Movida à moda antiga

José Mota/Global Imagens

Sem menosprezar os novos lugares da moda, eis uma homenagem justa e nostálgica a um espaço com história.

Hoje em dia (em boa verdade é mais hoje em noite) quando se quer falar da “Baixa” do Porto, ou mais concretamente da nova movida da “Baixa”, estamos a falar de uma área que se tem vindo a alargar sucessivamente, mas que ainda se vai compreendendo entre a Rua de Cedofeita de um lado e a Rua de Passos Manuel do outro. Sendo que o miolo mais denso vagueia entre os Clérigos e a Praça Filipa de Lencastre, com a expressão máxima inicial nas ruas da Galeria de Paris e Cândido dos Reis.

Para muitos dos novos frequentadores desta novíssima “Baixa” do Porto, a Ribeira é já uma recordação antiga e tudo o que vai da Rua Passos Manuel até á Rua de Santos Pousada, faz parte de uma espécie de uma pré-história. Neste conceito de movida tem agora mais relevância o bar do que a discoteca ou o restaurante. Em boa verdade o que está mesmo a dar são essa espécie de espaços multiusos em que se pode beber, comer e até “abanar o capacete”, desde a hora da janta até à hora da deita.

Sem menosprezar esta nova “Baixa”, de que aliás sou frequentador cada vez mais assíduo, ficaria de mal com a minha consciência, e sobretudo com o meu passado, se deitasse para trás das costas alguns dos “templos” que ainda resistem, naquilo que eu chamaria a boa velha “Baixa”.

Chamo hoje à colação boa velha Casa Nanda, que fez as delícias de muito boa gente no passado, mas continua hoje, firma e hirta, a saciar o apetite de quem faz do bom gosto e da boa mesa um dos índices da sua qualidade de vida. Claro que na Casa Nanda, ninguém pode esperar que o sirvam como hoje é moda em muitos locais. O bife de cebolada não é um bocadinho de carne, “meio amaricada” com uma cebolinha enfiada num palito e uma flor ao dependuro. É carne que se veja, com molho que se cheira e cebola que nos enfarta. Escusado será dizer que ninguém na Casa Nanda consegue pedir um bife ou outro prato, sem que antes o sr Canelas ou a D. Nanda nos encham a mesa com uma selecção de gastronomia nacional, que em vez de clientes normais à espera de um almoço normal, nos fazem parecer críticos de renome mundial num concurso de gastronomia caseira.

Como dizia o velhinho Américo Tomás, a última vez que lá fui, foi a primeira vez que lá estive, desde a última vez que lá tinha ido. Isto é só para dizer que entre a última e a penúltima vez que lá estive, passaram alguns anos, para mal dos meus pecados, mas não para mal da Casa Nanda, que continua hoje como outrora a saber honrar os pergaminhos da boa comida caseira portuense e a justificar os repetidos elogios e encómios com que o meu amigo e ilustre gastrónomo Miguel Esteves Cardoso a distingue consecutivamente.

Bolinhos de bacalhau com arroz do mesmo (sendo que tanto os bolinhos como o arroz, têm mesmo bacalhau), presunto fatiado daquele que nunca viu plástico à volta, tomate coração de boi com azeite e sal genuínos, umas tripinhas de comer e chorar por mais que também não podiam faltar, uma petinga e um carapau fritos no ponto certo: dou um doce a quem for capaz de responder à pergunta com que acabo a crónica de hoje. Quando a seguir a tudo isto, aterrou finalmente na mesa o arroz de berbigão com uns filetes de pescada que eu tinha pedido, comi ou não comi?

RESTAURANTE CASA Nanda Rua da Alegria 394, 4000 PORTO. Telefone: 225370575

O LUGAR ***

O SERVIÇO ****

A COMIDA *****