Já marcou a sua cidade hoje?

Notícias Magazine

Hoje havia de ser um dia importantíssimo. Vamos votar e escolher os presidentes de câmara e de juntas de freguesia que governarão as nossas cidades durante os próximos quatro anos. As cidades onde vivemos. As cidades que nos tornam felizes ou infelizes. As cidades que nos animam ou deprimem. As cidades onde se define a nossa economia – nas pequenas decisões de cada um de nós que a determinam e não nas grandes opções do plano. As cidades onde as nossas crianças se vão tornar homens melhores ou piores. As cidades onde vivemos, repito. Já perceberam?

E, no entanto, estas eleições parecem um bocejo. Com exceção do freak show que são os cartazes a que todos temos acesso através das redes sociais, de uma ou outra figura caricata que chama a atenção, o que é essencial na vida das cidades passou ao lado desta campanha. E as eleições, essas, serviram mais para tirar ilações nacionais nestes tempos difíceis que vivemos. Em 2001, António Guterres levou os efeitos nacionais das eleições locais ao extremo, demitindo-se de primeiro-ministro depois de uma derrota do PS, que perdeu as câmaras de Lisboa e do Porto para o PSD. Este ano o efeito foi potenciado com a ajuda da Comissão Nacional de Eleições, que, ao impor aos órgãos de comunicação social regras de cobertura inexequíveis, centrou as atenções mediáticas nos líderes dos partidos. Precisamente aqueles que não devíamos querer ouvir nesta altura.

Esta matemática nacional é causa e efeito do nosso centralismo. Portugal, país governado a partir do Terreiro do Paço desde o século xvi, há quase nove séculos com coroa e fronteiras definidas – salvo alguns sobressaltos sem grandes efeitos – relegou o governo das suas cidades para gente cuja única ideia política era obedecer aos de cima e agradar aos de baixo. Ah, e continuar no seu lugar. O modelo continua a vigorar, mas a verdade é que o centralismo não é uma vida de um só sentido. Um povo que se deixa governar desta maneira é um povo que não quer ser governado de forma diferente. Deixar-se governar significa, também, não querer tomar em mãos as rédeas do seu futuro.

É o mesmo que faz gente que tapa janelas e varandas com vidro e alumínio: está-se nas tintas para os vizinhos. E quem diz vizinhos diz comunidade, e quem diz comunidade diz coisa comum. É ali mesmo, entre a nossa casa e a nossa rua, que começa a democracia. Onde somos mais importantes do que o presidente da Junta, da Câmara, ou da Nação. É o que provam os exemplos de que falamos no tema de capa desta edição. Pessoas que tomaram em mãos o destino das cidades onde moram e melhoraram o bem-estar comum. E, já agora, que pela frente encontraram estruturas autárquicas que entenderam que a união faz a força e que, ao nível local, poder partilhado é poder aumentado. Só assim, como diz o investigador Filipe Teles em entrevista, as cidades podem ser lugares melhores para viver.

Do consumo à indústria – a cidade é sempre o ADN das nossas comunidades. Isso explica bem António Matias Lopes, o gestor de centros comerciais que trata por tu cidades do mundo inteiro e que explica como uma cidade bem gerida pode fazer a diferença à economia de um país. A cidade é o habitat onde a vida humana contemporânea acontece. E é, por isso mesmo, um organismo vivo, animado pela alma de quem o habita. Quando dizemos que uma cidade tem um estilo, um ambiente, uma vida, não estamos a ser animistas. Estamos a ser realistas. Claro que as cidades são também definidas por coisas da natureza como localizações geográficas e climáticas. Mas são as pessoas que as marcam. Quatro anos pode ser tanto e tão pouco tempo, numa cidade. Pode-se mudar uma cidade, num mandato. Para bem ou para mal.

[29-09-2013]