negócio, para a iniciativa priva­da, «ser bastante lucrativo, especialmen­te comparando-o com ténis, pois na mes­ma área onde se constrói um campo de té­nis podem fazer-se até três de padel, onde se colocam seis pessoas a jogar ao mesmo tempo», diz Ricardo Oliveira. «É só fazer as contas.»

 

Ricardo Oliveira é o presidente da Federação Portuguesa de Padel. Fotografia de Leonardo Negrão/Global Imagens
Ricardo Oliveira é o presidente da Federação Portuguesa de Padel. Fotografia de Leonardo Negrão/Global Imagens

Até ao final do ano, a FPP irá desenvol­ver ações de divulgação em cinco cidades do país, de norte a sul. «Vamos ter campos amovíveis com eventos de demonstração em locais públicos», diz Ricardo Oliveira, sobre um desporto que, no nosso país, ain­da está associado às elites, tal como o té­nis ou o golfe. «Admito que não é muito ba­rato, mas não queremos que seja visto co­mo de elite», diz o dirigente [ver caixa]. Em Espanha, a grande oferta baixou os preços dos alugueres de campos e existe até um sem-número de infraestruturas munici­pais. «Esse poderá ser um dos caminhos.» Ricardo Oliveira sonha um dia ver o padel no programa dos Jogos Olímpicos. E sobre a possibilidade de vir a ser, em Portugal, apenas uma febre passageira, como acon­teceu com o squash há uns anos, o empre­sário defende: «Só o seria se não existisse uma entidade preocupada em dar forma­ção, organizar provas e divulgar o padel. Além disso, tem a vantagem de não ser tão violento fisicamente como o squash e po­der ser jogado tanto ao ar livre como em campos cobertos.»

As redes sociais, em especial o Face­book, têm sido um dos grandes motores de desenvolvimento da modalidade em Portugal. Proliferam os grupos, onde os padelistas vão à procura de parceiros para uma partida ou ficam a par da organização de torneios. Mensagens como «Alguém para um jogo de principiantes na quarta-feira ao fim da tarde na zona de Oeiras//Carcavelos?» são frequentes em grupos criados no Facebook. Ou «Alguma dupla de nível 3 alinha hoje numa partida no In­door Padel Center das 19h00 as 20h30?».

Uma vez que são sempre precisos qua­tro jogadores e nem sempre é fácil coinci­dir agenda com amigos ou conhecidos, a internet é a solução ideal para não deixar de jogar e, muito provavelmente, fazer, por arrasto, novas amizades. Além disso, fazer reservas online para alugar campo já é também uma prática corrente. Não ter com quem fazer par não é, pois, desculpa, mesmo para quem nunca jogou, dado que qualquer clube organiza jogos/aulas entre atletas acabadinhos de chegar. E também costumam emprestar ou alugar material.

«O padel é, por si mesmo, uma dan­ça a pares, mas com raquete», diz Bruno Aguiar, jogador do top 10 nacional, trei­nador, responsável pela formação, arbi­tragem e padel jovem da FPP, diretor téc­nico do CNN/Padel São Bento. E assis­tente de bordo da TAP, como profissão. «A maior dificuldade que se tem, quan­do se começa a praticar, é a coordenação a dois e a utilização das paredes laterais. Depois, tornam-se uma vantagem», diz, sobre um jogo que é tático, que é técni­co e em que, num nível mais avançado, se «trabalha muito a velocidade, a capacida­de de explosão, a disponibilidade mental e a coordenação motora».

 

Bruno Aguiar, assistente de bordo da TAP, é treinador de padel e jogador do top 10. Fotografia de Leonardo Negrão/Global Imagens
Bruno Aguiar, assistente de bordo da TAP, é treinador de padel e jogador do top 10. Fotografia de Leonardo Negrão/Global Imagens

BENEFÍCIOS
» É uma atividade física moderada
» Não tem grande exigência técnica
» Aumenta a condição física geral
» Fortalece membros superiores e inferiores
» Proporciona um estilo de vida saudável
» É um desporto muito social, propício ao convívio
» Por ser jogado por toda a família ao mesmo tempo
» Os níveis competitivos podem misturar-se

QUANTO CUSTA?
O aluguer de um campo varia entre quatro e oito euros por hora, mas estes são apenas preços de referência. Há passes de livre-trânsito, que podem ir dos cinquenta aos oitenta euros men­sais, e uma infinidade de packs, depen­dendo da hora do dia, das idas sema­nais, do número de inscrições conjun­tas, entre outros critérios, que tornam o aluguer dos campos mais económico. Uma aula individual de uma hora ronda trinta euros, mas quantos mais alunos de uma vez, mais barato fica. Muitos clubes alugam equipamento, mas, se quiser, a partir de vinte euros já pode comprar uma raquete (algumas cus­tam até trezentos euros, diferencian­do-se pelo nível do jogador). Uma caixa de quatro bolas oscila de três a cinco euros.

ONDE JOGAR
GRANDE LISBOA
Padel Campo Grande
Clube de Padel – Docas de Santo Amaro, Alcântara
Clube VII – Parque Eduardo VII
Lisboa Racket Centre – Alvalade
CIF Lisboa – Restelo
Ginásio Alto do Duque – Restelo
Clube de Ténis do Estoril
Health and Racket Club – Quinta da Marinha
Valténis Country Club – Penha Longa
Indoor Padel Center – Carnaxide
Ginásio Kalorias – Linda-a-Velha
Indoor 6 Clube Padel de Cascais – Abóboda
Hotel Quinta da Vigia – Cascais
Clube de Ténis de Carcavelos
GRANDE PORTO
Top-Padel – Clube Fluvial Portuense
Complexo Desportivo Monte Aventino
Park Health Club – Maia
ZONA NORTE
Naturena – Barcelos
ZONA CENTRO
Clube Escola de Ténis de Leiria
Clube de Ténis e Padel Bom Sucesso – Óbidos
ZONA SUL
Zmar Eco Campo Resort – Zambujeira do Mar – Odemira
Martinhal Beach Resort & Hotel – Sagres
Padel Clube de Vila Real Santo António
MADEIRA
Clube Desportivo Nacional – Funchal
Ferraz Ténis Clube – Funchal
Smash Ténis Club – Funchal